‘Criar padrões para o ensino é a única maneira de garantir igualdade’

Michael Cohen, presidente da organização que criou os padrões curriculares americanos, afirma que maioria dos Estados adotou padrões após incentivos financeiros

Há três anos os Estados Unidos colocaram em prática uma revolução no ensino básico. Após receberem incentivos financeiros do governo do presidente Barack Obama, quase todos os Estados do país implementaram uma reforma das suas bases curriculares, o que padronizou o ensino no país. Hoje crianças, pais e professores sabem exatamente o que se espera deles em 46 unidades federativas do país – a exceção fica por conta de cinco Estados que não aderiram à padronização: Alaska, Minnesota, Virginia, Texas e Nebraska.

Capitaneada pela Achieve, uma organização sem fins lucrativos, após a constatação de que os jovens americanos chegavam despreparados à universidade, o Common Core State Standards foi elaborado sem a participação do governo federal e com base em cinco pilares: direitos civis, transparência para pais, alunos e professores, concisão do conteúdo, competitividade para os estudantes no mercado global e colaboração entre os profissionais de educação. “A Constituição garante educação igual para todas as crianças, e criar padrões nacionais é a única maneira de atingir essa igualdade”, explicou Michael Cohen, presidente da Achieve desde 2003, em entrevista ao Estado.

No Brasil, cada Estado e município tem autonomia para definir seu próprio currículo. No entanto, o debate sobre padrões curriculares nacionais ganhou força por aqui nos últimos cinco anos e o tema das bases curriculares definitivamente entrou na agenda do País. Confira a seguir os principais trechos da entrevista com Michael Coehn.

Qual a importância de criar padrões curriculares para a educação básica?

Cohen – Acredito que seja importante por diversos motivos. Primeiramente, porque a Constituição garante educação igual para todas as crianças, e criar padrões nacionais é uma maneira de atingir essa igualdade. Padrões oferecem uma definição de qualidade que é importante. Além disso, nos Estados Unidos nós passamos de 50 padrões curriculares diferentes para apenas um. Quando você se propõe a criar um que será adotado nacionalmente, consegue atrair os melhores recursos intelectuais do país, as melhores ideias para criar algo com muita qualidade. Então o que temos hoje é significativamente melhor do que o que os Estados tinham antes.

Na prática, qual a diferença entre padrões curriculares estabelecidos pelos Estados e padrões curriculares nacionais?

Cohen – No Estados Unidos, há 20 anos, os Estados começaram a desenvolver seus padrões curriculares com diferentes expectativas, pois não havia um consenso sobre como deveria ser a preparação dos estudantes. Agora nós temos um padrão comum. Não importa em que Estado você esteja, as expectativas de aprendizagem são as mesmas. Se a sua família se muda com frequência, se você é um militar que tem que se mudar para servir ao país, por exemplo, você pode ter certeza de que o seu filho vai passar pelo mesmo processo de aprendizagem.

Como a população em geral recebeu o Common Core?

Cohen – Em geral, positivamente. Primeiro porque, se você fizer pesquisas e consultar pais, pagadores de impostos ou qualquer pessoa sobre se o que se espera dos alunos em matemática e inglês deve ser o mesmo em todos os Estados ou se deve variar de New Hampshire para Nova York, a resposta será “deve ser o mesmo em todos os lugares”. Então, sob esse ponto de vista, a ideia foi muito bem recebida. Mas pesquisas recentes mostram que a maioria dos pais e dos eleitores não conhece o Common Core, não sabe exatamente do que se trata.

E os professores?

Cohen – Quando eles leem os padrões e descobrem o que se espera que eles ensinem e o que se espera que as crianças aprendam, eles respondem muito positivamente. É justamente o que eles acreditavam que fariam quando decidiram ser professores. Então temos uma resposta positiva dos professores também. É claro que existem críticos, mas a maioria recebeu o Common Core muito bem.

Por que apenas Inglês e Matemática?

Cohen – Por muitas razões. Uma delas é porque essas são as matérias que preparam o aluno para todas as outras, são disciplinas chave. Outra razão é que outras disciplinas são muito controversas. História, por exemplo, é um tema que gera um debate sem fim nos Estados Unidos. Estamos trabalhando para estabelecer um padrão curricular de Ciências, mas também é uma disciplina difícil, porque temas como o aquecimento global são muito polêmicos. Então, além da grande importância de Matemática e Inglês, podemos dizer que são disciplinas menos controversas. Tentamos ser bem sucedidos em algo antes de tentar fazer tudo de uma vez. O terceiro motivo é que procuramos alinhar com os Estados o que nossos alunos precisam saber em Matemática e Inglês para que possam ir bem na universidade, porque verificamos que essas eram as principais falhas na formação dos jovens.

Após o desenvolvimento, como foram as negociações para implementar o Common Core?

Cohen – Levamos um ano para desenvolver os padrões. Depois disso, cada Estado decidiu se o adotaria ou não. Nos primeiros três meses, 40 Estados já adotaram o Common Core, em parte porque já estavam envolvidos no processo, mas também porque o governo federal deu incentivos fiscais para quem o fizesse. O governo federal lançou um programa chamado Race to the Top que dispunha de US$ 5 bilhões para a educação. Um dos pré-requisitos para que esse dinheiro chegasse aos Estados era justamente que eles adotassem o Common Core. Então, certamente isso ajudou a agilizar o processo. Já a implementação propriamente dita vai dos documentos até mudanças nas salas de aula e é um processo mais longo. Já se passaram três anos e acredito que precisamos de mais três para que nós realmente percebamos mudanças nas salas de aulas e na maneira de ensinar.

Por que os Estados precisaram desse incentivo financeiro?

Cohen – Não tenho certeza se eles realmente precisavam. Foi uma ideia da administração Obama para melhorar a educação no país. Eles analisaram o que seria importante e verificaram que a ajuda aos Estados seria e resolveram distribuir fundos para apoiar a adoção do Common Core. Foi uma decisão do governo federal, ainda não era parte do plano quando os Estados se dispuseram a desenvolver os padrões curriculares. Mas o certo é que, sem esse incentivo, não teríamos conseguido o que conseguimos em três meses. No entanto, acho que o mesmo número de Estados acabaria adotando no fim, então acho que o incentivo fiscal não é imprescindível. Mas, se você é governador de um Estado e tem a oportunidade de conseguir US$ 700 milhões que não estavam no Orçamento, certamente você vai tentar conseguir. Se, para conseguir o dinheiro, você tiver de adotar padrões curriculares, provavelmente você vai fazer isso.

Que tipo de dificuldade vocês encontraram durante o processo?

Cohen – Havia uma organização política que era contra o Common Core. O Tea Party decidiu se opor ao projeto, e eles são muito influentes. Eles trabalharam para que alguns Estados abandonassem os padrões. Isso atrasou um pouco as coisas, embora eles não tenham sido bem sucedidos em lugar nenhum, mas é uma batalha que ainda estamos travando. Há também alguns Estados onde a implementação envolve não apenas os padrões curriculares, mas também alguns testes e o uso dos resultados desses testes para avaliar a performance dos professores. Em muitos lugares, os professores não são muito entusiastas dessas avaliações, então há uma certa resistência a isso, o que torna a implementação do projeto um pouco mais difícil.

No Brasil, nós temos um grande debate em torno do Enem, o exame que os estudantes fazem ao final do ensino médio. Muitos críticos alegam que ele é uma “camisa de força”, porque as escolas ficam presas ao conteúdo que é pedido na prova. Vocês têm esse tipo de problema?

Cohen – Sim. Nós temos uma prova que é aplicada todos os anos, no final do ano. Se os alunos forem mal na prova, algo acontece. A escola pode ter de fazer alguma reforma, o diretor pode ser demitido e os professores, substituídos. E isso significa que, em muitos casos, os professores ensinam para a prova, tentando descobrir o que será pedido, que tipo de pergunta, e treinando os alunos para responder a um tipo determinado de questão. Mas nós fizemos um esforço muito grande, que envolveu 20 Estados, para desenvolver um novo teste. A ideia é que os testes reflitam o que está nos padrões, e não o contrário.

Como isso foi feito?

Cohen – Vou dar o exemplo de Matemática. Havia uma série de tópicos, cerca de 30, 35, que podiam cair na prova, e os professores tentavam ensinar tudo aos alunos, o que era muito difícil. Na nova prova, nós diminuímos os tópicos para 15. E, desses 15, há apenas quatro ou cinco por ano que são realmente importantes. Cerca de 80% das questão são sobre esses tópicos principais e as outras 20%, sobre os outros. A mensagem para os professores é de que eles não têm de tentar ensinar tudo, que eles têm de focar no conteúdo que é mais importante. Isso torna a vida dos professores mais fácil. O teste é elaborado de uma maneira que permite ao professor focar no que é realmente importante. Então, ao contrário de o teste moldar o conteúdo, a ideia é que aconteça o contrário. É uma experiência completamente diferente.

Os professores receberam algum tipo de treinamento para aplicar o Common Core?

Cohen – Sim, mas não foi um treinamento em escala nacional. Isso depende muito do Estado e do distrito. Mas, para trabalhar com crianças e adolescentes, não basta ir a um workshop um dia depois da escola e aí você vai estar pronto para uma mudança. Um treinamento como esse demanda tempo. Então é um treinamento que ainda está acontecendo e que deve continuar acontecendo.

Alguns críticos dizem que padrões curriculares podem limitar o trabalho do professor. Como o senhor responderia a isso?

Cohen – Padrões não são a mesma coisa que prática. Vou dar um exemplo da medicina. Há procedimentos e protocolos para fazer diagnósticos e tratar as doenças, e eu não escuto muitas reclamações sobre médicos sendo impedidos de ser criativos por causa disso. É o que se espera de profissionais. Então é claro que impõem alguns limites, mas, por outro lado, há muitas maneiras diferentes de ser criativo. Os padrões dão apenas um direcionamento do que deve ser ensinado, mas como isso será feito, que perguntas serão feitas para os alunos, que livros eles terão de ler, se eles vão trabalhar individualmente ou em grupo, é o professor quem vai decidir. Ninguém determina como isso será feito. Nos Estados Unidos, nós temos padrões e avaliações desde 1990. E, desde então, nunca ouvi alguém dizendo que não há inovação e criatividade nas escolas.

 

Os Estados Unidos, assim como o Brasil, são um país muito grande e têm uma série de diferenças culturais e econômicas entre os Estados. Isso foi um problema?

Cohen – Foi um desafio. Não temos tantas diferenças sociais e educacionais como o Brasil, mas há muitas pessoas vivendo em comunidades pobres no Mississippi e eles não tiveram as mesmas oportunidades que as crianças que vivem nos subúrbios de Boston. Também temos diferenças. Então, quando há padrões, certamente é mais difícil para o aluno do Mississippi. Mas, por outro lado, nos Estados Unidos pelo menos, quem quer chegar à classe média, aquilo que nós conhecemos como “american dream”, vai precisar estar bem preparado. O mundo é assim. Então as crianças do Mississippi precisam da mesma preparação, pelo menos nas principais disciplinas, que as crianças de Boston. A diferença é que os alunos do Mississippi vão ter de esforçar mais para alcançar o mesmo desempenho. Então claro que é difícil, principalmente porque há pessoas que acreditam que alguns alunos simplesmente não conseguem atingir determinado desempenho, mas a verdade é que com altas expectativas e o apoio adequado, todos conseguem chegar lá.

Como a tecnologia entra no Common Core?

Cohen – Nós realmente pretendemos que os estudantes sejam capazes de usar a tecnologia para aprender e se expressar, mas as particularidades da tecnologia parecem mudar a cada dois ou três meses. Então não podemos dizer que queremos que os estudantes estejam aptos a usar iPads ou tablets, porque em dois anos não sabemos se eles ainda vão existir. O que pretendemos é que eles estejam aptos a usar a mídia digital, o que estiver sendo usado no momento, e que eles sejam capazes de produzir outros tipos de apresentações, de usar a tecnologia para se comunicar e expressar as suas ideias.

 

Marina Azaredo – O Estado de S. Paulo

 

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