O novo ministro

Nos últimos 20 anos, apenas dois titulares do MEC conseguiram permanecer no cargo tempo suficiente para deixar um legado

Após a saída intempestiva de Cid Gomes do MEC, Dilma prometeu indicar rapidamente o novo ministro da área. Em suas palavras, será “uma pessoa boa para a educação”, que não seja “desse ou daquele partido”. Seja lá o que isso signifique, a escolha do novo gestor deveria considerar o histórico recente de sucessos e fracassos no cargo. Nos últimos 20 anos, sete ministros se revezaram no posto. Apenas dois tiveram tempo suficiente para deixar algum legado: Paulo Renato Souza e Fernando Haddad.

Paulo Renato, já falecido, foi o único ministro da pasta nos oitos anos do governo Fernando Henrique. Criou um fundo que redistribuiu recursos da educação de acordo com o número de alunos do ensino fundamental (o Fundef). Ampliou significativamente as matrículas no ensino superior privado, concebeu instrumentos de avaliação da educação básica e superior, e implementou um programa de avaliação de livros didáticos. Ele e sua equipe ainda tomaram uma decisão corajosa: fizeram o Brasil se tornar parte do Pisa, exame internacional da OCDE, mesmo sabendo que, na comparação com nações mais ricas, daríamos vexame.

Fernando Haddad foi o terceiro ministro de Lula, e permaneceu no cargo por seis anos. Em sua gestão, todas as escolas e redes públicas passaram a ter metas e a ser avaliadas pelo Ideb, indicador de qualidade do ensino que leva em conta tanto o aprendizado quanto a aprovação dos alunos. Médias de escolas privadas pela primeira vez foram divulgadas no Enem, exame que foi ampliado e reestruturado. Foi Haddad também quem criou o ProUni. Ainda expandiu o Fundef (que passou a se chamar Fundeb) para toda a educação básica, ampliando de forma expressiva seus recursos.

Nenhum dos dois foi unanimidade, e também tiveram seus erros. Porém, gostando ou não das ações implementadas por eles, são políticas que estão aí até hoje.

O mesmo não se pode dizer dos outros cinco ministros do período. Cristovam Buarque, ex-governador de Brasília e educador respeitado, durou pouco mais de um ano. Foi demitido pelo telefone pelo então presidente Lula. Seu sucessor, Tarso Genro, era um peixe fora d’água. Entrou com a promessa de fazer uma grande reforma universitária, que, ao final, não passou de um arremedo de regras sem grande impacto. Depois de Haddad, assumiu Aloizio Mercadante. Encantado com novas tecnologias, começou seu mandato prometendo distribuir tablets para alunos e professores. A ação deu em nada. Ao final, pouco falava de ensino. Já era o responsável pela articulação política do governo, mesmo sentado na cadeira de ministro da Educação.

Em seguida veio José Henrique Paim, hoje cotado para voltar ao MEC. Em seu favor, registre-se que, sabendo ter apenas nove meses no cargo, resistiu à tentação de querer inventar a roda, tocando adiante as políticas já em curso. O último da lista foi Cid Gomes. Chegou com a expectativa de repetir no país os bons resultados de Sobral, mas caiu na semana passada ao comprar com o Congresso uma briga que nada tinha a ver com os desafios da educação.

Paulo Renato e Fernando Haddad tinham uma característica em comum: militavam em seus respectivos partidos (PSDB e PT), mas não eram políticos tradicionais. O tucano havia sido secretário de Educação em São Paulo e reitor da Unicamp, enquanto Haddad, um quadro da USP, fez parte da gestão de Marta Suplicy na prefeitura paulistana. Somente se candidataram a um cargo público depois de saírem do MEC. E, coincidência ou não, suas gestões começaram a se desgastar no momento em que decidiram se aventurar na política tradicional.

Já tivemos no Brasil bons ministros de áreas técnicas que eram políticos tradicionais. E também já houve nomes considerados técnicos que fracassaram. Mas, na educação, a história recente indica que misturar política partidária com os desafios da pasta é sempre uma péssima escolha.

Antônio Goes – O Globo