Instituto da Unicamp aprova cota racial na pós-graduação

A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) decidiu adotar pela primeira vez em sua história um sistema de cotas étnico-raciais. A medida, que ainda precisa de aval da reitoria, será válida para cursos de pós-graduação do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas.

A USP (Universidade de São Paulo), que emprega o sistema de cotas na admissão do mestrado em direitos humanos há dez anos, ampliou o seu alcance neste mês, para a pós em antropologia.

Não há discussões sobre o assunto na Unesp (Universidade Estadual Paulista), segundo a instituição.

Nenhuma das três universidades estaduais tem reserva de vaga para cursos de graduação, somente políticas de ação afirmativa –como bônus na pontuação do vestibular para candidatos negros e vindos de escolas públicas.

A proposta da Unicamp foi aprovada no dia 11 pela congregação do instituto. A reitoria informou que ainda não recebeu a proposta.

Já na USP, a aprovação para os cursos de mestrado e doutorado em antropologia social, da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), ocorreu no dia 19. Agora, a reitoria também precisa avaliar a medida.

Nos dois casos, ainda não foi definido o número de vagas para cotistas, nem há prazo para que isso ocorra.

O instituto da Unicamp tem nove programas de pós-graduação. Já o programa de antropologia social da USP é apenas um dos 27 da FFLCH.

A professora Ângela Soligo, da Faculdade de Educação da Unicamp, defende as cotas na pós-graduação e diz que elas “corrigem a situação de racismo no país. “Precisamos ter vagas garantidas para alunos com características étnico-raciais, porque são poucos os que chegam nessa situação. A maioria tem que trabalhar”, afirmou.

Já o professor Leandro Tessler, que é ex-integrante do conselho de vestibular da Unicamp, diz que as cotas não são a melhor saída.

“A universidade precisa de talentos. Se o aluno tem essa característica, ele tem que estar na faculdade”, disse.

GRADUAÇÃO

Para a graduação, a Unicamp possui dois programas de ação afirmativa. Um deles, o Paais (Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social), soma pontos para quem fez o ensino médio na rede pública. O candidato que se declara preto, pardo ou indígena recebe bonificação extra.

Segundo a universidade, esses grupos raciais representam 10,9% dos estudantes aprovados no vestibular por esse programa em 2014.

O outro programa seleciona os melhores estudantes das escolas públicas de Campinas por meio das notas no Enem (exame federal).

A USP, por sua vez, emprega o Inclusp (Programa de Inclusão Social), que bonifica o estudante da rede pública de acordo com seu resultado no vestibular.

De acordo com a instituição, 32,3% dos egressos no ano passado eram da rede pública, o maior percentual desde 2006. Desses alunos, 30,3% se declararam pretos, pardos ou indígenas.

Venceslau Borlina – Folha de S. Paulo