Professor de SP tem reajuste, mas ganha menos que servidores

Os salários dos professores da rede estadual paulista subiram mais do que a inflação nos últimos anos. Mas os docentes ainda ganham menos do que outros profissionais com formação semelhante.

As informações foram levantadas pela Folha em base de dados oficiais. Os professores estão em greve parcial há 36 dias, reivindicando um reajuste salarial de 75%.

De junho de 2012 –folha de pagamento mais antiga divulgada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB)– a fevereiro deste ano, o salário médio dos professores das escolas estaduais subiu 28%.

Nesse período, a inflação foi de 16%, segundo o indicador IPC-Fipe, em São Paulo, e de 19,5%, segundo o IPCA.

Considerando o início do mandato anterior do tucano (2011) até fevereiro de 2015, o reajuste salarial foi de 45%, segundo dados tabulados pelo próprio governo, ante uma inflação de 25% (IPC).

DEFASAGEM

Entretanto, apesar desses reajustes, os salários médios dos docentes ainda segue abaixo de profissionais com ensino superior no Estado.

A remuneração média dos docentes é de R$ 2.725. Já a população do Estado com ensino superior (ao menos 15 anos de escolarização) é de R$ 4.449, segundo dados de 2013 do IBGE atualizados pela inflação – diferença de 39%.

Considerando apenas os professores dos anos finais do ensino fundamental e do médio, com jornada de 40 horas semanais, o salário médio sobe para R$ 4.416, segundo tabulação do governo.

Mesmo esse grupo, cujo tamanho não foi informado, tem remuneração média inferior à de outras carreiras dentro do governo do Estado.

A média salarial dos sargentos da PM (que exige ensino superior) é de R$ 5.692; médicos da Secretaria da Saúde têm vencimento médio de R$ 7.339; agentes penitenciários (não exige ensino superior) ganham R$ 4.503.

Analistas ouvidos pela reportagem dizem ser necessário aumentar o salário docente, mas que é impossível tirar a defasagem imediatamente.

“É uma categoria com 200 mil pessoas, qualquer mudança causa impacto imenso no Orçamento do Estado”, disse o pesquisador de administração pública Fernando Abrúcio, da FGV-SP.

Sobre a greve, ele afirma que mobilização tão extensa, em geral, tem mais motivações do que o reajuste. “Há muita insatisfação com o tamanho das turmas”.

Coordenadora da ONG Todos pela Educação, Alejandra Velasco diz que o pedido de reajuste salarial faz sentido, “até porque a equiparação é uma das metas do Plano Nacional de Educação”.

A lei federal, aprovada em 2014, determina que, em até seis anos, a média salarial dos professores da rede pública deve ser equiparada à dos demais profissionais com escolaridade equivalente.

“Mas não há orçamento que aguente o pedido de reajuste dos professores. Poderia ser algo escalonado”.

Os professores, além do pedido salarial e outros pontos, também reclamam do fechamento de escolas e das salas superlotadas (querem no máximo 25 alunos por classe).

OUTRO LADO

A Secretaria Estadual de Educação afirmou que, após os reajustes dados desde 2011, os professores com jornada de 40 horas têm agora remuneração “similar” aos demais profissionais com ensino superior no Estado.

A pasta destaca esse grupo porque é o que possui jornada semelhante à média verificada no perfil da população com ensino superior, apurada na Pnad. A rede estadual possui jornadas que vão de 12 a 40 horas semanais.

Em nota oficial, o governo do Estado disse ser “um erro” calcular a média salarial da categoria desconsiderando as diferentes jornadas.

A secretaria, porém, não informa quantos professores trabalham com cada jornada. Também não comentou a diferença salarial dos professores com outras categorias do Estado, como médicos, policiais e enfermeiros.

A gestão Alckmin disse ainda que o dado referente aos professores com jornada de 40 horas “desmorona a principal pauta de reivindicação da Apeoesp [sindicato docente], que pede a equiparação salarial”. Afirma também que todos os professores receberam reajuste de 45% desde 2011 e que têm a vantagem da estabilidade.

Procurada, a Apeoesp não se manifestou sobre os dados. Também não explicou a metodologia para chegar ao pedido de reajuste de 75%, que, segundo a entidade, é a defasagem salarial em relação às carreiras de nível superior.


Fábio Takahashi – Folha de S.Paulo