O papel da Andifes: uma perspectiva debatida por ex-presidentes

O debate ‘A Andifes e a Educação Pública: história e perspectivas’, reuniu gerações de ex-presidentes da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) para a troca de experiências em evento realizado no dia 14 de dezembro, em Brasília. Segundo a presidente da Andifes, a reitora Ângela Paiva Cruz (UFRN), esse encontro sempre se justifica, pois, o diálogo contínuo com a história é fundamental para projetar o futuro. O debate foi acompanhado por dezenas de reitores e também ex-reitores. A participação de pró-reitores, presidentes de fóruns e convidados externos à Andifes enriqueceram bastante as ideias.

Para o secretário-executivo da Andifes, Gustavo Balduino, que coordenou a mesa de debates, o encontro realizado com os ex-presidentes foi fundamental para traçar estratégias para o futuro. Segundo ele, a “meta agenda”, que representa uma visão gerencial e a busca um modelo de eficiência empresarial em uma instituição universitária pública que faz ensino, pesquisa e extensão, está se contrapondo com a concepção de uma nova sociedade. “Hoje, a situação política do País me preocupa muito mais do que apenas a falta de recursos, que pode ser conjunturais”, disse. De acordo com o secretário-executivo, a autonomia universitária também deve ser um tema a ser debatido com a máxima urgência, uma vez que, atualmente, há restrições por todas as vias”. “Um modelo de gestão de eficiência quantitativa não pode se sobrepor a um modelo de universidade inclusiva e autônoma”.

Entre os vários reitores e reitoras que presidiram a entidade, participaram alguns daqueles, que além do seu respeitado currículo acadêmico e a indiscutível liderança política em suas instituições ao seu tempo, ocuparam – após presidirem a Associação – importantes cargos de gestão educacional e na ciência e tecnologia no governo federal, como Amaro Henrique Pessoa Lins, Arquimedes Diógenes Ciloni, Edward Madureira Brasil, Jesualdo Pereira Farias, Maria Lúcia Cavalli Neder, Odilon Antônio do Canto, Paulo Speller, Targino de Araújo Filho e Wrana Maria Panizzi.

Para o professor e ex-secretário de Educação Superior do Ministério da Educação Superior (Sesu/MEC), Amaro Lins, a Andifes tem inúmeras contribuições à educação superior brasileira, uma vez que as universidades federais cumpriram com seu papel na formação continuada de 250 mil professores da educação básica. Amaro lembrou ainda que, durante o período que esteve à frente da Andifes, o ministério da Educação (MEC) reconheceu a importância da entidade na construção do Plano Nacional de Educação e que viu, de perto, a universidade federal chegar no interior de cada estado, cumprindo um papel de agente de desenvolvimento regional, o que mudou a realidade dessas regiões.

O professor e ex-secretário de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Edward Madureira Brasil, destacou o protagonismo da entidade na discussão de políticas públicas. “Tive inclusive a oportunidade de viver a Andifes, em um momento em que, a relação com o governo federal estava mais madura, e isso foi um facilitador”. À luz da experiência que vivenciou em diversos órgãos e na presidência da Andifes, Edward apontou a necessidade das universidades trabalharem mais em redes. “Quando as áreas acadêmicas e pesquisadores de nossas universidades, se agrupam, os resultados dos trabalhos ganham escala, celeridade e qualidade”, defendeu o ex-reitor da UFG.

Já o ex-reitor da UFU, Arquimedes Diógenes Ciloni, que ocupou o cargo de subsecretário de Coordenação das Unidades de Pesquisa no antigo MCT, reforçou a parceria que a Andifes sempre teve com a pasta. De acordo com Arquimedes, a entidade apoia diretamente o desenvolvimento da ciência e tecnologia no Brasil e alertou que o orçamento de ciência e tecnologia está sofrendo drástica redução, e que isso representa problemas para o desenvolvimento do país, além de atingir diretamente as universidades e seus cientistas.

Para o ex-secretário da Sesu/MEC, o ex-presidente Jesualdo Farias, a Andifes tem um conjunto de contribuições, que vão além da educação superior. Segundo ele, a entidade tem sua importância no desenvolvimento do País. Na oportunidade, Jesualdo destacou momentos relevantes de sua gestão, como a elaboração e aprovação, pelo Pleno da entidade, do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), que foi entregue à presidente Dilma Rousseff. Ele ainda falou sobre a preocupação com o futuro. “Vivemos uma das maiores crises econômica e política, e a Andifes tem um grande desafio pela frente. A PEC 55 foi aprovada e a partir de agora, será preciso repensar a forma de gestão, fazer mais com menos, e exigir a construção de um diálogo com o governo, para que esse projeto não sofra nenhuma interrupção. Senão, vamos ter, infelizmente, que presenciar o fechamento de campus nas universidades e institutos federais, porque simplesmente a conta não fecha”, encerrou.

Em sua fala, o ex-reitor da Federal de São Carlos (UFSCar), Targino Filho apontou que os cortes de recursos ocorridos no início da crise foram as maiores dificuldades enfrentadas durante a gestão, em 2015, e que a redução nos repasses deve continuar. Para ele, a Andifes deve assumir uma articulação ainda maior com as demais entidades de educação e da ciência e tecnologia para não se deixar levar pela onda, que prega redução de déficits com restrições de recursos para essas áreas. Targino disse ainda, que incentivar e articular a internacionalização das universidades federais também deve ser uma das missões da Andifes. ” A atribuição da Andifes é mobilizar a sociedade e fazer o debate sobre as alternativas ao modelo que apenas restringe gastos. A PEC 55 não é o único caminho”.

Também citando as dificuldades enfrentadas em sua gestão (1996-1997), o ex-reitor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Odilon Antônio do Canto, que ainda exerceu o cargo de presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), disse que os anos do governo de Fernando Henrique Cardoso foram anos extremamente duros. Segundo ele, o governo deixou as universidades federais a “pão e água”. “O orçamento tinha 96% comprometido com a folha de pagamento e apenas 4% para custeio e investimentos”, completou. Na ocasião, Odilon ainda lembrou da sua contribuição na criação do Instituto Andifes, que tem por objetivo promover estudos e pesquisas no interesse da educação pública superior brasileira, e cobrou o funcionamento desse espaço de elaboração programático.

Já a ex-reitora da UFMT, Maria Lucia Cavalli Neder, disse que se vê privilegiada por ter vivido parte dos momentos de ascensão da Andifes, com relação à valorização da ciência, tecnologia e inovação e as universidades federais para o desenvolvimento do País. Segundo ela é importante reiterar os números alcançados ao longo dos anos. “Saímos de 500 mil matriculas para mais de 1 milhão. Tínhamos também apenas R$ 3 bilhões de investimento e hoje temos mais de R$ 10 bilhões”, completou. “Pelo princípio da inclusão social, fizemos uma revolução nesse País, mudando a cara e as feições da universidade. Nunca tivemos tanta visibilidade quanto hoje”.

Ainda durante o debate, foi sugerida, entre os ex-presidentes, a elaboração de um documento, que apresente as experiências da entidade ao longo dos 27 anos de existência. De acordo com o ex-presidente, ex-secretário da Sesu/MEC e atual secretário-geral da Organização de Estados Ibero-americanos (OEI), Paulo Speller, a Andifes foi protagonista de grandes avanços na educação brasileira, entre eles, o programa de expansão das universidades federais. Speller também afirmou a necessidade de trabalhar o reconhecimento no plano internacional, pois a contribuição da universidade federal brasileira é algo estratégico para o País.

A ex-vice-presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Wrana Panizzi, disse que 2017 deve ser pensado como a retomada da autonomia universitária. “A Andifes é uma entidade respeitada e que é ouvida pelas autoridades, mas que deve lutar para ser ainda mais articulada”. Segundo ela, a Andifes e as suas universidades associadas devem manter a interlocução, e simultaneamente, a autonomia em relação a qualquer governo. “O caráter permanente e de locus natural das controvérsias que caracterizam as universidades, e porque não dizer a própria Andifes, não pode ser esquecido, e deve ser sempre cotejado com o caráter passageiro dos governos e condições econômicas”.

No encerramento, a presidente da Andifes disse ainda que a história da entidade deve ser sempre revisitada, por isso o encontro foi uma ‘aula’ e que em breve esse debate será repetido. “O que fizemos aqui hoje foi uma retrospectiva de alguns dos momentos de protagonismo da Andifes. Vivemos hoje uma fase de inflexão, na política e nos valores, mas é imprescindível que, o que está sendo feito nas universidades seja amplamente divulgado, porque certamente as universidades federais fazem parte da solução dos problemas existentes. Não se faz revolução, sem planejamento e conhecimento”, concluiu.

ASCOM/ANDIFES