A bolha do ensino americano

Crise está corroendo universidades e deixando alunos endividados

A um mês do início do ano acadêmico nos Estados Unidos, não só os alunos e seus pais, mas também as universidades enfrentam uma crise financeira sem precedentes.

O que vi no renomado sistema universitário da Califórnia – violentos cortes nos gastos e aumentos de 32% nas mensalidades – deve se tornar norma nas faculdades país afora. O governo vem cortando a ajuda, as doações estão em queda, as dívidas e despesas se acumulam. Não é preciso ter MBA para saber que essa situação é insustentável. Se a atual tendência persistir, quatro anos de faculdade custarão US$ 330 mil em 2020 e US$ 758 mil em 2035.

Ainda assim, professores e administradores se recusam a reconhecer essa crise. Em Nova York, em vez de aprender a viver dentro de suas possibilidades, as Universidades Colúmbia e de Nova York (NYU) estão engajadas numa competição feroz para se expandir.

Há uma certa semelhança entre a crise em Wall Street e a do ensino superior. Assim como investidores se endividaram em mercados voláteis, universidades estão se endividando ao apostar na expansão da educação justamente quando ela está cada vez menos acessível.

Com mensalidades exorbitantes, pais e alunos têm se endividado a níveis insuportáveis. E isso deve culminar em uma crise que espelhará o colapso do mercado de hipotecas.

A competição entre NYU e Colúmbia é um exemplo do que universidades não deveriam fazer. Elas deviam estar procurando novas maneiras de oferecer educação de alta qualidade a mais estudantes por um preço mais baixo. É absurdo, por exemplo, terem departamentos de filosofia concorrentes quando há poucos empregos para acadêmicos de filosofia. Em vez disso, poderiam criar um programa conjunto, o que reduziria custos e ampliaria as opções para os alunos.

Há muito que a educação superior americana é invejada no mundo, mas hoje nossas instituições estão se corroendo por dentro e enfrentando forte competição de países como China e Índia. É vital que a educação superior americana continue sendo a moeda de reserva do sistema educacional global. Não menos que Wall Street, nossas universidades precisam urgentemente de reforma.

Mark C. Taylor dirige o Departamento de Religião da Universidade de Colúmbia

Tradução: Celso M. Paciornik