A engenharia e a competitividade do Brasil, Alan Barbiero, Flávio Antônio e Gustavo Balduino

Para vencer o grande desafio de formar engenheiros, um conjunto complexo de tarefas e atores deve estar articulado

COM O crescimento e o desenvolvimento do Brasil, que aumenta sua inserção internacional entre as potências emergentes, a educação, a ciência, a tecnologia e a inovação -e, em particular, a capacidade de fazer engenharia- tornam-se ferramentas estratégicas.

Sendo assim, o deficit na formação de recursos humanos na área de engenharia tem preocupado. Essa defasagem se apresenta com o crescimento do PIB, com o necessário aumento da infraestrutura e com os avanços da indústria. Logo, é uma questão estratégica. Para aumentar o número de engenheiros no Brasil, é preciso intensificar as ações dos governos, das universidades, do setor produtivo e do Congresso.

Nesse contexto, há que considerar a complexidade da formação de recursos humanos, algo muito diferente da produção de bens materiais. É um processo de longo prazo, custoso, que se inicia na educação fundamental e não pode ser interrompido.

Cientes dessa preocupação, desde 2003 as universidades federais iniciaram o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que contempla a criação de novas universidades e novos cursos (com ênfase nos noturnos) e novos campi (notadamente no interior do país). As vagas nos cursos de engenharia devem dobrar, saindo de 12 mil em 2006 para 24 mil em 2010.

Essa é a contribuição mais direta das universidades na formação de engenheiros. Porém, elas reconhecem que é preciso acelerar tal empreitada, não só em termos quantitativos mas também qualitativos. Mais que de engenheiros que operem complexos equipamentos importados, precisamos de profissionais que desenvolvam tecnologia brasileira.

Nos últimos meses, a Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) também tem dialogado com o Confea (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) e a Abenge (Associação Brasileira de Ensino de Engenharia).

Para essa missão, existem dois gargalos: um antes da graduação e outro depois. Primeiro, a necessidade de formar mais alunos no ensino médio -potenciais engenheiros-, o que leva a uma maior demanda de professores para a educação básica. O desfalque, notadamente nas ciências exatas, já está sendo tratado pelas universidades federais, que se empenham em projetos de formação e qualificação de docentes.

Porém, mesmo que sanado esse problema, o deficit de engenheiros não seria resolvido apenas com o esforço das universidades federais. A participação do setor privado também é necessária, desde que garantida a qualidade. Nesse ponto surge a segunda dificuldade, que é a qualificação daqueles que serão professores na educação privada. Para solucioná-la, o setor público tem outro papel fundamental, destacando-se a importância da pós-graduação.

Uma das principais pautas da Andifes, o Programa de Apoio à Pós-Graduação das Ifes (PAPG-Ifes), apresentado no ano passado ao presidente Lula, à ministra Dilma Rousseff, ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, ao Ministério da Ciência e Tecnologia, à CNI e ao MEC, torna-se estratégico nesse contexto. O PAPG-Ifes projeta um crescimento de 143 cursos de mestrado em engenharia para 216, e de 79 cursos de doutorado na área para 131.

A relação com o setor produtivo, aperfeiçoando e modernizando engenheiros já formados, é atividade rotineira das Ifes. Toda essa interação visa coordenar a formação de engenheiros com as demandas do setor produtivo, com a política industrial, com o PAC da ciência e tecnologia e com as potencialidades das universidades federais. Nesse esforço, procurou-se também superar as assimetrias regionais.

Percebe-se, então, que, para vencer o grande desafio de formar engenheiros, um conjunto complexo de tarefas e atores deve estar articulado.

Podemos afirmar que, até este momento, não tem faltado apoio dos governos e de todos os partidos no Congresso, inclusive na criação de cargos para a ampliação das universidades.

No entanto, é preciso pisar no acelerador e combinar a ação direta na formação com a interação plena com a educação básica, a formação de mestres e doutores e as demandas do setor produtivo. O futuro já chegou e não aguardará os retardatários. Em 2010, resta saber o que pensam os candidatos a presidente sobre o tema.

As universidades federais, como órgãos de Estado, estão engajadas nesse processo e na parceria com os atores envolvidos.
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ALAN BARBIERO , engenheiro agrônomo, é presidente da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior).
FLÁVIO ANTÔNIO DOS SANTOS , engenheiro elétrico, é vice-presidente da Andifes.
GUSTAVO BALDUINO , engenheiro mecânico, é secretário-executivo da Andifes.

Folha de São Paulo, 08/01