Ajudante de pedreiro se torna estudante em universidade que ajudou a construir

Elcimar é aluno do curso de Física Foto: Arquivo pessoal

Elcimar Moreira da Silva tinha 22 anos quando pisou pela primeira vez no campus da Universidade Federal Fluminense (UFF) de Santo Antônio de Pádua, no Noroeste Fluminense. A unidade ainda estava em construção, quando o jovem ajudante de pedreiro aceitou a oferta de R$ 30 por dia para “bater laje” na obra. Dez anos depois, ele voltou a frequentar o local, dessa vez como estudante universitário. Elcimar passou no vestibular e, hoje, cursa o segundo período da faculdade de Física.

Filho de pedreiro, Elcimar acostumou-se cedo ao trabalho pesado. Quando recebeu o convite de um tio, também pedreiro, para ajudar na construção da universidade, não titubeou.

— Na hora de bater a laje, eles precisaram de outras pessoas, então chamaram meu irmão e eu. Eu estava acostumado a tocar pequenas obras com meu pai, mas quando chegamos, ficamos impressionados com a extensão daquela obra. Foram dois ou três dias bem suados e bem difíceis — lembra ele que usou o pagamento para encher a despensa de casa.

Na época, o ajudante de pedreiro não tinha expectativa de se tornar estudante da UFF.

— Eu sabia que era a construção da UFF, mas nunca imaginei que poderia entrar numa universidade daquela, a mesma em que eu estava trabalhando. Mas Deus ajudou. Fiz o Enem, consegui a nota e hoje estudo na universidade em que ajudei a bater laje — comemora.

Por conciliar os estudos com o trabalho, Elcimar acabou atrasando a conclusão do ensino médio. Apesar disso, não desanimou e decidiu se inscrever no Enem.

— Meu sonho sempre foi fazer Física, mas eu achava que não ia conseguir o que queria, porque dizem que alegria de pobre dura pouco. Mas fiz o Enem e passei. Eu entrei pelas cotas raciais, mas tirei nota suficiente para passar pela ampla concorrência — conta.

Ao se matricular na universidade, Elcimar sentiu orgulho por ter participado da construção.

— Minha vontade era de falar para todo o mundo: “Sabe esse chão que a gente está pisando aqui? Eu que ajudei a construir” — recorda ele, acrescentando que foi bem acolhido pelos colegas de classe: — Minha turma é muito unida e isso ajudou na minha adaptação. Os professores são fora de série.

Ainda hoje, Elcimar concilia os estudos com o trabalho, mas deixou para trás a construção civil. Morador de Miracema, cidade localizada a 14 quilômetros de Santo Antônio de Pádua, ele acorda antes das 6h para abrir o Colégio de Pádua, onde foi admitido recentemente como porteiro. Da escola, ele segue para a faculdade e só volta para casa às 23h.

Casado e pai de uma menina de 6 anos, ele tem planos para o futuro: pretende fazer pós-graduação em Física e dar aulas.

— A lição que ficou é que ninguém deve desistir dos sonhos. Eu achava que não ia conseguir, mas tinha uma ponta de esperança. Foi essa ponta de esperança que me fez chegar lá.

Fonte: Extra Globo