Apagão do Enem

Editoriais

DEPOIS da série de problemas que quase inviabilizaram o Exame Nacional do Ensino Médio do ano passado, seria razoável que o Ministério da Educação agora se esforçasse para recuperar a combalida credibilidade do novo modelo de seleção para cursos universitários. O governo, no entanto, preferiu jogar a toalha.

O ministro Fernando Haddad veio a público, anteontem, anunciar o cancelamento da prova do Enem prevista para ser realizada em meados deste ano. Alegou não dispor de tempo para organizar o exame com condições adequadas de segurança.

Instituições de ensino superior que confiaram nas promessas do governo terão que elaborar um vestibular próprio em tempo recorde. Ou utilizar as notas do Enem passado, o que na prática significa matricular estudantes que não haviam conseguido classificação satisfatória.

O furto da prova de 2009, depois de impressa, provocou o adiamento do exame. Algumas universidades de ponta, que confeririam mais legitimidade ao novo modelo, como USP e Unicamp, desistiram de usar o Enem como parte de seu processo de seleção. Um duro revés.

O antigo exame de avaliação de alunos e escolas do ensino médio foi reformulado, em 2009, para tentar conferir maior qualidade e eficiência ao processo de seleção para o ensino superior no país. A prova deveria assumir gradualmente o papel de exame unificado de acesso às universidades, substituindo a atual miríade de vestibulares.

Para que este objetivo razoável fosse alcançado, era imperativo que o novo método conquistasse a adesão do maior número possível de instituições. O que tem acontecido é o inverso. Com o cancelamento de ontem, já se sabe que pelo menos duas grandes universidades mineiras decidiram desembarcar do projeto.

As falhas de gestão do Ministério da Educação ameaçam enterrar, mal havia sido concebida, uma boa política pública.

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Folha de São Paulo.