Centro de Altos Estudos Brasil XXI homenageia economista Maria da Conceição Tavares

O Conselho de Administração do Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI homenageou a professora Maria da Conceição Tavares, patrona do Centro, dia 27, em cerimônia realizada no Colégio Brasileiro de Altos Estudos (UFRJ), Rio de Janeiro.

Maria da Conceição foi saudada como a mestra querida, exemplo de trajetória acadêmica e “permanente inspiração para a construção de um Brasil desenvolvido, dono do seu próprio destino e cada vez mais justo e democrático”, para citar as palavras da mensagem enviada pelo ministro da Educação Aloízio Mercadante, também ex-aluno, que não pôde estar presente.

Presidente do Conselho de Administração do Centro de Altos Estudos, Mariano Laplane lembrou que a professora representa como ninguém o propósito da criação da instituição, um centro de excelência comprometido com a construção de uma sociedade que, além do desenvolvimento econômico, “despenda esforços para promover a redução da desigualdade que não é só de renda, mas também de  qualidade de vida e de direitos”.

Laplane lembrou que Conceição foi eleita por aclamação pelos conselheiros do Centro de Altos Estudos. “Não consigo imaginar outro nome mais ligado a essa missão e à luta constante por um país mais justo”, afirmou.

“Não quero morrer triste”

Visivelmente feliz com a homenagem, Maria da Conceição, bem ao seu estilo, não desperdiçou a oportunidade de falar em público para fazer uma reflexão sobre o cenário político e econômico do país. Ao microfone, a alegria do momento foi substituída pelo tom severo. Disse ter medo de morrer triste, “como Celso Furtado”. “E estou, no momento, muito triste”, afirmou. “Já passei por muitos momentos difíceis na minha vida, mas nunca vivi num tempo histórico tão difícil quanto o atual”.

Aos 85 anos, Conceição disse que “não tinha a menor ideia do que ia ser a ditadura do capital financeiro que estamos vivendo hoje”. “São trilhões de dólares paralisados em funções especulativas, sem aplicação produtiva”. “E isso não é apenas uma crise de conjuntura”, sublinhou.

Sobre o momento vivido pelo país, a professora, que até o ano passado elogiava a estratégia certeira de desenvolvimento econômico e social dos governos do PT, lembrou a grave crise atual, puxada pela situação política, com o “estilhaçamento” de todos os partidos, em especial do PT e do PSDB. O PT, vítima de erros cometidos no passado recente, e o PSDB “enfurecido” no papel de oposição, “o que não ajuda o país”.

“Oposição raivosa como essa costuma dar em ditaduras, mas já não é provável a volta dos militares”, disse ela, observando, porém, que o momento lembra o que antecede rupturas assim, daí a necessidade de um “pacto” entre as forças políticas. “Se não houver uma pactuação social ampla, não haverá possibilidade de conseguirmos passar por essa crise e serão muitos anos até conseguirmos induzir um projeto novo de desenvolvimento”.

“Precisamos reconstruir uma esperança para o futuro. Para se ter um futuro visível e razoável é preciso a pactuação. Os dois partidos protagonistas da ideia de social-democracia,PT e PSDB, deveriam conversar de forma civilizada”, insistiu.

Trajetória singular

Nascida em Portugal e naturalizada brasileira, a economista graduou-se primeiro em matemática, e é autora de diversos livros sobre desenvolvimento econômico, entre eles “Auge eDeclínio do Processo de Substituição de Importações no Brasil – Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro”, de 1972. Chefiou o escritório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) no Brasil, no fim dos anos 1960, e foi deputada federal pelo Estado do Rio de Janeiro pelo PT (entre 1995 e 1999).

Aluna de Celso Furtado, Octávio Gouvêa de Bulhões e Roberto Campos, ao longo de 60 anos formou gerações de economistas e líderes políticos brasileiros, entre eles Dilma Rousseff, José Serra e Luís Gonzaga Beluzzo.

 

Fonte: Centro de Altos Estudos  Estudos Brasil Século XXI