Considerações sobre o Ensino a Distância no Brasil, artigo de Wanderley de Souza

“Apesar dos excessos cometidos, continuo defendendo a Educação a Distância como um dos instrumentos fundamentais para maior universalização do ensino superior no país em várias áreas do conhecimento”

Wanderley de Souza é professor titular da UFRJ e diretor de Programas do Inmetro. Artigo publicado no jornal “Monitor Mercantil”:

Ainda que prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, somente a partir de 2000 iniciativas na área da Educação a Distância foram tomadas. Na primeira fase houve uma predominância da participação de instituições públicas, com projetos de qualidade.

No entanto, a partir do momento em que várias iniciativas surgiram, sobretudo no setor privado, a área da Educação a Distância vem passando por alguns problemas que requerem um olhar mais atento do MEC, para que não ocorra a perda de credibilidade desse importante instrumento de ampliação do ensino superior no Brasil.

A experiência pessoal que possuo em Educação a Distância se resume ao Centro de Educação a Distância do Rio de Janeiro (Cederj), criado em 2001 com base em alguns princípios fundamentais. Primeiro, a participação ativa e entusiasta das seis universidades públicas localizadas no Estado do Rio de Janeiro, contando com o que cada uma tinha de melhor.

Dessa forma desde o início houve, à frente do processo, professores com atividades em pesquisa e reconhecidos nacionalmente em sua área. Esta foi a maneira de se assegurar qualidade acadêmica ao processo.

Segundo, o investimento no preparo de material didático próprio para o ensino a distância, incluindo livros especialmente preparados para este fim, material de Web, etc. Terceiro, assegurar a presença física dos alunos em pólos regionais devidamente instalados, contendo biblioteca, laboratórios de Informática, de Biologia, Física e Química com a presença de professores capacitados a dar todo o apoio necessário aos alunos.

O Cederj iniciou suas atividades com 160 vagas, alcançando 12 mil alunos, distribuídos em 20 pólos regionais em 2006 e atualmente conta com cerca de 23 mil alunos em 33 pólos. O sucesso desse sistema foi reconhecido por todos e serviu como um dos modelos para implantação da Universidade Aberta do Brasil (UAB) pelo MEC, em 2005.

Merece destaque especial o fato de que os egressos do Cederj têm alcançado grande sucesso nos vários concursos públicos e no acesso aos programas de pós-graduação.

A partir de 2001, houve um aumento significativo no número de instituições credenciadas para atuarem no campo da Educação a Distância, passando de dez para cerca de 100 em apenas cinco anos. O que me parece mais preocupante, o número de cursos saltou de 16 para 349 e o de alunos, de cerca de 5 mil para 220 mil.

Um crescimento desta ordem é preocupante, sobretudo quando ocorre em instituições privadas, sem nenhuma tradição nas atividades de pesquisa e de qualidade acadêmica. A oferta de milhares de vagas por algumas instituições merece atenção especial por parte do MEC.

Por fim, apesar dos excessos cometidos, continuo defendendo a Educação a Distância como um dos instrumentos fundamentais para maior universalização do ensino superior no país em várias áreas do conhecimento.

No entanto, é fundamental que este ocorra com qualidade, com a utilização de pólos bem estruturados e com a existência de um componente presencial. Nesta área, mais até que no ensino presencial, é necessário um rígido controle e avaliação permanente por parte das autoridades governamentais, sob pena de perda de credibilidade para todo o sistema.
(Monitor Mercantil, 11/12)