Educação em locais de risco – mais que um direito, uma necessidade

Adolescentes conversam com especialista em pedagogia de emergência, sobre refugiados, guerras e catástrofes da natureza.

Refugiado. Substantivo masculino. Aquele que foi obrigado a deixar sua terra por qualquer tipo de perseguição; pessoa que foge do perigo. São muitos os motivos que levam uma pessoa a deixar seu país: perseguição devido a raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social ou opinião política, total falta de condições de vida devido a um completo descaso pelos direitos humanos, guerras, catástrofes naturais, apenas para citar alguns.

Em 2015, mais de 500 mil refugiados buscaram asilo na Europa, 5 vezes o total registrado no mesmo período em 2014. Além disso, um relatório da ONU revelou que, desde 2008, uma pessoa por segundo é desalojada por causa de desastres naturais. Muitas dessas pessoas são crianças, expostas tão cedo a situações e traumas devastadores dos quais não tem condição de se recuperar sozinhos. E é aí que entra a pedagogia de emergência.

“A pedagogia de emergência é uma intervenção pedagógica feita por professores, pedagogos, terapeutas e assistentes sociais qualificados que tem como objetivo diminuir o sofrimento das vitimas, principalmente crianças e jovens, e trazer uma melhoria da condição geral e o apoio de suas forças auto curativas. Em longo prazo, o objetivo também é a criação de relacionamentos estáveis, um aumento de confiança e autoconfiança, intensificar a curiosidade pelo mundo que as cerca e desenvolver um senso responsabilidade própria na medida adequada para a idade”, explica Reinaldo Nascimento, educador da ONG FreundeWaldorf, que desde 2012 participa de intervenções em zonas atingidas por conflitos e desastres naturais, como Quênia, Faixa de Gaza e Nepal.

Durante as intervenções com as crianças e jovens refugiados, os educadores trabalham as habilidades socio-emocionais, com períodos de escuta e conversa e a possibilidade de permitir que os sentimentos fluam, exercícios de relaxamento e concentração, formas criativas de superação (escrever, desenhar, fazer música), trabalhos com movimento e ritmo (esporte, dança, caminhadas, brincadeiras), jogos e alimentação adequada, buscando restabelecer o contato da criança com o meio social e transformar a crise em uma nova oportunidade para suas vidas.

Durante uma manhã inteira de outubro deste ano, alunos do 6° ao 9° anos da Escola Santi, localizada no bairro do Paraíso, em São Paulo, participaram com Reinaldo de uma vivência para entender como é a vida das pessoas que vivem refugiadas e como é o trabalho que ele realiza com a pedagogia de emergência. Além de ver as fotos e ouvir as histórias contadas pelo educados, os adolescentes fizeram muitas perguntas e aprenderam alguns dos exercícios de ritmo e dança que são realizadas com as crianças. Assim, puderam pensar mais a fundo sobre os refugiados que vivem em nosso próprio país.

“O que mais me marcou foi ver essa realidade das crianças que eram crianças tristes, acostumadas com desgraças e com pessoas que só queriam machucá-las, e que puderam receber um pouco de amor e ver que tem pessoas que ainda se importam. É muito importante ver como outras pessoas vivem, porque é como se nós estivéssemos convivendo com essas pessoas que tem uma cultura diferente e vivem de forma diferente. A gente pode ver o impacto que essas guerras tem na vida delas”, conta a aluna Raquel Rezende, do 6º ano, no que é apoiada pelo colega Felipe Milani, do 7º ano:

“A gente vive aqui, vai à escola, tem uma vida boa, enquanto eles tiveram pais mortos, sofrem violência, estão traumatizados, e trazendo pra gente uma realidade que não é a nossa, a gente acaba refletindo mais sobre as coisas que nós fazemos. Eu fiquei muito feliz de ver como os voluntários vão lá ajudá-los sem ganhar nada, porque eles querem, eles transformam pessoas em estado de choque em pessoas que conseguem conviver com os outros de um jeito normal”.

O trabalho dos voluntários é difícil, e os problemas e dificuldades são muitos. Mas não precisamos ir até a Faixa de Gaza ou o Nepal para encontrar pessoas passando por situações que põe em risco suas vidas e sua integridade e que nós temos condições de ajudar. Isso também é algo importante para passar para as crianças.

“Quando conversei com os alunos, muitos queriam saber como mudar tudo isso. Estes jovens querem viver num mundo bom e digno e para isso é importante ser rápido! Quando as doações chegam rápido se pode fazer muito mais! É importante conhecer o trabalho das organizações que realmente cuidam com carinho destas crianças e jovens, não só refugiados, para saber como ajudar. Tenho visto pessoas colhendo brinquedos, ensinando português para os refugiados, se oferecendo para mostrar a cidade, como usar o transporte público… É importante não esperar somente o Natal para fazer as doações e não esquecer de que somos responsáveis pelo Brasil que temos; pelo mundo que temos!”, finaliza Reinaldo.

Estadão