‘Educação não pode cimentar privilégios’, diz reitor dos EUA

A educação é essencial para criar mobilidade social e reduzir desigualdades. Mas, se isso não ocorre, sistemas de ensino podem ser usados pelas elites para cimentar privilégios sociais.

O alerta é de Michael S. Roth, reitor da universidade Wesleyan, localizada às margens do rio Connecticut, no nordeste dos EUA. Historiador, ele acaba de lançar nos EUA “Beyond the University, Why Liberal Education Matters” [além da universidade, porque uma educação liberal é importante], no qual defende o ensino multidisciplinar, preocupado com a formação integral de cidadãos, com menos ênfase no treinamento apenas para o emprego.

Afinal, trabalhos mudam com o tempo e as pessoas precisam sempre aprender a aprender. Em seu livro, ele conta pedaços da história da educação superior nos EUA, tratando das discussões filosóficas que deram norte e provocaram mudanças nas escolas.

Nessa entrevista, Roth, 57, concorda com o economista Thomas Piketty, que aponta o poder das elites no sistema educacional norte-americano minado a meritocracia. Para o reitor, apesar de as instituições de ensino de elite usarem critérios que tendem a favorecer os mais ricos, também mantêm programas de inclusão para os de baixa renda.

Folha – Seu livro discute a importância de uma educação abrangente para a formação de cidadãos. O sr. critica o ensino focado apenas no treinamento para o trabalho e alerta para os riscos dessa tendência. Relata que essa discussão já ocorreu no passado. Por que esse tema está de volta ao debate?

Michael Roth – Essa é uma conversa antiga nos EUA e sempre surge em diferentes países pelo mundo. A ansiedade na economia muitas vezes dá origem ao debate sobre as dimensões utilitárias da educação. Isso também está conectado com o aumento da desigualdade e com o medo de que as pessoas possam cair para segmentos inferiores na escala social.

Qual é o impacto da crise de 2008 no sistema educacional nos EUA?

A crise financeira que eclodiu em 2008 erodiu as doações de apoio em muitas instituições norte-americanas. Mas, ainda mais importante, reduziu a vontade política de apoiar o ensino superior com receitas de impostos. O alto desemprego criou mais ansiedade sobre a conexão entre resultados educacionais e perspectivas de emprego.

No seu livro, o sr. mostra que a atuação da academia foi vista muitas vezes como a serviço das elites. Como o sr. avalia essa questão hoje?

Nos EUA, a academia também tem sido vista como um veículo de mobilidade social. Desde Thomas Jefferson, pensadores norte-americanos têm defendido que a educação pode proteger os cidadãos contra a tirania política e levar ao avanço econômico. De outro lado, as elites podem usar o ensino superior para concentrar capital social.

Qual é a relação entre desigualdade e educação? A educação é ainda um fator importante na redução de desigualdades? A privatização do ensino é uma forma de aumentar a desigualdade social?

Acredito que a educação continua essencial para a criação de mobilidade social ou redução de desigualdade. Se falharmos em capturar os sistemas educacionais para criar mobilidade social, eles serão usados pelas elites para cimentar privilégios sociais.

Como o sr. avalia a questão da especialização, da fragmentação na educação. É também uma forma de aprofundar desigualdades?

A especialização tem desempenhado um importante papel nas universidades desde os meados do século 19. Isso muitas vezes aconteceu às custas de uma formação ampla, contextualizada. A fragmentação das instituições de ensino em unidades por disciplina pode torná-las menos eficazes na educação das pessoas de forma integral.

Qual deve ser o papel do Estado na educação. Os países devem ter um sistema de ensino robusto para enfrentar desigualdades?

Sim, penso que o Estado tem uma obrigação importante de apoio à educação. Uma política saudável é essencial para cultivar uma cidadania educada.

Há uma crescente desigualdade nos EUA e na Europa. No livro “Capital no Século 21”, Thomas Piketty afirma que o atual modelo educacional norte-americano reforça as elites e mina os fundamentos da meritocracia. Segundo ele, apenas membros de uma superelite podem estudar em universidades de primeiro nível, que têm critérios de admissão pouco transparentes e tendem a favorecer as famílias da elite. Esse diagnóstico é verdadeiro?

Embora as instituições de ensino de elite utilizem critérios de admissão que tendem a favorecer os ricos, é importante notar que essas escolas também têm programas robustos de ajuda financeira. Todos os anos, milhares de estudantes de baixa renda se inscrevem nessas escolas e não pagam mensalidades. Assim, embora seja verdade que as pessoas ricas têm grandes vantagens, as universidades continuam sendo um lugar onde os de baixa renda e as minorias podem ter acesso ao aprendizado que lhes vai ser útil após a graduação.

O sr. lembra em seu livro que Steve Jobs e Bill Gates, ícones da engenhosidade norte-americana, abandonaram a universidade. O que isso significa?

Muitas pessoas citam exemplos de empreendedores bem-sucedidos em tecnologia (Mark Zuckerberg, do Facebook, por exemplo) para apontar a importância da inovação em oposição à educação. Curiosamente, a maioria dos empreendedores de tecnologia não menospreza a importância de frequentar uma universidade.

Qual sua visão sobre o sistema de cotas na educação?

Embora eu considere errado um sistema rigoroso de cotas, penso que ações afirmativas são um instrumento importante para tornar universidades mais diversificadas e produtivas. Essas políticas também promovem justiça social.

Que lições professores e formuladores de políticas educacionais podem extrair de seu livro?

Que uma educação de forma abrangente e contextualizada pode ser a forma mais pragmática de aprendizado no mundo contemporâneo. Num país de rápida transformação como o Brasil, é vital que as pessoas possam aprender a aprender, para que elas possam contribuir para a cultura e a sociedade muito tempo depois da graduação.

No final de seu livro, o sr. escreve sobre sua experiência de falar para estudantes chineses. O que eles estão fazendo de bom no campo do ensino que pode ser aprendido pelo resto do mundo?

Ensinar a pessoa inteira. Eles cometem um erro quando incentivam a memorização e o ensino voltado apenas para o teste.

No início do seu livro, o sr. descreve a experiência de falar para milhares de estudantes ao redor do mundo em classes virtuais. Qual sua opinião sobre o ensino a distância?

Eu era muito cético sobre a educação a distância e os cursos online abertos para massas de pessoas. Mas eu tenho gostado muito de ensinar a milhares de estudantes ao redor do mundo por meio da parceria entre a Wesleyan e a Coursera. Dei uma aula de história/literatura/filosofia (moderna e pós-moderna) e outra sobre temas globais contemporâneos (como mudar o mundo). Alunos muito diferentes pelo globo parecem ter ganhado muito com essas aulas e eu gostei muito de interagir com eles nos fóruns de discussão.

 

Eleonora de Lucena – Folha de São Paulo

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