Enem tem de ser moralizado

A mudança no Ministério da Educação reacende a esperança de milhões de estudantes. Durante décadas, o país buscou alternativa para o vestibular. Todos concordavam que avaliar a trajetória de 12 anos de estudos numa manhã ou numa tarde não era a melhor receita para selecionar os futuros universitários. Sorte e controle da emoção contavam mais que preparo e mérito. A injustiça cobrava alto custo – a exclusão de talentos que poderiam contribuir para solucionar problemas que exigem respostas novas e criativas.

Ao ser lançado, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tinha objetivo diferente do atual. Destinava-se à autoavaliação do aluno. O jovem podia medir a própria aprendizagem nos três anos que antecedem a entrada no ensino superior. E, com base nos resultados, corrigir rumos sempre que necessário. A boa iniciativa pouco a pouco mudou de rumo. Em 2009, tornou-se chave que abre a apertada porta da universidade.

O amadorismo jogou sombra na auspiciosa novidade. Sucessivas falhas primárias contribuíram para desmoralizar o exame e onerar os cofres públicos. Entre elas, quebra de sigilo das provas, troca de gabaritos, divulgação de dados dos candidatos, ineficiência no sistema de informática, denúncias na licitação das gráficas. A mais recente: teste aplicado pelo próprio Inep em escola do Ceará para avaliar a dificuldade das questões foi repetido no exame nacional.

Mais: dúvidas sobre os critérios de correção das redações bateram às portas da Justiça Federal do Ceará, que permitiu vista de provas aos estudantes. A resposta do ministro Fernando Haddad, que responsabilizou o Judiciário pela “fadiga” da máquina administrativa do MEC, não contribui para o aperfeiçoamento do processo. Cabe ao novo titular da pasta pôr o Enem nos trilhos com administração profissional apta a responder com eficácia aos desafios que tem pela frente.

Cabe-lhe também eliminar gargalos que impedem avanços necessários à educação nacional. Entre eles, sobressai o salto qualitativo do ensino. O brasileiro, que teve acesso à escola, precisa completar o ciclo – ter acesso ao conhecimento. O nível médio requer cuidados especiais. Metade dos alunos de 19 anos ficam no caminho. Fora do sistema, candidatam-se à marginalidade. São, como provam as estatísticas, as vítimas preferenciais da violência.

A pré-escola é outro calcanhar de aquiles. A falta de vagas compromete o aproveitamento futuro dos excluídos. Em suma: Aloizio Mercadante precisa sintonizar a educação com os anseios da sociedade. Nenhuma nação subiu a escada do desenvolvimento com educação subdesenvolvida.