Estudantes decidem por greve

 

Alunos dos câmpus do Gama e de Ceilândia paralisam as atividades. No primeiro, quem não concordou com a medida teve aulas normalmente. Em ambos os casos, a queixa é de falta de estrutura dos prédios

 

O semestre letivo começou no câmpus do Gama da Universidade de Brasília (UnB), apesar da decisão pela greve votada em assembleia dos alunos, que reivindicam melhores condições de ensino e a entrega do prédio definitivo da faculdade. As aulas foram ministradas somente aos estudantes contrários ao movimento. Os professores se reuniram e decidiram começar, assim mesmo, os trabalhos. Na câmpus de Ceilândia também existe a possibilidade de paralisação por parte dos alunos, operação que será decidida hoje à tarde. Nas duas cidades existe um atraso de quase dois anos na entrega das sedes das duas faculdades.

 

“A construção de dois prédios aqui da UnB está demorando mais que a construção de Brasília, que levou dois anos. Isso é uma vergonha para o Distrito Federal. A situação só tem piorado. A gente não quer mais só promessas, quer garantias”, afirma o presidente do Centro Acadêmico da Faculdade UnB Gama (FGA), Victor Hugo de Sousa. As aulas estão sendo ministradas em prédios alugados no Serviço Social do Comércio (Sesc) e no antigo Fórum da cidade. Parte do contrato com o Sesc venceu no fim de janeiro, tendo o câmpus perdido um andar do edifício. Para complicar a situação, foram matriculados mais 240 calouros.

 

A maioria dos alunos – 264 – votou a favor da greve, enquanto 207 foram contra e 17 se abstiveram. “A gente é aluno. Não queríamos estar em greve, mas precisamos de condições para isso. Quem votou contra foram os calouros, que não conhecem a nossa realidade ainda”, avalia o estudante Cristiano Starling, 24 anos, que também faz parte do CA. Paulo Henrique, 17, está no primeiro semestre e concorda com ele . “Votei para adiarmos a greve para o dia 21, caso a obra realmente não fique pronta. Se eu estivesse no lugar dele, iria querer greve mesmo. Não sei como enrolam com um prédio há tanto tempo. Aqui não tem condições boas mesmo.”

 

O professor Luiz Laranjeira diz que há uma divisão entre seus colegas quanto ao apoio à greve. “Não vamos parar de dar aulas, mas vamos fazer o possível para que os grevistas não saiam prejudicados. Todos nós reconhecemos que as condições não são as ideais. As reivindicações deles são as nossas também”, pondera.

 

Os estudantes já protestaram contra a demora na finalização da obra em maio, em dezembro de 2010 e na semana passada. Mesmo assim, o calouro Pedro Henrique da Silva, 18 anos, acredita que a greve não é a melhor opção. “Não acho que vai mudar alguma coisa. Dá pra ter aula aqui, só não cabe todo mundo.” Na opinião do estudante João Paulo Rocha, 20, só mesmo com a paralisação existe esperança de que a obra seja concluída. “Quero ter aulas, mas isso aqui está um lixo. Começamos o movimento hoje pra fazer uma pressão. Talvez assim tenhamos uma resposta concreta”, defende.

 

Assembleia

 

Os estudantes do câmpus da UnB de Ceilândia farão amanhã uma assembleia para mobilizar o maior número de alunos na votação sobre a greve. “A falta de estrutura atrapalha muito o aprendizado. Já é a oitava data que nos dão para entrega da obra, mas o lugar ainda está cheio de lixo, não tem estacionamento, tem muita poeira da construção. A gente está se sentindo palhaço deste grande circo que virou a UnB”, indigna-se a estudante e membro do CA de Gestão de Saúde Juliane Alves, 21anos. “A saúde do DF já está ruim, e eles estão querendo formar profissionais medíocres aqui?”, questiona.

 

O câmpus de Ceilândia oferece cinco cursos na área de saúde, incluindo terapia ocupacional, farmácia, gestão de saúde, enfermagem e fisioterapia. Os alunos da UnB atualmente dividem salas com os estudantes do Centro de Ensino Médio 4. Usam também um espaço emprestado pela Escola Técnica de Ceilândia: duas salas de aula e um auditório. Segundo o vice-diretor do câmpus, Araken Werneck, esse é o limite. “Nós ainda conseguimos dar aulas neste semestre, mas no próximo é impossível. E não tem outra saída a não ser o prédio novo. Não tem nem o que alugar na cidade”, explica.

 

Apesar de os alunos terem que cursar disciplinas optativas para concluir o número de créditos exigidos em cada curso, por conta da falta de espaço, apenas as matérias obrigatórias foram ofertadas para matrícula neste semestre. No caso de Ceilândia, mais da metade das obras são de responsabilidade do Governo do Distrito Federal (GDF). A Novacap se comprometeu a entregar em 22 de abril pelo menos o prédio de laboratórios, mas ainda faltam estacionamentos e calçadas.