Leviandades sustentadas

É necessário reiterar que o programa “Multiplicando Saber” não faz parte das políticas que a Secretaria da Educação vem desenvolvendo

Artigo publicado nesta Folha no último dia 16 (“Insustentável leveza”) contém um duro ataque, quase pessoal, à minha atuação na Secretaria de Educação de São Paulo, recheado de adjetivos e citações fora de contexto. Fatos e evidências são ausentes.

O artigo parte de desinformação ou propositada tergiversação, muito no estilo do que vem se tornando usual no atual debate eleitoral na boca de alguns candidatos.

É necessário reiterar que o programa “Multiplicando Saber” não faz parte das políticas que a Secretaria da Educação vem desenvolvendo na atual administração, como, aliás, ficou claro desde o primeiro “release” de imprensa, divulgado há três semanas.

Trata-se de experiência-piloto para testar no Brasil um sistema de tutoria em matemática pelo qual bons alunos do ensino médio ajudam seus colegas do fundamental que mostram dificuldades nessa disciplina.

Experiências semelhantes foram realizadas nos Estados Unidos, em alguns países europeus, na Índia, no Quênia, na Colômbia e no Chile, e o projeto foi proposto por pesquisadores da USP, com o apoio de um banco multilateral e de algumas fundações privadas que o custeiam. Pagar-se-á uma bolsa aos tutores e se dará um incentivo à participação dos pupilos, dado que ela não é obrigatória.

Este último aspecto secundário no conjunto do programa ganhou centralidade nas matérias jornalísticas, a começar por reportagem e editorial desta prestigiosa Folha.

A polêmica ganhou espaço na mídia e entre especialistas, centrada justamente nesse aspecto secundário e alimentada pelo clima eleitoral e pelo oportunismo de alguns candidatos. Nesse ambiente, o próprio resultado científico desse projeto-piloto na avaliação de seu impacto na aprendizagem dos alunos passou a ficar comprometido.

Diante do fato, tomei a decisão de estender seu prazo de execução por alguns meses, até o primeiro semestre de 2011. Nesse período, espero que a polêmica se esclareça e que possamos chegar a um consenso mínimo entre os especialistas em torno da validade de experimentar novas alternativas, que venham a contribuir para a melhoria da aprendizagem e dos métodos para conseguir a adesão de um número significativo de alunos.

O sistema educacional de São Paulo é o maior e melhor do país, segundo as avaliações e informações do MEC. Apesar disso, estamos ainda distantes do ideal e continuamos trabalhando para melhorar a qualidade da educação pública.

Esse esforço de São Paulo tem merecido o reconhecimento das entidades internacionais mais respeitadas na área.

Nosso Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) nem de longe sofreu a desmoralização que infelizmente atingiu outros sistemas de avaliação, como o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), tragado pelo açodamento na tentativa de utilização político-eleitoral de um importante instrumento de aperfeiçoamento de nossa educação.

Ali, sim, se jogou com a expectativa e o futuro de milhões de jovens. Não temos receio de revelar nossos grandes avanços, como também as áreas e níveis educacionais em que novas alternativas precisam ser testadas. Aceitamos o desafio de melhorar o desempenho de nossos jovens em matemática, em especial no ensino médio. Não abandonamos programas pela metade. Em relação ao encontro do governador Serra com a cantora Madonna e à proposta que ela nos fez, foi tomada como tal e assim está sendo analisada. A aplicação de “princípios cabalísticos” na rede pública é apenas fruto da mente fantasiosa e politicamente tendenciosa da autora.

Paulo Renato Souza, economista, deputado federal licenciado (PSDB-SP), é secretário da Educação do Estado de São Paulo. Foi ministro da Educação (governo FHC), reitor da Unicamp (1986 a 1990) e secretário da Educação do Estado de São Paulo (governo Montoro).