Lula inaugura Universidade que já reúne estudantes de cinco países em Dourados

Uma invasão de línguas, estilos e culturas diferentes. Assim é como a comunidade universitária de Dourados vê a chegada de onze estudantes de cinco países diferentes no campus da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) que ficará mais colorido na manhã desta terça-feira quando o presidente Lula fará a “inauguração” mais que oficial.

Um pouco da Alemanha, da China, de Cabo Verde, do Paraguai e da Argentina pode ser visto circulando pelos corredores da universidade que comemora cinco anos de fundação e torna-se internacional. Os estudantes, além de conhecer a UFGD e aprender um pouco da cultura e história do país, terão a oportunidade de ficar frente-a-frente com o presidente da República.

Da China veio a estudante de Direito Jiaoting Shi de 22 anos de idade. Da língua portuguesa sabe apenas o necessário para a sobrevivência. A chinesa adotou o nome de Sofie e em Dourados fará estágio de dois meses no curso de Relações Internacionais.

A alemã Rabea Marie Wagner, 22 anos, é estudante de Medicina e na UFGD durante sessenta dias fará estágio na área de bioquímica.

Sofie e Rabea fazem parte do programa de estágio da IAESTE (International Association for the Exchange of Students for Technical Experience) entidade membro consultivo da Unesco. As duas estudantes falam fluentemente o inglês o que facilita o convívio na universidade com o apoio da tradutora Vanessa Gonçalves Silva.

Enquanto a chinesa e a alemã estão estudando a língua portuguesa no Centro de Línguas da UFGD, os representantes do Mercosul esbanjam simpatia e alegria e não dispensam a erva-mate, o tereré.

O paraguaio Maurício José Molinas Martinez, 23 anos, estuda agronomia na Universidade Nacional de Asunción e já se enturmou com os argentinos Tomaz Vanin, 22 e Maria Cecília Palmieri, 22, que a exemplo do paraguaio cursam agronomia. Ele na Universidad de Buenos Aires e ela na Universidad de Cuyo.

Os “hermanos” também ficarão dois meses no Brasil participando de atividades do curso de Agronomia da UFGD dentro do MARCA (Programa de Mobilidade Acadêmica Regional em Cursos Acreditados do Mercosul).

O continente africano também está presente com seis estudantes de Cabo Verde. Eles estão inseridos na UFGD pelo PFCM (Programa Formação Científica dos Alunos de Moçambique, Angola e Cabo Verde que visa possibilitar aos estudantes treinamento científico sob a orientação de pesquisado qualificado). Antes dos cabo-verdianos, quatro angolanos estiveram na UFGD no primeiro semestre deste ano.

Retintos e ultra simpáticos, os estudantes de Cabo Verde já se parecem com os brasileiros pela semelhança da língua, aspectos históricos e culturais. Na alimentação é que os africanos encontraram o maior desafio.  Eles têm uma dieta baseada em peixes e outros frutos do mar e ainda não conseguiram digerir tanta carne bovina.

Donzilia Suarez, Izaneth Valeriana, Carlos Alberto Furtado Pereira, Geraldino Andrade Carvalho, Carlos Tavares Correia e Carla Iria são jovens com pouco mais de vinte anos de idade que durante dois meses são a África na UFGD.

Donzilia, Carla e Izaneth vão atuar na área de iniciação científica em língua inglesa no curso de Letras.  Carlos Alberto que já esteve na França e Argélia está ligado a área de mediação e comunicação turística enquanto que Geraldino Andrade vai pesquisar aspectos ligados a filosofia política. Carlos Tavares é ligado a área de física.

Os onze estrangeiros já estão entrosados entre si e já estão aprendendo a conviver com os brasileiros. Rabea achou a região de Dourados muito bonita. Sofie achou tudo diferente e disse nunca ter visto um lugar que faça tanta festa. Maria Cecília tem pai chileno e disse que a cultura latina aproxima Argentina e Brasil. “É tudo muito parecido”, diz ela.

O também argentino Tomas Vanin gosta da alegria do brasileiro e como mora no interior do país de Peron diz que nos aspectos culturais e históricos tudo é parecido com o Brasil. O paraguaio Maurício é o mais guapo. Com uma guampa de tereré na mão comanda a alegria da turma de estrangeiros. Os africanos já se apaixonaram pelo amargo da erva-mate apesar de reclamaram do frio. “O brasileiro é muito amável”, disse o paraguaio.

Entre os africanos o frio é um grande empecilho. Donzilia e Izaneth lembram que “em Cabo Verde é verão o ano inteiro”.

Carlos Alberto, aos 26 anos é o mais velho entre os cabo-verdianos e assim como os demais africanos ainda não conseguiu comer carne vermelha. “É tanta carne”, disse Carlos ao afirmar que em seu país come-se peixe todos os dias.

Como Cabo Verde é formado por dez ilhas existe pouco espaço para a agricultura e pecuária. Tirando a carne o resto da alimentação dos africanos é parecida com o “arroz-com-feijão” tupiniquim. Com tantas festas nas repúblicas universitárias os africanos comandam a alegria e não descartam a possibilidade de “ficarem” ou namorarem uma brasileira.

Durante a permanência na UFGD, os onze estrangeiros contam com o apoio do ESAI (Escritório de Assuntos Internacionais) no tocante as questões jurídicas conforme afirmou a tradutora Vanessa Silva.

“A Universidade ganha muito com a presença dos estudantes estrangeiros”, disse Vanessa ao lembrar cada intercambista tem um “estudante padrinho” para poder se adaptar em Dourados. Segundo ela, cada estrangeiro é acompanhado por um professor para poder desenvolver suas atividades acadêmicas com sucesso.

Conforme informações do ESAI a UFGD também conta com o PEC-G (Programa Estudante Convênio) que possibilita que jovens de países africanos e da América Latina façam cursos de graduação.

Em 2010 vieram para a UFGD um peruano e um paraguaio que estão matriculados como alunos regulares. Em 2011 está prevista a vinda de um queniano. Além disso, segundo Vanessa, uma estudante de Taiwan também é estudante da UFGD, mas neste caso ela veio por conta própria sem a interveniência de intercâmbios ou acordos internacionais.

A UFGD, resultado da luta de três décadas dos douradenses, além de proporcionar a inclusão social através de facilidades para a inserção de estudantes pobres, índios e negros que ao longo da história brasileira passaram por um processo de exclusão do ensino superior.

Os cinco anos da Universidade Federal da Grande Dourados fecha um ciclo na história da educação e da política em Mato Grosso do Sul com a presença do presidente Lula nesta terça-feira.