MEC deixa estudantes prejudicados de fora da nova prova do Enem

 

Candidatos que afirmam ter recebido caderno amarelo com questões repetidas não receberam convocação para novo exame

 

Marina Morena Costa, iG São Paulo

 

O Ministério da Educação liberou ontem a consulta aos locais de aplicação da nova prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que será realizada na próxima quarta-feira (15). Entre todos os problemas ocorridos no teste deste ano, só estudantes prejudicados pelo erro de impressão no caderno amarelo seriam chamados para a segunda prova. Mas muitos candidatos que se enquadravam neste caso e aguardavam a notificação se decepcionaram ao entrar no site do Enem e constatar que não haviam sido convocados para refazer o exame.

 

Larissa da Silva, de 18 anos, relata ter recebido a prova amarela, no primeiro dia de Enem (6 de novembro), com sete páginas da prova branca. Com isso, 23 questões estavam repetidas. “As fiscais da minha sala não sabiam nos informar nada. Aconselhavam a responder a prova pela sequência numérica e fazer reclamações direto ao Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) no dia seguinte”, afirma. Larissa conta que as fiscais não propuseram a troca do caderno de perguntas.

 

A estudante não recebeu nenhuma comunicação do Inep, órgão do Ministério da Educação (MEC ) responsável pelo Enem, e não consegue acessar os locais de prova no site, o que significa que ela não está entre os convocados e refazer o exame. “São 23 questões que eu poderia ter acertado, mas me tiraram a oportunidade”, diz a estudante de Palma Sola (SC).

 

Em Recife (PE), Lorenna Costa, de 17 anos, também não recebeu a convocação para refazer o Enem. A estudante recebeu a prova amarela com erros e teve o caderno trocado pela cor branca, mas os fiscais não anotaram o problema na ata. “Demoraram mais de duas horas para trocar a minha prova. Fiquei nervosa e perdi muito tempo localizando as questões que eu já tinha respondido na amarela na prova branca”, conta. Lorenna afirma que não conseguiu terminar a prova e chutou metade das 90 questões.

 

Caso semelhante aconteceu com Marianna Cassa, de 16 anos, em Cachoeiro de Itapemirim (ES). A estudante teve a prova substituída com menos de 30 minutos de exame, mas também se sentiu prejudicada pelo tempo perdido. “Não deu tempo de ler tudo. Tive que chutar. A fiscal não estava preparada devidamente para saber que tinha que anotar meu nome na ata e declarar que fui prejudicada.”

 

André Ordacgy, defensor público da União no Rio de Janeiro, afirma que o entendimento atual da Justiça é que o MEC tem o direito de escolher quem refará a prova. “Os estudantes devem procurar a defensoria pública mais próxima e aderir as ações que estão sendo movidas”, aconselha.

 

Ordacgy ajuizou duas ações sobre o Enem: uma pede que os estudantes prejudicados sejam indenizados e outra propõe a mudança da data da reaplicação da prova. “Quem não foi convocado dificilmente conseguirá refazer o Enem, porque a prova deve ser reaplicada antes que a Justiça julgue o caso”, declara.

 

O Inep afirma que a convocação ainda está em processo e que estão sendo considerados os registros nas atas de sala de aplicação. O órgão diz ter solicitado ao consórcio responsável pela aplicação do Enem a revisão das atas.

 

Convocação errada

 

Ao contrário dos casos citados, Tainah Maria de Souza Lunge, de 17 anos, recebeu a convocação para refazer o Enem, mesmo sem ter tido problema. A estudante de Florianópolis (SC) ainah recebeu a prova amarela de Ciências Humanas e Ciências da Natureza com o caderno completo, sem erros de impressão ou questões repetidas. “Minha prova era completa, não fiz o requerimento para a segunda aplicação e acho que o fiscal não tinha motivo para incluir meu nome na ata. Levei um susto quando vi o e-mail (do MEC convocando para a prova)”, diz.

 

A estudante ficou confusa com a notificação, pois entendeu que seria obrigada a refazer a prova. No entanto, o MEC avisa que quem foi chamado e não refizer o Enem terá a nota da primeira prova considerada.

 

A nova prova do Enem será reaplicada em 218 municípios de 17 Estados. Pelo último levantamento divulgado pelo MEC, serão chamados pelo menos 2.817 candidatos para refazer a prova, mas este número pode ser maior.