Ministros em alta e em baixa – Descontentamento de Dilma com alguns ministros já chama a atenção em Brasília

BRASÍLIA – Com menos de cem dias de governo Dilma Rousseff, a cotação de integrantes do primeiro escalão já chama atenção no meio político em Brasília, com ecos no Palácio do Planalto, e é uma sinalização clara para a primeira reforma ministerial do atual governo. O ajuste no primeiro escalão do governo Dilma pode ocorrer antes mesmo do prazo padrão “de validade”, que é um ano de gestão. Em apenas dois meses de governo já corre nos bastidores uma avaliação informal da baixa atuação de alguns ministros: ou pela omissão ou por desempenho sofrível em crises pontuais ou mesmo pela ausência completa de desempenho. Mas também há um grupo de ministros que causou impressão acima da esperada na presidente Dilma.

Entre os que estão na coluna palaciana de “débitos” aparecem os ministros da Cultura, Ana de Hollanda, da Educação, Fernando Haddad, do Turismo, Pedro Novaes, dos Esportes, Orlando Silva, e até mesmo o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Já entre os que estão com cotação alta se destacam o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, que está muito afinado com Dilma, e o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, que já mereceu elogios da presidente pela atuação ágil diante das tragédias ambientais pelo país.

Essa cotação é o principal indicativo do que ocorrerá na primeira dança das cadeiras da Esplanada dos Ministérios do governo, ressaltou ao GLOBO um interlocutor frequente da presidente Dilma. Desde a transição de governo, a primeira equipe já era considerada provisória. Isso porque Dilma teve que ceder aos interesses dos partidos políticos e aceitar várias das indicações feitas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nesses exemplos estão os ministros Fernando Haddad, Orlando Silva e Guido Mantega. A situação de Haddad ficou desconfortável ainda em janeiro, depois da crise por causa das falhas no Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Mesmo afinado com as determinações de Dilma, no auge da crise do MEC, ainda é grande o incômodo no Planalto com as sucessivas falhas.

A situação de Orlando Silva é ainda mais delicada. Dilma queria que o PCdoB tivesse indicado a deputada Luciana Santos (PE) para o Ministério dos Esportes, o que não aconteceu. Além disso, o Planalto identificou uma articulação de Orlando Silva, com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), para enfraquecer o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, escolhido por Dilma para o comando da Autoridade Pública Olímpica (APO). Para amenizar a crise, a cúpula do PCdoB teve um jantar com Dilma no Palácio da Alvorada há duas semanas.

O titular da Fazenda foi aceito por Dilma por imposição de Lula e ela tem boa relação com ele, mas a presidente vai nomear para o cargo o atual secretário-executivo da pasta, Nelson Barbosa, na primeira oportunidade. No núcleo do governo, chamou a atenção o fato de Dilma ter desautorizado publicamente Mantega, ao falar de improviso pela primeira vez, por ocasião do anúncio do crescimento do PIB de 7,5% em 2010. Ela explicitou a preocupação do governo com a inflação depois de Mantega ter afirmado que o corte orçamentário não tinha a inflação como alvo direto.