No curso de medicina, cotistas tiveram que alcançar a nota mínima de 750 pontos. Em 2013, sem cotas, alunos tiveram pontuação de 685,3

Alunos que entraram, nesse ano, pelo sistema de cotas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) obtiveram notas melhores que os não cotistas no último vestibular, em 2013. Depois daquele ano, a seleção passou a utilizar exclusivamente o Sistema de Seleção Unificado (Sisu).

No curso de medicina, o mais concorrido, os cotistas tiveram que alcançar a nota mínima de 750 pontos para garantir uma vaga. Em 2013, os demais alunos tiveram pontuação de 685,3. Esse foi o primeiro ano em que 50% das vagas foram reservadas para o sistema de cotas, como prevê a lei.

Quem escolhe as vagas das cotas sabe que a cor da pele não é privilégio, muito pelo contrário. Talita Barreto enfrentou concorrência acirrada e conseguiu passar tanto em engenharia metalúrgica, na UFMG, quanto em música, na Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG).

Para ela, as cotas corrigem uma desigualdade histórica que os negros no país enfrentam. “Muita gente que é contra as cotas acha que os negros são menos capazes ou tem essa coisa de racismo, quando, na verdade, é o contrário. Os resultados têm demonstrado que a gente é tão capaz e as notas tem sido até melhores que do que da ampla concorrência. Não é, de maneira nenhuma, um privilégio”, afirma Talita, em entrevista à Rede Minas.

Lívia Teodoro, aprovada para o curso de história da UFMG, diz que, sem as cotas, não teria essa oportunidade. “Eu nunca achei que se eu não fosse entrar na federal, por ser menos inteligente do que qualquer pessoa que está lá dentro, mas sempre achei que não fosse conseguir entrar porque pessoas que crescem numa estrutura privilegiada têm mais chances de entrar.”

Para o sociólogo Moisés Augusto Gonçalves, da Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC-MG), as cotas trouxeram resultados que devem ser comemorados, mas tem muita coisa ainda a ser feita. “É preciso políticas que garantam o ingresso, minimizando a desigualdade, e políticas que garantam a permanência. Mas também é preciso fazer com que as expectativas se transformem em perspectivas concretas. Ou seja, que as pessoas vislumbrem horizontes.”

Lívia e Talita já pensam no futuro. “Já estou pensando na minha pós-graduação, no Rio de Janeiro, em história da África e diáspora, que é estudar os povos da África trazidos para cá. Estou muito animada com isso”, conta Lívia. “Quero fazer uma pós e procurar me especializar. Tenho muita vontade de fazer intercâmbio também. Quero sugar o máximo que puder da universidade”, afirma Talita.

Rede Brasil Atual