O ensino superior em segundo plano

As crianças são o futuro de uma nação e por isso é preciso investir em todas as áreas que pavimentem um caminho seguro como saúde e educação. Mas é preciso abranger também outras faixas etárias tão importantes para tirar o Brasil do atraso e fazer com que ele concorra em pé de igualdade com as potências mundiais. De olho na erradicação do analfabetismo e na necessidade de colocar todas as crianças na escola, os sucessivos governos fizeram pouco pelo ensino superior e o que se revela agora, em um estudo da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), é que o Brasil está em último lugar em um grupo de 36 países avaliados em percentual de graduados na população de 25 a 64 anos.

Segundo o estudo, apenas 11% dos brasileiros nesta faixa etária têm diploma universitário enquanto no Chile este índice é de 24% e na Rússia é de 54%, mesmo que lá uma parte importante das matrículas seja paga. Os números são de 2008 e o governo já tratou de colocar “panos quentes” tão logo a informação foi divulgada, garantindo que ao longo destes últimos anos já houve uma evolução dessa taxa, ou seja, o número anual de formandos teria triplicado no país na última década e este índice estaria hoje próximo de 17%.

Fato é que programas de acesso ao ensino superior como o Reuni, ProUni e Fies ainda se mostram ineficientes, seja por sua abrangência falha ou pelo número de exigências que restringe o acesso de muitos jovens. Além disso, os incentivos à entrada no ensino superior deveriam acontecer ainda no ensino médio. Apesar de o mercado de trabalho revelar essa necessidade na prática, é preciso despertar o jovem para esta realidade, a de que um diploma de curso superior favorece, e muito, a sua vida profissional. Infelizmente esta “ambição” positiva ainda não faz parte da vida de muitos jovens adultos brasileiros, que tão logo deixam o ensino médio entram no mercado de trabalho pela pura e simples urgência financeira, se sujeitando a salários baixos e a uma condição que em nada favorece o crescimento profissional. Isso sem falar naqueles que abandonam os estudos antes mesmo de concluir o ensino fundamental, seja porque precisam ajudar em casa ou porque são vítimas da má qualidade da educação brasileira com professores desmotivados, escolas deficientes e muito pouco atrativas.

As autoridades em educação no país reconhecem a existência deste gargalo entre os ensinos médio e superior, ilustrado principalmente pela estagnação no número de vagas nas universidades, especialmente as públicas. Vale lembrar que o Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece como meta chegar a 33% da população de 18 a 24 anos matriculados no ensino superior até 2020.

Conhecedores deste atraso, é hora de os governantes começarem a agir, ao invés de tentar minimizar os números como já é de costume no Brasil. Será uma corrida contra o tempo, mas há que se aproveitar o que já vem sendo feito, obviamente tornando melhores e mais abrangentes estas ferramentas que levam o jovem – principalmente o mais carente e desmotivado – até a sala de aula de uma universidade. Mais do que isso, é urgente mudar paradigmas e criar na sociedade a cultura de priorizar a educação, do ensino fundamental à universidade, pois só ela é a garantia de um futuro profissional seguro e estável.