Os 10 mandamentos

Entramos em quatro dos colégios do Rio de Janeiro que estão entre os melhores no ranking do Enem 2009 para descobrir quais os segredos do seu sucesso

A divulgação do ranking das escolas no Enem costuma causar polêmica. Sempre tem colégio rejeitando o (mal) resultado ou governos tentando buscar explicações para o – já habitual – fracasso da rede pública. Mas do que ninguém pode discordar é que as escolas que chegam ao topo têm algo a ensinar às demais e, até mesmo, aos atuais vestibulandos.

Por isso, a Mega invadiu quatro dos colégios mais bem colocados na prova e encontrou dez razões comuns a todos eles para seu sucesso.

No São Bento, que manteve a ponta no estado, a explicação para a queda do primeiro para o terceiro lugar nacionalmente foi o chamado “efeito UFRJ”: muitos estudantes preferiram deixar a redação de lado, já que não valeria para o vestibular da federal.

Nada que abale a convicção na forte exigência dos alunos e num currículo que inclui até aulas de cultura clássica.

Surpresa no Enem 2009, o A.

Liessin pulou do 10opara o segundo lugar no estado. Lá, desenvolver a capacidade crítica dos alunos é apontado como peça fundamental para o bom resultado numa prova que exige bastante interpretação.

No CAp Uerj, que subiu duas posições, chegando a quarto, os professores afirmam que, apesar dos resultados de excelência, a escola não está livre dos problemas que afetam o resto da rede estadual, como a falta de verbas.

Além de um corpo docente qualificado, o esforço feito em conjunto com alunos é a chave para superar as adversidades.

E o Andrews, que levou o quinto lugar, depois de ficar em 11oem 2008, atribui a melhora a uma reformulação feita há cinco anos. O quadro de professores foi renovado, e o foco no último ano passou a ser a aprovação no vestibular.

Desvendamos ainda o sucesso surpreendente do Piauí, que emplacou seis escolas entre as 50 melhores do país.

1. PROFESSOR TAMBÉM NÃO PARA DE ESTUDAR

Toda vez que alguém sobre carreira profissional, uma palavrinha aparece: qualificação.

Antes até de começar faculdade, você já que pós-graduação cada vez mais importante.

No caso dos professores de ensino médio, essa não chega uma exigência, mas bastante desejável.

Os mais bem colocados no Enem 2009, todos os colégios possuem professores com mestrado e até doutorado, principalmente no último ano.

Apesar da grande maioria ter algum tipo pós-graduação, esta é uma condição do colégio. Mas incentivamos quem quer continuar estudando. Até porque isso terá um retorno para os próprios alunos – explica Maria Pedrosa, supervis pedagógica do Bento.

2. DE MANHÃ, DE TARDE, Araújo: superação no CAp Uerj.

DE NOITE…

Os estudantes podem até reclamar, dizer que é cansativo, mas passar o dia inteiro no colégio dá resultado. Entre os mais bem colocados no Enem, todos têm aula de manhã e de tarde no 3oano. No CAp Uerj e no Colégio de São Bento, o horário é integral desde o início do ensino médio. Já no Andrews e no A. Liessin, a carga aumenta gradualmente.

E o esforço não termina no fim do dia.

– A gente tem aula todo dia, de 7h20 até 16h50. E, mesmo depois de tudo, quando chega em casa, ainda tem mais trabalho para fazer, dever de casa.

É bem puxado – conta Clarice Figueiredo, aluna do 3 oano do Andrews.

3. PAIS NO COLÉGIO, MAS SEM BRONCA

Quando os pais são chamados no colégio, é porque a situação ficou feia, e muita gente já começa a arrancar os cabelos com medo do que vem por aí, certo? Bem, não necessariamente.

Nas escolas que conseguiram bons resultados no Enem, os pais participam de reuniões e encontros individuais. No Colégio A. Liessin, a comunicação com os pais já entrou na era digital.

Até os boletins são enviados por e-mail enquanto os alunos ainda estão na escola. Adiar a entrega das notas vermelhas virou coisa do passado.

– Quando vem o boletim, eu chego em casa e meu pai já sabe das notas – conta Helena Azulay, aluna do 3º ano.

4. APRENDENDO FORA DA SALA DE AULA

O segredo do sucesso dos mais bem colocados no ranking do Enem não está apenas em bons professores, bons alunos e boas aulas. Para além das quatro paredes, há diversas atividades. No CAp Uerj, todo ano é realizada uma olimpíada de esportes que dura uma semana. No A. Liessin, as estudantes Helena Azulay e Flávia Bardovsky já viajaram para diversos países da América Latina para jogar handebol.

Já o colega Simon Travancas é figurinha fácil nas olimpíadas escolares de Física, Matemática e Astronomia. No São Bento, os alunos têm aula de Cultura Clássica, História da Arte e História da Música Erudita.

5. CANAL ABERTO ENTRE PROFESSORES E ALUNOS

O tempo em que professores e alunos se encontravam apenas na sala de aula está no passado, ao menos, nas escolas que conseguiram um bom resultado no Enem.

O clima de respeito e de amizade entre todos foi apontado por os estudantes como um fator determinante para seu sucesso.

No Andrews, o canal de comunicação está sempre aberto.

– Ao mesmo tempo em que há disciplina, a gente se dá bem com os professores, o clima é muito bom entre todo mundo. Para mim, esse é o grande diferencial. E aqui você não é tratado como mais um, a individualidade é levada em conta – diz Igor Ribeiro, aluno do colégio.

6. AULA NO QUADRO, NA TV, NO COMPUTADOR…

Já se foi o tempo em que usar material multimídia na sala de aula era sinônimo de exibição de um filme. Nos colégios bem colocados no ranking do Enem, tecnologia não falta. Cada vez mais, os professores usam as aulas data-show, vídeos, lousa interativa e simuladores (no computador, é claro).

7. PROVA SÁBADO? TEM SIM, SENHOR!

Os alunos do São Bento falam – meio de brincadeira, meio a sério – que é mais difícil passar de ano do que ser aprovado no vestibular.

E há um fundo de verdade nisso. No colégio, os estudantes são liberados mais cedo na sexta-feira, mas não é para começar a curtir o fim de semana. É porque todo sábado encaram quatro horas de prova. No Andrews, também há testes nesse dia, e a galera só se livra nos feriados prolongados.

No CAp Uerj, sábado tem aula normal durante o ano inteiro. Já no A. Liessin, o domingo é que, volta e meia, faz a semana começar mais cedo, já que o sábado é dia de descanso para os judeus.

8. FORMAÇÃO CONTINUADA É O QUE MESMO?

Quando se fala em educação, o termo “formação continuada” dos professores costuma aparecer, mas não explica muita coisa, certo? Nas escolas, assim são chamadas as reuniões entre os professores e a equipe pedagógica.

Todas aquelas siglas indecifráveis, como SOE (Serviço de Orientação Educacional), trabalham para que tudo dê certo dentro da sala de aula. Ou você acha que tudo termina quando o professor vai embora? Esses encontros servem para, por exemplo, evitar que o mesmo conteúdo seja dado duas vezes para a mesma turma em anos diferentes. E funciona também para atualizar a própria equipe sobre as novidades nos processos seletivos, como a mudança no perfil da prova do Enem.

9. PRÁTICA PARA ENTENDER A TEORIA

Nas aulas de física, o mundo é sempre per feito: não há atrito nem resistência do ar. Nas de química então, todas as reações dão cer to dentro das Condições Normais de Temperatura e Pressão (CNTP). Assim, para sair da abstração do quadro negro só dentro dos laboratórios. Todos os colégios que sederam bem no Enem contam com instalações para aulas práticas.

No caso da CAp Uerj, os alunos ainda são incentivados a participar de projetos de pesquisa na universidade ou na Fiocruz. Segundo os professores, é uma ótima maneira de os alunos descobrirem as suas aptidões e decidirem qual carreira seguir.

10. PREPARAÇÃO SÓ NO ÚLTIMO ANO?

A cena é comum quando começa o 3º ano: o cara que nunca estudou na vida decide que agora vai ser diferente.

Só que não funciona bem assim. Apesar de cada colégio encarar o vestibular de uma maneira diferente, o consenso entre eles é que o resultado final é construído ao longo do tempo.

No São Bento, por exemplo, só há entrada de novos alunos na 1 asérie do ensino médio e o último ano é considerado a conclusão do processo.

Mesmo assim, eles promovem projetos voltados para os principais exames: UFRJ, Uerj e Enem.

Dentro dos projetos, há aulas direcionadas, simulados, e estudo dos modelos de questão. No CAp Uerj e no Andrews, professores de diferentes matérias dão aulas juntos, com foco nas provas interdisciplinares.