‘A Pachamama e o ser humano’, um passo para a sabedoria

O ser humano ainda não deu, pelo menos até agora, uma resposta adequada sobre como tratou a mãe-terra. Em vez de buscar um equilíbrio para uma paz duradoura, optou pelas guerras, fabricação de armas, a espoliação e exploração da natureza até o cansaço, um mundo de ricos, pobres, famintos, escravos… de raças “superiores e civilizadas” e de “inferiores e selvagens”.

As religiões também não alcançaram o equilíbrio necessário nem o respeito à vida, não somente do ser humano, mas de tudo o que existe. Pelo contrário, elaboraram instituições e categorias discriminadoras e cruéis: inquisições, santos e pecadores, ímpios e genuflexos.

Em A Pachamama e o ser humano, livro de Eugenio Raul Zaffaroni publicado pela Editora da UFSC, essas ideias são explicitadas, mas costuradas com informações de ordem científica e filosófica. A obra aborda ainda, e talvez principalmente, a questão da ecologia, em especial da violência social, particularmente contra os animais.

Zaffaroni é um jurista argentino, ministro da Suprema Corte de 2003 a 2014 e professor emérito da Universidade de Buenos Aires e faz, segundo Leonardo Boff, uma crítica ao paradigma dominante, surgido com os pais fundadores da modernidade dos séculos XVI e XVII que introduziram um rompimento profundo entre o ser humano e a natureza. “O contrato natural, presente nas culturas desde tempos imemoriais, do Ocidente e do Oriente, sofreu um corte fatal e letal”, diz Boff. Segundo ele, o livro se insere entre as melhores contribuições de ordem ecológica e filosófica que se tem escrito ultimamente. “Fica na esteira da encíclica do papa Francisco, também argentino, Laudato Si: sobre o cuidado da Casa Comum de 2015.”

Para Leonardo Boff, o argentino Zaffaroni enfrenta com coragem e liberdade crítica os principais defensores do pensamento moderno como Hegel, Spencer, Darwin e Heidegger e trata a questão do animal visto como sujeito de direitos. “A nosso juízo, o bem jurídico no delito de maus-tratos a animais não é senão o direito do próprio animal de não ser objeto da crueldade humana”.

Já Osvaldo Bayer acredita que Raul Zaffaroni entrega uma bibliografia aberta a todas as opiniões e ideologias, um registro que pode ser qualificado como íntegro e justo e reflete sobre o mundo que deixamos para as próximas gerações.

A Pachamama e o ser humano
Eugenio Raul Zaffaroni
Editora da UFSC
119 páginas – 2017