UFPE – Seminário celebra parceria Brasil-França e alerta sobre cortes no financiamento das universidades

Programa é a parceria mais antiga da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)

A abertura do seminário alusivo aos 40 anos do Programa Capes/Cofecub, realizada ontem (19), no Mar Hotel, em Boa Viagem, além de celebrar essa cooperação científica bem sucedida entre Brasil e França, deixou um alerta contra os recentes bloqueios governamentais no financiamento das instituições de ensino superior brasileiras e as ameaças às Ciências Sociais. O programa é a parceria mais antiga da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Em seu discurso, o reitor Anísio Brasileiro destacou a importância da realização do evento neste momento em que os cortes no orçamento impedem o funcionamento adequado das universidades. Anísio lembrou que o programa começou no Nordeste e, desde o início, investiu nas Ciências Humanas, sabendo da importância dessa área do conhecimento.

O embaixador da França no Brasil, Michel Miraillet, externou sua preocupação com os cortes no orçamento e as ameaças às Ciências Sociais. “O Brasil e a França têm uma forte cooperação nessa área, e ninguém pode não se sensibilizar com as ameaças a esse campo do conhecimento.” Para ele, o êxito do Capes/Cofecub se deve aos pesquisadores brasileiros e franceses, que souberam tirar proveito desse dispositivo para cooperar cientificamente.

Segundo Anísio Brasileiro, hoje há 1,3 mil cursos de pós-graduação no Nordeste, o que corresponde a 22% da pós-graduação brasileira. Dizendo sentir “orgulho e satisfação” em realizar os 40 anos do programa no Recife, ele aproveitou para se despedir. “Estou no fim do meu mandato de oito anos e encerro minha carreira na gestão pública. Desejo o fortalecimento da nossa cooperação solidária entre os povos em benefício da educação pública”, finalizou o reitor.

Já o assessor do reitor para o intercâmbio entre os hospitais da UFPE e da França, Silvio Romero Marques, disse que “o forte da UFPE é a cooperação internacional. E o programa é importante para tornar mais forte e levar adiante a nossa universidade”.

“Estamos orgulhosos de estar aqui comemorando os 40 anos do programa, no Nordeste, onde tudo começou”, disse o presidente do Cofecub, Bernard Dreyfus. Ele também lamentou o corte do governo brasileiro na área de Ciências Humanas, que sempre teve financiamento conjunto dos dois países. No ano passado, foram 31 projetos na área. “Apoiamos as universidades brasileiras neste momento difícil”, afirmou.

Segundo o presidente da Capes, Anderson Correia, a coordenação está trabalhando para amenizar os cortes no financiamento e diminuir os impactos na pós-graduação, preservando, por exemplo, o Programa de Internacionalização (Print), criado para estimular a formação de redes de pesquisas internacionais, que tem como um dos principais parceiros a França.

De acordo com Anderson Correia, entre 2006 e 2017, as matrículas de pós-graduação no Nordeste triplicaram, sendo a UFPE o principal expoente na região. Ele salientou a importância de dar continuidade ao programa com a França, “que é referência na pesquisa e é número 1 em colaboração com a indústria”. “Essa parceria tende a aumentar a qualidade e a quantidade da nossa ciência”, vaticinou.

HOMENAGEM – A cerimônia de abertura foi encerrada com uma homenagem a Michel Guillou, fundador e primeiro presidente do Cofecub (Comitê Francês de Avaliação da Cooperação Universitária com o Brasil), que faleceu em 2018. O ex-presidente do Cofecub Pierre Jaisson fez uma apresentação sobre o trabalho de Guillou que, para ele, foi um visionário da cooperação internacional da França.

Segundo Jaisson, os 12 primeiros anos do Capes/Cofecub foram voltados para a qualificação dos professores do Nordeste, onde poucos tinham doutorado. Em algumas das universidades, apenas 10% dos professores eram titulados como doutores. O ex-presidente citou a Farmácia, o grupo de Física de Lasers e a Informática como exemplos de áreas beneficiadas pelo programa na UFPE.

“Ao longo dos 40 anos, o programa formou de 3,5 mil a 4 mil doutores, dos quais mais de 80% brasileiros”, revelou. Para ele, o programa serviu para reforçar o potencial científico brasileiro, apoiando a boa ciência e a pós-graduação.