Site travado irrita estudantes

Candidatos a vagas em universidades que prestaram o Enem reclamam de lentidão virtual
Hoje, das 6h às 23h59, é o último dia da primeira de três etapas para que os 2,6 milhões de estudantes que realizaram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) possam entrar no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para trocar de curso ou realizar a inscrição em uma das 51 instituições que adotaram a prova como forma de seleção. Até as 20h30 de ontem, 850 mil estudantes entraram no sistema pelo menos uma vez, mas apenas 632 mil realizaram a inscrição, ou seja, menos de um quarto dos candidatos do Enem. Essa baixa procura pode ocorrer devido ao problema que muitos alunos estão encontrando para acessar o site. Alguns deixaram para o último dia, ou até mesmo desistiram de concorrer a uma vaga, por causa da lentidão e das mensagens de erro no sistema.

O estudante Igor Silva Lima, 17 anos, se inscreveu para uma vaga no curso de ciências biológicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). Mas ele conta que, apesar de o site explicar bem como funciona o sistema, o problema foi ter paciência para aguentar as mensagens de erro que apareciam constantemente. “Eu demorei mais de uma hora para conseguir finalizar o processo. A todo instante, o sistema caía ou dava erro e eu tinha que voltar alguns passos. Acredito que isso fez com que muitos alunos tenham desistido ou esperado o último dia para ver se melhorava o problema”, conta.

Aguardar até a última hora foi a opção de Júlia de Amorim, 17 anos, que tenta uma vaga no curso de fisioterapia na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Meus amigos me falaram que estava difícil acessar o sistema, então eu achei melhor esperar um pouco e ver se melhora”, explica.

Porém, de acordo com a assessoria do Ministério da Educação (MEC), essa não é a justificativa para o resultado do número de inscrições. Como destacou, a expectativa de total de pessoas inscritas em um dos 974 cursos oferecidos é de 800 mil estudantes. “Nesses 2,6 milhões de inscritos, tem gente que faz a prova apenas para testar, outros miram uma bolsa no Prouni (Programa Universidade para Todos), que será lançado até o fim desta semana. E há aqueles que sabem que não têm nota suficiente para conquistar uma vaga. Então, se o sistema chegar a 800 mil vagas, já será espetacular”, afirmou a assessoria do órgão, por meio de nota.

Consulta
Para ajudar na escolha do curso, o MEC lançou ontem uma nova forma de consulta. Ao acessar a página do Sisu, o candidato poderá, antes de fazer o login e informar a senha, consultar o número de inscritos por curso, a relação candidato-vaga, a maior nota entre os inscritos e a nota de corte, que é atualizada ao fim de cada dia, entre as 23h59 e as 6h. “A nova modalidade de consulta foi implantada para auxiliar os candidatos no momento da escolha do curso nos últimos dias de inscrição da primeira etapa”, explica nota divulgada pelo MEC.

Os alunos que não conseguirem entrar nesta etapa terão mais duas chances. De 15 a 20 de fevereiro, o MEC iniciará a segunda parte do processo, que consiste em ocupar as vagas que não foram preenchidas. Acontecerá também uma terceira etapa, semelhante à segunda, e que está marcada entre 1º e 3 de março.

Entrevista: Joaquim José Soares Neto
Democratização das vagas públicas
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Joaquim José Soares Neto, esteve ontem no Correio e participou de um chat com estudantes para tirar dúvidas sobre o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) e falar sobre o Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Mesmo com a dificuldade de alguns candidatos em acessar o portal na internet, Neto afirmou que não existe a possibilidade de prorrogar o prazo de inscrição da primeira etapa, que termina hoje. Ele comentou também que, apesar dos diversos problemas encontrados durante o processo, como o vazamento das provas e o adiamento do Enem no ano passado, o balanço do trabalho é positivo.

Qual avaliação o senhor faz do Enem?
O balanço é positivo no sentido de que o Enem foi aplicado dentro das condições de segurança exigidas para um prova desse tipo. Os resultados foram divulgados e esta semana os alunos estão entrando no sistema para fazer suas escolhas em relação aos cursos. Estamos vendo um novo panorama em relação à questão de como as vagas públicas estão sendo distribuídas.

Como o Inep avalia a mobilidade dos estudantes pelo país? Por exemplo, o estudante que sai de Brasília para cursar uma faculdade no Nordeste…
O que nós estamos vivendo no momento é a democratização das vagas públicas. Um estudante que mora em determinado local do país pode disputar as vagas das universidades públicas de qualquer outro lugar sem ter que comprar passagem e pagar diária de hotel. Isso viabiliza que os estudantes possam disputar as vagas públicas disponíveis em todo o país.

As grandes universidades devem aderir ao Enem a partir da próxima edição?
Ao verem o grande avanço que ocorreu este ano, a tendência é que todas as universidades venham a aceitar o Enem como forma de ingresso.

Luiza Seixas – Correio Braziliense, 03/02