UFES – Pesquisadores descrevem sinal radiológico de pacientes com lesões de micose no cérebro

Pesquisadores do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Ufes descreveram um novo sinal radiológico, presente em 100% dos pacientes com paracoccidioidomicose (micose progressiva causada por Paracoccidioides brasiliensis) que apresentam lesões semelhantes a tumores no cérebro. O artigo sobre a pesquisa está na edição de outubro da American Journal of Neuroradiology. Esse tipo de micose é comum no Brasil, no entanto a incidência no sistema nervoso central não é tão frequente, segundo os pesquisadores.

O sinal – em formato duplo halo – ajuda a pensar na doença provocada pelo fungo Paracoccidioides spp em áreas endêmicas, auxiliando no diagnóstico e no pronto tratamento dos pacientes. Com a identificação desse sinal, é possível evitar que as lesões provocadas pelo fungo sejam confundidas com​ neoplasias malignas (câncer) no cérebro.

A American Journal of Neuroradiology é uma das mais renomadas revistas da área de neurorradiologia do mundo. Um dos pesquisadores, o professor de radiologia Marcos Rosa, atribui a aceitação do artigo Paracoccidioidomicose do sistema nervoso central: achados de imagem por tomografia computadorizada e ressonância magnética, que já saiu na versão on-line da revista, a esse achado de imagem e ao fato de ser o maior número de casos reunidos num estudo sobre a paracoccidioidomicose (PCM) no sistema nervoso central. Os dados são de 24 pacientes, atendidos entre os anos de 1979 e 2019.

Micose sistêmica

O Ministério da Saúde aponta, em seu site, que a PCM é a principal micose sistêmica no Brasil. É provocada pela inalação do fungo Paracoccidioides spp. Está relacionada com o “manejo do solo contaminado” em “atividades agrícolas, terraplenagem, preparo de solo, práticas de jardinagens, transporte de produtos vegetais, entre outras”. Não há contaminação de pessoa para pessoa nem de animais para humanos. “A maioria dos indivíduos que adoeceram com a PCM apresenta história de atividade agrícola exercida nas duas primeiras décadas de vida”, indica o Ministério da Saúde.

O professor Marcos Rosa explica que o fungo, presente no solo, é inalado e se aloja nos pulmões. A consequência mais frequente são lesões pulmonares, na pele ​e nas mucosas, mas pode atingir outros órgãos se o fungo entrar na corrente sanguínea. A doença pode levar à morte se houver demora para iniciar o tratamento. “Em geral, os pacientes são agricultores que têm contato com o fungo. A pessoa pode desenvolver fibrose pulmonar, o que​ pode levar à insuficiência respiratória se não for tratada”, afirma o professor.

A incidência de PCM no sistema nervoso central não é tão frequente no mundo, mas, no Espírito Santo, surgem de um a dois casos por ano. “Antes dessa nossa pesquisa, havia estudos publicados com número menor de casos. Nosso artigo traz 24 pacientes”, informa Marcos Rosa.

A pesquisa apresenta os principais aspectos de imagem elencados na tomografia e na ressonância magnética dos pacientes com lesões ocasionadas pelo fungo no sistema nervoso central. Os estudos foram conduzidos em parceria entre os professores da radiologia e da infectologia da Ufes, em conjunto com o Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam-Ufes). Participaram os professores Marcos Rosa e Paulo Peçanha, do Departamento de Clínica Médica; Aloísio Falqueto, do Departamento de Medicina Social; Sarah Gonçalves, do Departamento de Patologia; e Tânia Velloso, do Departamento de Clínica Odontológica.