UFES – Pesquisadores ligam comorbidade a faixa etária para avaliar risco de morte por COVID-19

Qual a influência de diferentes comorbidades no risco de morte por COVID-19 para distintas faixas etárias? A partir desse questionamento, dois pesquisadores da Ufes iniciaram um estudo, buscando avaliar a relação de diferentes comorbidades com o risco de morte pelo novo coronavírus em diferentes idades. Foram analisados 60.430 casos no Espírito Santo, incluindo pacientes com e sem comorbidade. A pesquisa utilizou como base de dados o site Painel COVID-19, do Governo do Estado, com informações coletadas no final de julho.

Responsáveis pelo estudo, os professores Adonai Lacruz e Hélio Zanquetto Filho, do Departamento de Administração, dividiram o trabalho em três fases. A primeira analisou as comorbidades (problemas de saúde pré-existentes) de forma exclusiva, ou seja, infectados que têm só diabetes ou só problemas cardíacos, por exemplo. As conclusões dessa etapa reiteraram informações já amplamente divulgadas: que o risco de morte é menor nas faixas de idade inferiores a 40 anos e que o percentual de mortes por COVID-19 é maior em pacientes com comorbidade. “Após a finalização dessa fase, também entendemos que as comorbidades impactam de maneira diferente as faixas de idade e isso não se sabia até então”, conta o professor Lacruz.

Segunda fase

Atualmente, na fase dois, os estudos estão concentrados na análise das comorbidades combinadas duas a duas, como doentes que apresentam diabetes aliada a obesidade, por exemplo. Os pesquisadores utilizaram uma técnica denominada regressão logística, por meio da qual foi possível determinar, de forma isolada, o efeito de cada comorbidade no risco de morte em cada faixa etária e, assim, identificar as comorbidades mais influentes no risco de óbito. “Em outras palavras, analisamos a influência da comorbidade entre pessoas com apenas uma comorbidade e pessoas sem nenhuma comorbidade”, explica Lacruz.

O estudo concluiu que, entre 30 e 39 anos, doenças renais, cardiovasculares, obesidade e diabetes aumentaram o risco de morte, sendo a diabetes a comorbidade com maior influência. Já para a faixa etária de 40 a 49 anos, a doença renal apresentou o maior impacto, seguida por tabagismo e diabetes. “Assim, identificamos evidência de que diferentes comorbidades aumentam o risco de morte de forma distinta por faixa etária”, analisa o professor Lacruz.

O pesquisador lembra que comorbidades que não se mostraram significantes do ponto de vista estatístico, como enfermidades no pulmão, podem se relacionar com outras doenças pré-existentes, como a diabetes, e gerar efeito cruzado, podendo impactar no risco de morte: “Análises preliminares sobre isso mostram que o risco de morte aumenta de 0,52%, no grupo sem comorbidade, para 10,67%. Ou seja, um aumento de 1.952% no risco de morte”.

Ainda sem data definida de início, a fase três da pesquisa vai se concentrar nas outras variáveis relacionadas ao risco de morte pela COVID-19, como ser ou não profissional de saúde.

Lacruz e Zanquetto são ligados ao Departamento de Administração e, embora atuem no setor de negócios, afirmam agregar o conhecimento em análise de dados a favor das pesquisas sobre o novo coronavírus. “O conhecimento sobre a COVID-19 tem sido construído de uma forma muito atípica. Se soubéssemos no início o que sabemos hoje, é possível que menos pessoas tivessem sido infectadas e morrido. Logo, todo esforço é válido”, conclui Lacruz.

 

Texto: Adriana Damasceno
Edição: Thereza Marinho