UFRA – Pesquisadora alerta sobre os riscos de receber e plantar sementes de origem desconhecida

Nas últimas semanas vários brasileiros tem recebido sementes pelos Correios, ainda que não tenham solicitado o produto. O fato chamou a atenção da Secretaria de Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que emitiu um alerta para que a população entregue esse material aos órgãos de fiscalização. A recomendação do Mapa é que as pessoas que receberem essas sementes, não abram o pacote e nem tente plantá-las.

De acordo com a professora Iris Lettiere, Agrônoma da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e que trabalha com Fitopatologia e manejo de doenças de plantas, o alerta é importante e preventivo. Segundo a pesquisadora, se plantadas, as sementes de origem desconhecida podem ser de espécies exóticas ou estar infectadas com fitopatógenos, que podem se proliferar e causar danos econômicos para as cadeias produtivas agrícolas de importância econômica, sendo fonte de inóculo para disseminação de focos e estabelecimento da praga no território de introdução, além do aumento no custo de produção do plantio afetado.

“Esse material propagativo vegetal, que são as sementes e mudas, quando oriundas de outros países também podem estar infectados com fitopátogenos, como os fungos, bactérias, vírus e nematóides exóticos. São pragas classificadas como quarentenárias do tipo A1, que estão ausentes no Brasil, e que se introduzidas podem causar prejuízos às cadeias produtivas e até entraves econômicos, impedindo o acesso à mercados internacionais onde a praga introduzida esteja ausente”, alerta. A pesquisadora cita como exemplo um nematóide do trigo Anguina tritici, exemplo de praga quarentaria (ausente no país) do tipo A1, que se introduzida no Brasil pode trazer prejuízos econômicos à cultura do trigo, pois permanece viavél em média 30 anos associados a semente.

Em análise feita pelo Mapa, verificou-se que as sementes são de plantas ornamentais e frutíferas e vieram de países asiáticos, principalmente da China. A análise feita também identificou que essas sementes possuem a presença de ácaros, fungos, bactérias e pelo menos quatro tipos de ervas daninhas, que não existem no Brasil.

Segundo a pesquisadora, esse material, antes da introdução no país, deve passar por período de quarentena e por testes de sanidade vegetal realizados pelos órgãos oficiais de Defesa Sanitária Vegetal. As sementes asiáticas que chegam ao país precisam ser coletadas e submetidas à técnicas laboratoriais de detecção de microrganismos. É então realizado o diagnóstico da espécie e feita uma comparação, na literatura especializada, com a lista de pragas quarentenárias atualizadas pelo MAPA e posteriormente o material é descartado.

exemplo de fungo Aspergillus niger, não exótico e comum, presente em sementes

A professora explica que pragas quarentenárias A1 são as pragas que não têm ocorrência no Brasil e são exóticas, mas se introduzidas tem risco de impacto econômico às áreas expostas . Já as pragas quarentenárias A2 estão presentes no país, mas não em todas as regiões ou estados da federação, e estão sob controle oficial. “Então, há a fiscalização do material vegetal para não levar da região de ocorrência para outras que não tem a praga”, diz.

Existem relatos no Brasil de mudas propagativas infectadas, a maioria com fitopatógenos de uma região produtora para outra. De acordo com a pesquisadora, no Pará, um dos registros é da década de 90. “Aqui no estado, em 1998, houve a introdução do virus do endurecimento dos frutos do maracujazeiro, Passion fruit woodiness virus (PWV) por mudas infectadas oriundas dos estados da Bahia e Minas Gerais. No entanto, nos anos 2000, com a criação das Agências de defesa sanitária estaduais houve aumento da fiscalização e inspeção de sementes e mudas, além de monitoramento de pragas coibindo a introdução de doenças e trânsito de material vegetal entre estados sem fiscalização, tornando-as restritas a determinadas regiões ou estados, classificadas como pragas quarentenárias do tipo A2”, diz.

Quem porventura receber essas sementes, deve entregá-las aos órgãos de fiscalização de sanidade vegetal, encaminhando o material para a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará) no seu municipio ou ao MAPA para a análise sanitária das sementes.

Até agora, o Mapa já recebeu 258 pacotes com sementes, recolhidos em 24 estados, além do Distrito Federal. Até a última atualização feita pelo Ministério (06/10), 04 desses pacotes foram recebidos e registrados no Pará. Segundo informações do site do Ministério, desde o ano passado houve um aumento de cerca de 150% no número de apreensões desse tipo de material na central de distribuições dos Correios em Curitiba, local onde é centralizada a inspeção de pacotes de menor peso (até 2 kg).

Texto: Vanessa Monteiro, jornalista, Ascom Ufra

Fotos: Laboratório de Fitopatologia da Ufra