Veículos aéreos não tripulados podem ser utilizados em situações de desastre natural, na área médica e na agricultura, entre outras aplicações

Um dos avanços tecnológicos recentes capazes de revolucionar a história da humanidade é o desenvolvimento de veículos aéreos não tripulados, também chamados de VANTs. Um estudo doLascar – Laboratório de Controle, Automação e Robótica da UFRGS emprega drones com o intuito de programá-los para identificar, em sobrevoo, elementos pré-estabelecidos pelo pesquisador.

A ideia é muito útil para várias áreas, explica o professor da Escola de Engenharia Edison Pignaton de Freitas, um dos pesquisadores do Lascar. Em uma situação de desastre natural, por exemplo, é possível empregar os drones para buscar vítimas de um acidente, ou, até mesmo, para mapear áreas com o intuito de prever novas catástrofes. Na área militar, podem ser usados para o monitoramento de fronteiras e de áreas de mata fechada, como na Amazônia. Na agricultura, os equipamentos procuram padrões nas colheitas, identificando pestes, deformações no crescimento das plantas, alterações na ocupação do terreno etc.

Outras aplicações incluem: segurança pública, para monitoramento de multidões em grandes eventos e auxilio de policias na captura de suspeitos em locais de difícil movimentação; manutenção preventiva predial e de estruturas, como busca por rachaduras e pontos que necessitem de reparos em pontes e prédios; segurança privada, para vigilância automatizada de depósitos e residências; emergências médicas, como levar um equipamento desfibrilador a uma pessoa que teve um ataque cardíaco, ou algum outro aparelho, a um local onde uma ambulância demoraria muito tempo para chegar devido ao trânsito, já em teste pela Universidade de Delft, Holanda.

O sistema em estudo pela UFRGS funciona basicamente por meio da análise de imagens obtidas pelo próprio equipamento, por uma câmera fotográfica acoplada a ele. A novidade é que os cientistas conseguiram, a partir do hardware e do software empregados, criar drones autônomos: capazes de planejar sozinhos a rota de voo, a partir das imagens captadas. Ao encontrar uma situação que se encaixe na descrição indicada pelo pesquisador, o robô realiza uma tarefa, que pode ser emitir um alarme, se aproximar e captar uma nova fotografia com maior resolução, entre outros. No caso de busca de uma vítima de desastre, por exemplo, ele pode soar um aviso sonoro para acionar equipes de resgate.

Agricultura de precisão – Os cientistas do Lascar testaram o emprego dos drones inteligentes na agricultura, com o intuito de criar um banco de dados de imagens agrícolas em lavouras experimentais de milho e de trigo. Os robôs varreram uma área de plantio em busca de variações de cor, de altura e de textura das culturas. A proposta era a de testar se os equipamentos encontravam essas situações, anteriormente mapeadas pelos especialistas, o que ocorreu com sucesso nas saídas de campo do grupo.

“Dentro do total da área, havia vários lotes, distinguíveis por tipo e quantidade de adubo, e abundância de irrigação. O que se buscou foi identificar as diferenças entre esses lotes a partir de imagens aéreas”, comenta o professor.

Esses levantamentos são particularmente importantes porque ajudam a comparar, por exemplo, o desenvolvimento de diferentes tipos de sementes, bem como o impacto dos fertilizantes na plantação. Também é possível obter informações sobre incidência de doenças, eficiência dos adubos e da irrigação utilizada. A partir da análise dos dados obtidos, a agricultura pode valer-se de novas técnicas de modo a obter um melhor aproveitamento do solo.

Os resultados obtidos com o experimento são preliminares, ainda são necessárias diversas melhorias, tanto nos equipamentos empregados quanto no software utilizado. Em um momento em que se questiona a humanidade a respeito de uma possível crise de alimentos, é imprescindível que a ciência se dedique a buscar soluções para essas demandas.

Para que o sistema chegue às lavouras brasileiras, precisa ser transformado em produto, a partir da utilização de materiais mais resistentes e da melhoria da usabilidade do software. “Só que isto é papel da indústria”, adverte Freitas. “Nosso papel como universidade é desenvolver o conhecimento, a tecnologia. A indústria, a partir deste ponto, deve transformar isso em produto comercializável. Além do mais, existe uma questão legal que não pode ser ignorada. O voo de drones, ou VANTs (veículos aéreos não tripulados), não está regulamentado ainda. Existem propostas e estudos nesse sentido, mas não há em vigor norma que regulamente a utilização desses equipamentos”, finaliza.

Comunicação UFRGS