Após pressão, formação de professor terá menos teoria e mais aula prática

Um dos principais pedidos de ministros e secretários de Educação começa a ser atendido por USP, Unesp e Unicamp: cursos que formam professores para o ensino básico estão em reformulação, com aumento da carga horária para atividades práticas.

O ministro Aloizio Mercadante e o secretário de Educação de SP, Herman Voorwald, já reclamaram publicamente que os estudantes de pedagogia e de licenciatura se formam sem saber ensinar, pois tiveram excesso de teoria.

Os formados em pedagogia atuam como professores do ensino infantil e nos primeiros anos do ensino fundamental; os de licenciatura, nas demais séries.

As alterações nas instituições paulistas só começaram, porém, após o Conselho Estadual de Educação intervir no processo. O órgão normativo determinou que currículos de licenciatura devem ter ao menos 30% da carga horária destinada a atividades didático-pedagógicas.

Segundo a conselheira Rose Neubauer, uma das autoras da norma, havia cursos em que esse índice era de 10% (ela não quis citar quais).

Pesquisa feita pela também conselheira Bernardete Gatti apontou que, no país, a média da carga para atividades práticas chega a apenas 10% em algumas áreas de formação de docentes, como a de ciências biológicas.

“Os cursos se preocupam mais em formar um físico, um químico, um matemático, do que um professor”, afirmou Neubauer. Num primeiro momento, as universidades contestaram a regra, de 2012. Pediram a revogação e ameaçaram entrar na Justiça.

O conselho manteve a decisão e passou a ameaçar não conceder a renovação para funcionamento dos cursos, conforme a Folha revelou ano passado. Sem isso, não poderiam emitir diplomas.

Pressionadas, as universidades decidiram concordar com a regra. A adaptação começou neste ano e já abrangeu 44 (60%) dos cursos analisados pelo conselho. Os demais estão em processo de revisão ou sob análise.

A norma exige ainda que 50% do estágio obrigatório seja cumprido em salas de aula das escolas. Também passaram a ser obrigatórias aulas de português na graduação. As medidas valem para pedagogia e licenciatura.

 

ADAPTAÇÃO

Entre os cursos que já se adaptaram está o de química, do campus central da USP. Para aumentar a carga horária de disciplinas relacionadas ao ensino, foram reduzidas as que tratam de química especificamente, o que causou reclamações do coordenador do curso (leia mais ao lado).

Para o presidente do Consed (representante de secretários estaduais de Educação), Eduardo Deschamps, “a formação dos professores tem sido muito conceitual e teórica. A norma do conselho parece bem equilibrada”.

Já o pesquisador Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da USP, afirma que a regra tem alcance limitado.

“Nem nos melhores [cursos] do mundo o estudante sai da universidade já preparado para lecionar. O que é fundamental é o acompanhamento desses jovens professores nas redes”, disse.

Apesar de ter apenas 1,5% das matrículas dos cursos de licenciatura do país, as três universidades paulistas são consideradas guias para as demais instituições.

EXIGÊNCIAS

Coordenador dos cursos de licenciatura do Instituto de Química, do campus central da USP, Flavio Maximiano reclama das exigências e do processo posto pelo Conselho Estadual de Educação paulista.

O curso possuía 26% da carga para atividades didático-pedagógicas. Para chegar aos 30% exigidos, mudou diversas matérias. As eletivas de química (8,8% do currículo antigo) e história da ciência (2%), por exemplo, desapareceram. Subiram as didático-pedagógicas e optativas.

Fábio Takahashi – Folha de S. Paulo