Dobra procura por mestrado profissional

Curso de pós com foco maior no mercado de trabalho ganha preferência de empresas e atrai 10 mil estudantes no país. Em geral, modalidade tem carga horária maior que especializações e MBAs; número de cursos cresce 150%

DE SÃO PAULO
O publicitário Gabriel Alvares de Lima, 29, procurava uma pós-graduação em administração para melhorar os procedimentos de sua empresa de consultoria. Pesquisou MBAs, mas achou o conteúdo incompleto. O mestrado convencional era inviável por exigir dedicação integral. A opção encontrada por Lima foi o mestrado profissional, uma modalidade com cerca de dez anos que tem crescido -o número de programas (cursos) aumentou 150% em cinco anos. O número de matriculados quase dobrou desde 2005, chegando a mais de 10 mil estudantes, aproximadamente 10% do mestrado no país.

A modalidade é a principal aposta da Capes (órgão do Ministério da Educação responsável pela pós-graduação brasileira) para qualificar a mão de obra, principalmente de profissionais com experiência. E o mercado já começou a absorver a ideia. A Telefônica, por exemplo, prefere o mestrado profissional ao acadêmico no programa de subsídio para pós-graduandos, devido à maior aplicabilidade do conteúdo e à flexibilidade do horário (as aulas podem ser noturnas). “É a união que a indústria sempre quis:             conhecimento acadêmico e aplicabilidade profissional”, afirma o supervisor de treinamento e desenvolvimentismo da Ford, Gilson Filho. A companhia tem convênio específico na área com o Senai/Cimatec, na Bahia.

DIFERENÇAS – O mestrado profissional, em geral, conta com uma carga horária maior que MBAs e especializações. E os cursos são avaliados pelo governo. Em relação ao mestrado acadêmico, a grande diferença é o foco. No profissional, são abordadas mais questões do mercado de trabalho. “Cada modalidade tem um público”, diz a vice-diretora acadêmica da Escola de Administração de São Paulo (FGV), Maria José Tonelli. “Quem quer um primeiro contato com a área pode fazer o MBA. Se a pessoa já tem mais experiência, o mestrado profissional é mais indicado, por ser mais aprofundado.” As diferenças aparecem também no preço. No Insper, por exemplo, o MBA executivo custa R$ 57 mil, e o mestrado profissional em administração, R$ 70 mil. Para o mercado de trabalho, de uma forma geral, a modalidade de pós-graduação não é o primordial, diz o diretor       da Catho Educação, Constantino Cavalheiro. “A empresa considera mais a reputação da escola e a coerência do curso com o plano de carreira do candidato”, afirma. Diversas áreas possuem cursos de mestrado profissional. Algumas das quais há mais oferta são administração, engenharia e ensino (ciências e matemática).

HISTÓRICO – O formato de mestrado profissional começou a ser discutido nos anos 1990. “A ideia era organizar a pós, porque estavam surgindo muitos MBAs, sem controle”, diz o pesquisador de ensino superior Oscar Hipólito, que integrou as primeiras comissões da Capes que discutiram a modalidade. Segundo Hipólito, o mestrado profissional atende hoje um público que estava sem opção e, por isso, não chega a prejudicar as demais modalidades de pós-graduação. “É uma opção que deve crescer, mas há problemas”, afirmou o coordenador do mestrado profissional em administração do Insper, Danny Claro. “Houve escolas que abriram cursos ruins, e as empresas passaram a ver como mestrado de segunda. Só há uns cinco anos isso começou a ser recuperado.”
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