Ana dos Santos Linhares deixou de lado as festas e os passeios, encarou 12 horas de estudo por dia e acabou recompensada com a aprovação em seis das melhores faculdades de medicina

Assim como inúmeros outros universitários, Ana dos Santos Linhares encarou o desafio de estudar longe de casa. Mas há algo de inusitado no caso dessa brasiliense de 19 anos. Ela passou não em uma nem duas instituições, mas em seis. E mais: foi aprovada, em todas elas, no concorrido curso de medicina. Nos seis vestibulares, feitos no fim do ano, Ana alcançou desempenho acima da média. Sem muito tempo para comemorar, ela teve de se preparar para um desafio tão grande quanto encarar os exames: a mudança para a cidade de São Paulo, onde já começaram as aulas na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

“Estou ansiosa. Já chorei, dei gargalhadas, morri de medo da mudança e logo em seguida vibrei com a novidade. É um turbilhão de emoções indescritível”, afirma. O calendário regular na Unifesp foi aberto esta semana, mas, para a futura médica, o ritmo de preparo para as aulas começou antes do carnaval . “Arrumar apartamento – que será dividido com outras colegas de universidade -, providenciar livros, organizar rotinas. É muita coisa, a ficha está caindo só agora”, afirmou .

Após a formatura no ensino médio, ela foi aprovada na Universidade de Brasília (UnB) e chegou a cursar um ano de ciências políticas, em 2009. “Vi que não era aquilo o que eu realmente queria. Para desespero da minha mãe, larguei tudo e decidi me dedicar a um novo vestibular”, conta. A escolha exigiu da jovem esforço redobrado para encarar a nova rotina de estudos. “Quem escolhe medicina tem que colocar na cabeça que, para se sair bem, tem que ser bom em tudo. Eu não tinha esse perfil ainda. Tive que exercitar bastante e enfrentar algumas dificuldades nesse caminho”, lembra.

Ana deixou de lado as festas, as sessões de cinema, as tardes de passeio com os amigos e as idas ao Teatro Nacional para estudar cerca de 12 horas por dia. O esforço, reconhecido por colegas de sala e professores, ajudou a estudante a melhorar significativamente seu rendimento nos estudos. “Em sala de aula, era visível o crescimento da Ana”, lembra Everton de Almeida Menezes, professor de química no curso pré-vestibular em que a jovem se matriculou no segundo semestre de 2010.

Para segurar a onda pesada de estudos, Ana recorreu à meditação e à prática de flauta. “Cheguei a um ponto em que o cansaço, físico e mental, me abalou. Meditei todos os dias para ajudar a equilibrar a rotina. Nas horas de maior estresse, tirava alguns minutos para a flauta, instrumento que toco desde os 14 anos”, conta. O cursinho e o apoio para manter o estresse sob controle também foram importantes. “Tentamos trabalhar juntos questões ligadas à confiança e ao emocional”, afirma o professor Everton.

Foco

Para Ana, a escolha da universidade teve como parâmetro aquelas instituições que possuem os melhores cursos de medicina, independentemente do local para onde isso a levaria. “Meu critério de escolha das universidades foi a qualidade do ensino, e sempre pensei que seria uma transição tranquila sair da minha cidade e do conforto da minha casa, onde vivo sozinha com minha mãe”, explica.

O treinamento para a nova vida começou meses antes, com apoio da mãe: a jovem lava a própria roupa, aprendeu a cozinhar e organizar as atividades domésticas, como a arrumação do quarto. O maior sofrimento para Ana, no entanto, não vai ser a adaptação à vida de responsabilidades. “A falta que minha mãe fará será enorme. Afinal, em nossa casa, somos só eu e ela. Mas nós sabemos que a distância é para meu bem. Vou morrer de saudades, dela e do Gato, nosso bichano de estimação. Já teve dias em que cheguei em casa e chorei, abraçada com meu bichinho”, ri a graduanda, emocionada.

Medalhas de ouro para Ana

De sete vestibulares prestados entre novembro e janeiro, a jovem de 19 anos foi aprovada em seis faculdades de medicina:

São Paulo – Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) – Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Rio de Janeiro – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio)

Paraíba – Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

Pernambuco – Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Distrito Federal – Escola Superior de Ciências da Saúde (Escs)