UNIFEI – Estudo nos tempos do Coronavírus

A Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI, por meio de seu Conselho de Ensino, Pesquisa, Extensão e Administração, o CEPEAd, deliberou sobre a instalação do RTE, Regime de Tratamento Excepcional, que permitirá que os alunos da UNIFEI possam continuar seus estudos de forma não presencial.

Afinal, o fato de não podermos disponibilizar, presencialmente, o ensino dos nossos cursos de graduação nesse período de enfrentamento da pandemia não significa que devemos continuar, indefinidamente, sem atividade alguma. Vamos fazer o que é possível, da melhor forma possível. Os alunos que não possuem internet ou computadores para atender as atividades do RTE não serão desamparados em absoluto, pois o farão presencialmente quando a pandemia acabar, capitalizando os recursos que foram produzidos pelo RTE.

Gostaríamos de fazer mais, mas é o que é possível ser feito nesse momento, pois a Universidade não possui recursos financeiros para comprar computadores ou alugar internet para atender a todos os alunos que se encontram em situação de fragilidade econômica.

Permitir que parte expressiva de nossos estudantes possam continuar seus cursos, apesar dessas imensas dificuldades, é algo muito importante. Afinal, estudar é trabalhar e, nesse sentido, o RTE poderá contribuir para enfrentar parte das dificuldades emocionais a que nossos alunos possam estar sujeitos.

Para que vocês tenham uma ideia, há, hoje, uma centena de alunos ilhados em dezenas de repúblicas, tanto em Itajubá quanto em Itabira, e que precisam ser ocupados de forma útil nesse momento de distanciamento social. Mesmo muitos de nossos alunos que hoje se encontram junto aos seus familiares poderão se utilizar do RTE não apenas pelo aprendizado, mas também pelo propósito que o estudo fornece em ocupar de maneira produtiva o tempo de cada um. Acredito que isso será um alento emocional fantástico para cada um de nossos alunos e também para seus familiares, que verão a vida seguindo em frente, apesar das dificuldades.

Mas há muita desinformação e incompreensão associada a essa nobre iniciativa de nossa Universidade. Por isso, é importante destacar que a decisão tomada pelo CEPEAd para implementar o RTE foi amparada por portarias do Ministério da Educação – o MEC – e respaldada pelo Conselho Nacional de Educação. Essa resolução é simples: se o aluno não vai trancar sua matrícula, então ele deverá seguir o RTE, seja imediatamente ou logo ao término da pandemia, de acordo com as possibilidades de cada um. Adicionalmente, o RTE permitirá aos nossos servidores cumprirem de maneira mais efetiva suas obrigações profissionais.

Na contramão dessa iniciativa, para justificar a paralisação das atividades acadêmicas dos alunos de graduação, o Diretório Central dos Estudantes – DCE – defendeu a tese de que já que não se pode, imediatamente, atender a todos os alunos, então ninguém deveria ser atendido. Além do que o RTE provocaria perda de qualidade do ensino, alegam eles.

Como se já não estivéssemos reféns da indeterminação da duração da pandemia, ainda teríamos de aguardar paralisados, o que implicaria em suspensão imediata do calendário acadêmico com risco de afetar até mesmo a formatura dos alunos. Pior ainda, caso a proposta do DCE fosse aprovada, cerca de 500 estudantes perderiam 788 auxílios do Plano Nacional de Assistência Estudantil – PNAES, de creche, de alimentação e de moradia. Isso porque as universidades que decidiram suspender indefinidamente o calendário enfrentarão um grave problema quanto à manutenção do PNAES. A razão é óbvia: legalmente, o auxílio PNAES objetiva apoiar os estudantes assistidos na permanência e na dedicação aos estudos. Simples assim.

Da mesma forma, afirmar que a qualidade será reduzida no RTE não é algo que deva ser, necessariamente, aceito como verdade. O RTE compreenderá uma série de ferramentas computacionais, simples e intuitivas, que permitirão aos discentes ter esse material e, a partir dele, dialogar remotamente com os docentes. Portanto, a afirmação do DCE de que a “Universidade não assegurou que todos os discentes e docentes tenham esses mecanismos de tecnologia, informação e comunicação” é desmerecer a capacidade de discentes e docentes no uso dessas ferramentas. É óbvio que há aqueles que têm maior ou menor afinidade com a tecnologia, mas daí a afirmar que a qualidade seria prejudicada é um pouco demais! Até porque haverá apoio para que todos se familiarizem e usem esse ferramental tecnológico, que é razoavelmente simples, diga-se de passagem. Parte desse suporte virá de mais de 50 monitores bolsistas discentes que darão suporte aos docentes que dele precisarem. Isso não é trivial e nem todas as universidades públicas utilizam seu orçamento com essa ênfase para essa finalidade.

Certamente, ocorrerão dificuldades, mas é nas dificuldades que povos, instituições e mesmo indivíduos progridem e avançam. Nesse sentido, a UNIFEI disponibiliza em seu Centro de Educação, o CEDUC, estrutura que permite o aprimoramento e a atualização tecnológica de práticas pedagógicas para auxiliar no enfrentamento das dificuldades que aparecerão. O CEDUC possui 7 bolsistas discentes, com um edital aberto de mais 5, para auxiliar aqueles docentes que precisarão de assessoramento. Aliás, vale a pena fazer uma visita na página do CEDUC para conhecer vários tutoriais já disponíveis para recursos educacionais e para o MOODLE, uma ferramenta consagrada para cursos virtuais. Tenho certeza de que muitos dos nossos docentes tirarão proveito do RTE, experiência essa que, posteriormente, será também capitalizada no ensino presencial, pois é assim que ocorre nas melhores universidades internacionais, um misto de presencial com recursos on line.

Felizmente, a imensa maioria de nossos docentes, na medida em que já são comprometidos com o ensino presencial, também o serão no RTE. São esses que, certamente, se esforçarão para fazer o melhor possível. São esses que recebem seus salários não para fazerem o que é fácil ou conveniente, mas para o que é necessário.

Há, no entanto, uma minoria que cria dificuldades ao colocar obstáculos a praticamente tudo, e não é diferente no caso dos estudos não presenciais. São esses que, frequentemente, tentam usar nossos alunos como massa de manobra para seus interesses diante dos desafios, que eles próprios não têm coragem de enfrentar de peito aberto. De tocaia em nossas redes sociais, chegam alguns a criar outras páginas para serem verdadeiros clubes do ódio, cujos organizadores não se sabe ainda quem são. Nessas mídias, esse tipo de gente destila opiniões de maneira abusiva e covarde. Via de regra, parte dos que nelas vicejam são os campeões das reclamações de nossos alunos, seja por não cumprirem o plano de ensino, seja pela não obediência ao calendário acadêmico, pela forma como conduzem o processo avaliativo e, mesmo, pela maneira como tratam nossos alunos. São esses que, provavelmente, prefeririam nada fazer e até antecipar suas férias, porque acreditam que não importa o que façam, pois, no final do mês, o salário vem. São indivíduos, pessoas da comunidade acadêmica, ou que parasitam no seu entorno, que não se cansam em enxovalhar o conceito de democracia, na premissa de que democracia é quando concordam com elas, caso contrário é ditadura. Para esse tipo de gente, déspotas são os outros. São esses indivíduos que dão má fama ao servidor público, na medida em que, negando-se a atender os filhos dos pagadores de impostos, extorquem a sociedade que lhes garante a paga mensal. A conduta dessas pessoas, muitas vezes anônimas, comumente sem nenhum registro formal de autoria, é um tapa nas caras dos alunos que querem e precisam estudar, de seus familiares e da sociedade como um todo.

Mais do que em outro momento, é agora, nessa crise, que as universidades públicas têm que cumprir seu papel. Quem pensa o contrário, seja o aluno que não quer estudar, seja o servidor docente ou técnico-administrativo que não quer trabalhar, é que está, de fato, destruindo a universidade pública, gratuita e inclusiva.

Para aqueles que abraçaram a causa de trabalhar, não importando as dificuldades, a fim de que nossos alunos tenham aulas, ainda que não presenciais, meus agradecimentos e meus respeitos! São essas as pessoas que estão, de fato, defendendo a universidade pública. O resto é conversa fiada, extremismo ideológico que nenhum valor agrega e que só destrói.

Apesar desse período terrível, com a pandemia da COVID-19 provocando mortes e falências em um cenário que, sem alarmismo, tende a piorar, a UNIFEI está bravamente procurando cumprir seu papel em prol dos seus alunos e da sociedade.

Decidimos, primeiramente, retirar nossos alunos de nossos campi para que não houvesse aglomeração e risco de contágio. Em seguida, já no dia seguinte, estabelecemos o trabalho remoto para nossos servidores. Por último, parte expressiva da Administração Central e da Reitoria foi também assistida, mas parte expressiva ainda continua, diariamente e na maior parte das vezes presencialmente, trabalhando na linha de frente, utilizando recursos de gestão on line, para criar os meios necessários para que essa magnifica instituição não pare.

Já normalizamos a maioria das atividades de pós-graduação e dos cursos de EAD, que, aos poucos, estão voltando para um mínimo de normalidade. Passamos agora para o ensino de graduação com o RTE. Tenho certeza de que os alunos perceberão que isso será uma coisa boa para eles, assim como tenho certeza de que isso será conseguido graças ao apoio da maior parte de nossos servidores docentes e técnico-administrativos, que farão o máximo para que essa maravilhosa instituição cumpra seu papel e ajude o Brasil a amenizar um pouco esse quadro de dificuldades.

Muito obrigado a todos!

Professor Dagoberto Alves de Almeida

Reitor da Universidade Federal de Itajubá

 

Fonte: UNIFEI