UFSC – Pesquisa revela nova perspectiva para diagnóstico e tratamento da tuberculose

André Báfica, coordenador da pesquisa. Foto: Felipe Sales

Estudo realizado por pesquisadores do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina (MIP/UFSC) – em parceria com a Universidade de Leuven (Bélgica), com o Laboratório de Saúde Pública de Santa Catarina (LACEN/SC) e a Universidade de Rockefeller, em Nova Iorque – demonstra o processo de infecção da tuberculose nos seres humanos e sugere processo de co-evolução entre a bactéria causadora da doença e a espécie humana. O estudo, com publicação na revista científica eLife nesta terça-feira, 22 de outubro, abre importante caminho para o diagnóstico e futuras terapias à tuberculose.

Pesquisa demonstra como ocorre a doença

A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível que afeta principalmente os pulmões, embora possa acometer outros órgãos. Causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis (ou bacilo de Koch), a tuberculose é, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma das dez maiores causas de morte no mundo. No Brasil, a doença é um sério problema da saúde pública, com aproximadamente 70 mil novos casos e cerca de 4,5 mil mortes por ano.

No estudo coordenado por André Báfica, professor do Laboratório de Imunobiologia da UFSC, foi encontrada a conexão entre a doença e as células tronco hematopoiéticas (precursoras dos glóbulos sanguíneos). A bactéria causadora da tuberculose consegue sobreviver no corpo humano a partir infecção das células tronco hematopoiéticas, fazendo-as responder com um processo de amadurecimento das células, o que dá origem à resposta imunológica geradora de células de defesa do organismo, chamadas monócitos.

Desta forma, é possível que os monócitos atinjam a corrente sanguínea e, consequentemente, tecidos, geralmente, o pulmão. Os autores do trabalho constataram também que o bacilo de Koch induz citocinas – hormônios de comunicação do sistema imunológico – geradoras de inflamação. Dentre as citocinas analisadas, a interleucina 6 se destacou como a possibilidade de um alvo para a terapia em pacientes infectados com tuberculose no futuro.

Ancestralidade

A segunda parte do estudo analisou a relação de ancestralidade entre a bactéria e o homo sapiens. Por meio de análises de biologia de sistemas, observou-se que as citocinas começaram uma forma diferente de regulação somente em humanos. Essa rede de regulação trouxe à tona a hipótese de que a bactéria causadora da tuberculose se aloja nos seres humanos por conta do processo de uma nova conexão entre as citocinas durante a evolução da espécie humana.
Se confirmada essa possibilidade, será possível afirmar a existência de uma relação específica da Mycobacterium tuberculosis com os seres humanos e não com outros animais. Essa perspectiva pode ser a chave para novos estudos que relacionam a bactéria causadora da tuberculose com o sistema imunológico, pois aponta a um processo de co-evolução entre o bacilo de Koch e a espécie humana.

Os resultados do trabalho foram publicados na revista científica eLife. O acesso ao estudo, sob a forma preprint bioRxiv, pode ser realizado aqui.