“Vamos trabalhar de forma prioritária sobre a autonomia e o financiamento das universidades”

O novo presidente da Andifes, Alan Barbiero, é graduado em Agronomia pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Durante a vida universitária, destacou-se por seu desempenho acadêmico e sua liderança junto aos discentes, presidindo o Diretório Central dos Estudantes (DCE/UFG) no período de 1987 a 1989. Em 1990, mudou-se para a França, onde fez pós-graduação nas Universidades de Paris X – Nanterre e Paris I – Sorbonne. Ao voltar para o Brasil, em 1993, seguiu carreira acadêmica, em seu estado natal, ingressando como professor da Universidade do Tocantins (UNITINS). Foi eleito Diretor do Centro de Ciências Agrárias daquela instituição em 1994, e, pró-reitor de Pesquisa e Desenvolvimento (1996). Em 2001, concluiu doutorado na Universidade de Brasília (UnB) e na Universidade de Quebéc em Montreal (UQAM). Em 2003 foi eleito primeiro reitor da Universidade Federal do Tocantins (UFT), sendo também o reitor mais novo das universidades federais. Reeleito em 2008, fica à frente da UFT até 2012, onde também se dedica à vida acadêmica como professor e pesquisador em Sociologia. Publicou livros sobre a formação de blocos econômicos e a participação da sociedade civil. Na Andifes, o reitor Alan Barbiero foi suplente do vice da região Norte na gestão 2005/2006, suplente do 1º vice-presidente do mandato 2006/2007 e 2º vice-presidente na gestão 2007/2008. Depois de empossado em cerimônia no Recife no dia 5 de junho, o reitor Alan Barbiero concedeu entrevista ao Portal Andifes.
 
Portal Andifes – O que te motivou a disputar a presidência da Andifes?
Reitor Alan – Eu fui incentivado por vários colegas reitores. O processo envolveu um debate qualificado de idéias, com a participação do Pleno e dos outros candidatos. Além disso, me motivei principalmente pelo desafio, pelo momento que o Ensino Superior está vivendo e a possibilidade de contribuir para a consolidação, fortalecimento e expansão do sistema de Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes). Estamos em um momento de muitos avanços, mas há uma necessidade de concluí-los e preparar o sistema para a nova fase do Ensino Superior no Brasil, discutindo, por exemplo, o financiamento das Ifes, pauta que já colocamos para o debate no seminário sobre o Desenvolvimento do Brasil e o financiamento da Universidade Federal Brasileira, realizado em Recife no dia 5 de junho.
 
Portal Andifes – Quais são as principais pautas a serem contempladas no seu plano de trabalho?
Reitor Alan – Nós temos uma agenda bastante extensa, ainda não concluída. Vamos trabalhar de forma prioritária sobre a autonomia e o financiamento das universidades. Além disso, temos que fazer um bom acompanhamento da expansão fase 1, que priorizou a interiorização das universidades, e da expansão promovida pelo Reuni, um programa extremamente complexo e que envolve a participação da Andifes na busca da melhor maneira de cumprir com o acordo de metas estabelecido entre as Ifes e o MEC. Nós também estamos assumindo a pauta do Programa de Apoio à Pós-Graduação nas Ifes, o PAPG-Ifes, pois acreditamos que, da mesma forma  que a graduação teve uma forte expansão e atendeu à demanda da sociedade, temos ainda uma demanda crescente na pós-graduação. Temos que dar à pós a mesma dimensão da graduação, porque é no entorno da pós-graduação que se gera boa parte da pesquisa, produção científica e inovação no país; por isso o PAPG é uma questão fundamental. Outra questão à qual nos próximos 12 meses teremos que nos dedicar bastante é a contribuição das universidades para o fortalecimento da Educação Básica. Também temos a discussão sobre o novo Enem e a possibilidade de induzir o Ensino Médio, a reestruturação dos Hospitais Universitários e a transformação dos Centros Federais de Educação Tecnológica de Minas Gerais e do Rio de Janeiro em Universidades Tecnológicas. São as principais ações que a nossa diretoria pretende desenvolver; não há como mudar essa agenda, que é extensa e básica para as universidades. Além das pautas pontuais, também reforçaremos a relação institucional com o parlamento, a sociedade civil organizada e os vários setores do governo.
 
Portal Andifes – O presidente Lula pediu uma proposta sobre autonomia para a segunda quinzena de julho e o orçamento da União para o próximo ano é fechado em agosto. Espera-se já alguma mudança para o próximo ano?
Reitor Alan – Nós vamos intensificar e priorizar o debate sobre autonomia, o ponto mais importante entre esses que apresentei anteriormente, pois implica outros desdobramentos. O presidente nos deu uma data, pois ele gostaria de concluir essa agenda nos próximos meses, a partir de uma reunião com os reitores e outros atores envolvidos. Na nossa primeira reunião do Pleno, a pauta será praticamente exclusiva sobre autonomia, para vencermos esse tema, que é fundamental.
 
Portal Andifes – No mesmo dia da reunião com o presidente, ele assinou o adicional do Plantão Hospitalar. Quais as expectativas para o processo de reestruturação dos Hospitais?
Reitor Alan – Nós tivemos recentemente um trabalho feito pela Secretaria de Educação Superior (Sesu/MEC), um diagnóstico sobre os hospitais universitários e um apontamento para um programa de reestruturação. Acreditamos que nesses próximos meses vamos ter grandes avanços. No que diz respeito à política de financiamento e pessoal, por exemplo, como disse o ministro da Educação Fernando Haddad, esperamos uma possibilidade de repactuar a contratualização dos HUs, que são 100% SUS.
 
Portal Andifes – Durante sua posse, o senhor enfatizou bastante a questão do Programa de Apoio à Pós-Graduação, o PAPG-Ifes. A portaria que o institui já saiu, falta a nomeação de um grupo. Quais são os próximos passos?
Reitor Alan –
O plano do PAPG já está sendo desenhado e coordenado por alguns reitores e pró-reitores de pesquisa e pós-graduação. Nós queremos apresentá-lo com muita urgência, porque sabemos que a proposta de orçamento para 2010 será apresentada pelo Executivo a partir de agosto. Se queremos implementá-lo para o ano que vem, teremos que concluir esse cronograma de ações que começou a partir de um diagnóstico feito em todas as universidades para saber sobre os programas existentes, as demandas e as necessidades de investimento. Então esse trabalho está praticamente pronto e, após a formação desse grupo interministerial, com a participação da Andifes, MCT e MEC, queremos inserir já no orçamento de 2010 ações dentro do PAPG.
 
Portal Andifes – Como o senhor avalia a reunião com o presidente Lula e a interlocução da Andifes com o governo federal?
Reitor Alan –
A reunião com o presidente é muito importante para todos nós, especialmente pelo fato de o presidente receber os reitores anualmente, sentar conosco, construir uma agenda e procurar saber de nós quais são as principais demandas. O reitor Amaro Lins (UFPE) fez um relato muito interessante e demonstrou que, de 2003 pra cá, apresentamos uma agenda e concluimos boa parte dela, garantindo a ampliação de oferta na graduação, ampliação da pós-graduação, a formação de professores. Então, percebemos um grande avanço, como a própria condução sobre os hospitais universitários. Esse feedback que nós temos com o presidente é muito importante. Motivou-nos muito a partir daquela reunião, a tomada de decisão do presidente em relação à autonomia universitária. Isso foi uma decisão política muito importante de um presidente da República, que pode ser, talvez, um dos maiores legados do governo Lula para a sociedade brasileira, que é dar às universidades a tão almejada autonomia para que elas cumpram mais ainda sua missão.
 
Portal Andifes – Esse ano a Andifes completou 20 anos. Como o senhor avalia a atuação da entidade?
Reitor Alan –
A Andifes se transformou num dos agentes políticos mais importantes para discutir a Educação Superior no Brasil, a educação em geral e também temas estratégicos para o desenvolvimento nacional. A Andifes, hoje, é uma Associação muito respeitada no Brasil, tem interferido na definição de importantes ações do governo federal, sempre contribuindo no sentido de propor melhorias, como a política de expansão, o Plano Nacional de Assistência Estudantil e a Lei Orgânica de autonomia, algumas das principais idéias surgidas na entidade, e também aprimorar as idéias vindas de outros interlocutores. Isso tudo foi o resultado da contribuição de cada reitor durante esses 20 anos, de cada presidente e foi uma construção difícil, pois passamos um período na história das universidades brasileiras de pouco apoio governamental. Estamos vivendo um novo momento agora, e foi um somatório, uma contribuição histórica de cada gestão. Por isso temos um desafio muito grande. A cada ano, a Andifes foi crescendo, se fortalecendo, e queremos, ao final de nossa gestão, deixá-la ainda maior.