‘Há problemas nas instituições, mas eles são pontuais’, Entrevista com Maria Paula Dallari

Ela lembra que há alguns anos as universidades mal conseguiam pagar as contas e afirma que hoje elas têm novo papel

Nas novas universidades federais, queixas de alunos são comuns. Com a criação das instituições e a abertura de mais de cem câmpus, surge a discussão se era necessário fazer tudo ao mesmo tempo. Em entrevista ao Estado, a secretária de Ensino Superior do Ministério da Educação, Maria Paula Dallari Bucci, afirma que a pasta deu conta do recado e que os problemas são pontuais. É preciso lembrar, diz ela, que há alguns anos as universidades mal conseguiam pagar as contas. "Tudo o que falarmos deve partir desse quadro." A seguir, os principais trechos da entrevista.

Nos últimos anos, o governo Lula investiu na expansão das universidades federais. Em vários câmpus há reclamações de falta de infraestrutura ou de professores. Qual é a análise do MEC dessa situação?

Em 2002, a universidade vivia um momento em que havia, em todas as instituições, greve ano sim, ano não, um calendário bagunçado e complicações na entrada dos alunos. Era essa realidade. Hoje não. Há um ciclo escolar inteiro não tem mais greve. O orçamento foi de R$ 9 bilhões para R$ 18 bilhões, sem os inativos. Quando cheguei à Secretaria de Ensino Superior (Sesu), em novembro de 2008, paguei uma conta atrasada de água da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) de R$ 26 milhões. Essa era a realidade. Não podemos perdê-la de vista. Estamos falando de outra realidade, de uma universidade revitalizada, que tem mais de 15 mil professores e técnicos e mais de 20 mil funcionários. Há problemas, claro, mas, no geral, as coisas estão indo bem. A universidade está sendo repaginada. Tudo o que falarmos deve partir desse quadro.

Mas não teria sido mais fácil se essa expansão fosse mais lenta?

Não, porque essas questões são pontuais. Na universidade pública, a dinâmica de reivindicações nunca para. Estamos reivindicando restaurante, alojamento, mas temos de lembrar que já temos mais de 600 prédios prontos, com laboratórios e equipamentos sofisticados, o que era uma coisa inimaginável há alguns anos. Há um tempo vieram reclamar que não tinha talher no restaurante de uma universidade. Isso chega perto do ridículo. Antes não existia nem programa de assistência estudantil. Hoje essa rubrica já está em R$ 300 milhões. A universidade resolveu suas carências, é protagonista no desenvolvimento. Assumiu outro papel. O problema do talher é ínfimo.

Qual é o orçamento da expansão?

No Reuni (programa de expansão das federais), a conta inicial era de R$ 2,4 bilhões de investimento, mas hoje fecha em R$ 3,5 bilhões. As novas federais têm, para 2010, R$ 1,1 bilhão.

Qual é a previsão de expansão daqui para frente? Existe a possibilidade de novas universidades?

Esse é um ano de edição do Plano Nacional de Educação e do estabelecimento dessas diretrizes para a década. Existe demanda porque o País não atingiu a meta para o ensino superior, que é colocar 30% dos jovens de 18 a 24 anos na universidade. O que está sendo feito agora é o descongelamento de uma demanda que já existia.

Mas devem ser criadas novas universidades?

Neste momento não há previsão. Só falta o Congresso aprovar a criação da Unilab (Universidade Federal da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, que será em Redenção, Ceará).

Na atual expansão, como foi feita a escolha dos locais? Em alguns casos, as instituições começaram com dez câmpus, caso da Unipampa (RS). Era preciso tudo isso?

A Unipampa tem um projeto multicâmpus. Como a expansão ficou congelada por muito tempo, haviam demandas históricas. Levamos três aspectos em conta: onde devem ser localizadas as universidades e seus câmpus, os Ifets (institutos federais tecnológicos) e os polos da UAB (Universidade Aberta do Brasil, com cursos a distância). A lógica é que as pequenas cidades tenham polos da UAB, as médias, unidades dos institutos e as maiores, unidades ou câmpus das federais.

Mas o número de vagas ociosas têm subido nas federais. O último censo apontou uma sobra de mais de 7 mil postos nos vestibulares, o que dá mais de 4% da oferta?

Haviam informações erradas. Na verdade, o número está em torno de 5 mil. No cenário do crescimento da educação superior é um dado pequeno, da ordem de 3%. E se tem tomado medidas efetivas para o pleno aproveitamento, como o Reuni. Outro instrumento importante será o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) combinado com o Sisu (Sistema de Seleção Unificada das Federais). O Sisu mostrou que houve uma divulgação de vagas até então desconhecidas. Algumas instituições, como a Recôncavo da Bahia, comemorou recordes de inscrições. O sistema é um grande difusor.

Domingo, 28 de Fevereiro de 2010