Edição de 2011 tem desafio de interromper sequência de falhas para dar credibilidade e ainda mais funções ao teste
Enquanto 5,4 milhões de candidatos serão avaliados pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o próprio teste também será colocado à prova a partir deste final de semana – e com ele a imagem do governo e principalmente do ministro Fernando Haddad, pré-candidato à eleição em São Paulo. Apesar de crescer ano a ano em inscrições e adesão de universidades, o concurso ainda tem credibilidade questionada por conta dos problemas ocorridos em 2009 e 2010.
Uma edição sem grandes erros pode tornar o Enem ainda maior. Atualmente, o exame já acumula as funções de certificador de ensino médio para quem comprova conhecimentos, selecionador de bolsistas do Prouni, requisito para concessão de financiamento público em instituições particulares, e substituto do processo seletivo em universidades de todo o País. Haddad quer mais.
No mês passado, após a divulgação dos resultados do exame de 2010, o ministro disse que, para evitar a comparação entre escolas com diferentes porcentuais de participação, o exame pode se tornar obrigatório. Todo estudante do ensino médio, interessado ou não no resultado, teria de fazê-lo para controle de qualidade do ensino na etapa que tem os piores indicadores do Brasil.
Neste caso, ele substituiria a Prova Brasil que existe desde 1995 e já é aplicada a todos os alunos do ensino fundamental desde 2005, sendo usada para compor o Índice da Educação Básica (Ideb). No ensino médio, no entanto, a prova continua sendo amostral e, por conta disso, não produz índices por escola.
Outra expectativa de Haddad é de que o exame “ainda nesta década” elimine os vestibulares tradicionais. Para o ministro o Enem é mais moderno e pode puxar uma atualização do ensino médio, que precisa de reforma de currículo. Para isso, o exame poderia também ganhar duas edições a partir do ano que vem para que universidades pudessem usá-lo no processo seletivo de meio de ano e universidades que precisassem dos dados com antecipação pudessem obtê-los a partir da primeira edição do ano.
USP e Unicamp não aderem
As duas universidades mais bem conceituadas no Brasil, Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Campinas (Unicamp) não usaram o Enem nos últimos anos por conta das falhas. Em 2009, ambas previam em seu edital que um porcentual da nota final poderia ser obtido com o resultado no Enem. No entanto, com o vazamento da prova e o adiamento do teste e do resultado, nenhuma delas pode usar os dados.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, e a presidenta do Inep em divulgação de resultados do Enem
No ano seguinte, a USP deixou de considerar o exame nacional. A Unicamp insistiu, porém, novamente erros levaram ao adiamento da divulgação do resultado e o vestibular seguiu sem a participação do Enem.
Para a edição deste ano, novamente a USP não considerará o Enem. O coordenador do grupo de trabalho que decidiu como seria o vestibular para ingresso em 2012, Mauro Bertotti, aponta dois problemas: tempo e credibilidade.
“O principal entrave é receber os dados a tempo, mas também seria preciso confiar no processo”, afirma. Segundo ele, a Fuvest não registra problemas de segurança em sua prova. “A gente precisaria ter certeza que não tem aluno tirando proveito de falha na segurança. Precisaria não haver dúvida quanto a nota.”
Sobre a ambição do ministro de eliminar o vestibular até 2020, ele discorda. “Neste caso, ele está achando que o Enem é melhor que a Fuvest, que tem segunda fase e uma série de fatores que nós achamos que são pertinentes para fazer a seleção de alunos que queremos.”
A Unicamp novamente prevê o uso do exame para compor a nota final em seu vestibular. Caso o MEC consiga divulgar os resultados até 30 de novembro, os candidatos poderão usá-la ainda para a primeira fase do processo seletivo. Depois disso, ainda será possível aproveitar a pontuação para compor a nota final até o dia 15 de janeiro.
O coordenador-executivo da Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest) da Unicamp, Maurício Klein, afirma que a expectativa maior é que o exame seja aproveitado na última data. “A gente não tem problema de confiabilidade em relação ao exame, o que acontece é que a aplicação para 5 milhões é trabalhosa, a logística é muito complicada. Mas a prova é boa e se os resultados estiverem disponíveis vamos usar”, diz.
Sobre a obrigatoriedade do exame, ele é mais receoso. “O primeiro passo é estabilizar a prova, realizar dois, três anos sem problemas para depois expandir. Acho que a obrigatoriedade do Enem é difícil implementar.”
Primeiro problema
Até esta quinta-feira, o único problema registrado na edição 2011 do Enem foi a emissão de cartões de confirmação para 1 mil candidatos com endereço errado para fazer a prova no Rio de Janeiro. O Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do governo responsável pela concurso, telefonou para todos os estudantes e avisou da mudança. Também foram enviados emails e sms aos 1.027 candidatos afetados.