O governo do Estado de São Paulo não parece dispor de prioridades definidas para a educação.
Anunciou nos últimos meses mudanças na grade curricular do ensino médio e na oferta de aulas de reforço para estudantes da rede pública. Incapaz de preencher as vagas para o corpo docente, autorizou a contratação de professores reprovados em teste de seleção.
A manutenção das escolas tampouco escapou. Uma parte da verba para reparos nos prédios sempre era entregue em janeiro. Neste ano, após dois meses de aulas, cerca de 5.000 colégios estaduais ainda aguardam os recursos.
Faltam professores. Falta manutenção. Falta também clareza sobre como aplicar uma injeção de qualidade no ensino deficiente. Tanto é que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) lançou um ambicioso programa de informatização das salas de aula na rede estadual, como se o problema principal fosse a falta de tecnologia.
Estima-se em R$ 5,5 bilhões o investimento a ser feito no projeto nos próximos dez anos. O montante equivale a mais que o quíntuplo do gasto -R$ 1 bilhão- orçado, neste ano, para reformas da infraestrutura já existente nas escolas.
Quadros-negros digitais, sensíveis ao toque e conectados à internet, devem ser instalados a partir de 2013. O material eletrônico para os alunos, como tablets e notebooks, seria distribuído a seguir.
O uso de métodos digitais em classe, estipulado em 40% do tempo de aula, teria como objetivo melhorar a qualidade do ensino em São Paulo. Assim alega o governo.
Ocorre que especialistas em educação já apontaram o baixo impacto de recursos tecnológicos na melhora do rendimento dos alunos. Domínio do conteúdo e conhecimento de técnicas para explicá-lo, por parte dos docentes, ainda são os recursos mais importantes.
Se professores e alunos da rede pública puderem contar com um moderno aparato tecnológico, tanto melhor. Não será esse equipamento, no entanto, o responsável pelo avanço de que a educação paulista tanto necessita.
A prioridade deve estar no treinamento e na contratação de professores competentes, no ensino de qualidade das disciplinas básicas, como português, matemática e ciências, e na atenção especial aos alunos com maior dificuldade de aprendizado.
Trata-se de lição tão simples que pode ser apresentada num velho quadro-negro, com giz. O Estado mais rico do Brasil, contudo, ainda não foi capaz de pô-la em prática.