Recomeçar a vida em outro país envolve muitos desafios, que vão desde o idioma até as diferenças culturais. Pensando nisso, a Universidade Federal do Paraná lança, nesta quarta-feira (13), a campanha “Recomeços são possíveis”, voltada para conscientização da comunidade acadêmica sobre o acolhimento de estudantes migrantes e refugiados.
Idealizada pelo Programa Política Migratória e Universidade Brasileira (PMUB), Núcleo Tandem, do Centro de Línguas e Interculturalidade (Celin), Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) e Superintendência de Comunicação (Sucom), a campanha aborda a prática de empatia e gentileza com os alunos que deixaram seus países para trás em busca de melhores condições de vida.
“’Recomeços são possíveis’ busca sensibilizar professores, servidores e estudantes para a importância do acolhimento e do olhar para o outro. É uma iniciativa de prevenção”, explica a coordenadora do PMUB, Tatyana Friedrich. “Sabemos que, em geral, os estudantes brasileiros são bem receptivos, mas a campanha de conscientização é importante e eficaz”.
A coordenadora do Núcleo Tandem do Celin, Norma Müller, afirma que a empatia é fundamental. “É necessário colocar-se no lugar do outro e compreender o quanto é difícil o processo de adaptação. Vamos ultrapassar todas as barreiras e lutar contra qualquer tipo de discriminação e preconceito”, diz.
Orientações
Ao receber um estudante migrante ou refugiado em sala de aula, a orientação é, em primeiro lugar, evitar o julgamento. “Não conhecemos a história que cada um carrega. Eles estão tentando reconstruir a vida longe de casa, isso é desafiador”, explica Norma.
Ainda de acordo com as orientações, quando o estudante demonstrar que precisa de ajuda, pergunte quais são as dificuldades e ofereça auxílio.
Caso presencie algum ato de discriminação, denuncie pelo e-mail acolhe.sipad@ufpr.br.
O haitiano Daniel Felice chegou ao Brasil em novembro de 2013 e, em 2015, ingressou no curso de Direito da UFPR. “Sem dúvida é uma grande oportunidade porque a UFPR é uma das melhores universidades do país”.
No último ano da graduação, o acadêmico conta que o acolhimento é um diferencial para a adaptação. “Fui muito bem recebido aqui e isso nos ajuda. O trabalho realizado pelo programa (PMUB) é incrível”.
Daniel pretende seguir carreira acadêmica ou diplomática e garante que vai retornar ao Haiti. “Ainda não sei em que momento, mas tenho certeza que voltarei para participar da mudança e progresso do meu país”.
A UFPR é membro da United Nations Academic Impact (Unai), rede de universidades da ONU e se compromete a manter e aprofundar sua atuação nas áreas-chave da rede, todas relacionadas às metas de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas.
Migrantes e refugiados
A Universidade Federal do Paraná recebeu, entre 2014 e 2018, 52 estudantes de diferentes nacionalidades na condição de migrantes com visto humanitário e refugiados.
Neste ano, 10 novos alunos ingressaram na UFPR pelo primeiro processo seletivo especial para migrantes e refugiados. Outros 29 estudantes, provenientes de oito países, foram selecionados pelo edital de reingresso – acesso a vagas remanescentes de cursos de graduação, voltado para migrantes, refugiados e pessoas com visto humanitário que já iniciaram cursos superiores em seus países de origem.
Programa Política Migratória e Universidade Brasileira
Composto por seis projetos, o PMUB atua, entre outras vertentes, na formulação e acompanhamento das políticas públicas de refúgio, migração e combate à apatridia, e nos processos de acolhimento e seleção de refugiados e migrantes na Universidade e na sociedade local.
O programa contempla os seguintes projetos: Português Brasileiro para Migração Humanitária (PBMIH); Refúgio, Migrações e Hospitalidade; Capacitação em Informática para Imigrantes; Migração e Processos de Subjetivação: Psicanálise e Política; Migrantes no Paraná. Preconceito, Integração e Capital de Mobilidade, e Oficina de História do Brasil para Estrangeiros.
Desde 2013, o PMUB realiza ações da Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM), do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).
Núcleo Tandem
O Núcleo Tandem (Celin) é considerado referência no acolhimento e atendimento aos estrangeiros na UFPR.
O trabalho no Tandem começa com um encontro guiado entre os dois estudantes que pretendem realizar a troca de línguas e culturas. A partir daí eles decidem quando e com que frequência querem se encontrar.
O Núcleo também organiza atividades culturais e presta serviço de informações para os estudantes.