Durante a entrega da Medalha Mendes Pimentel, que marcou o aniversário de 92 anos da UFMG e de 90 anos da Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump), a reitora Sandra Regina Goulart Almeida admitiu que, diante da situação crítica por que passam as universidades federais, chegou a pensar em não realizar a cerimônia. Mas decidiu manter a solenidade por causa de seu valor simbólico. “Reverenciar essas pessoas que nos inspiram é ato de altivez e resistência”, justificou a reitora.
A cerimônia, realizada no auditório da Reitoria na noite desta segunda-feira, dia 9, homenageou com a medalha os ex-reitores Jaime Arturo Ramírez, Clélio Campolina Diniz, Ronaldo Tadeu Pena, Ana Lúcia Gazzola, Francisco César de Sá Barreto e Tomaz Aroldo da Mota Santos, além dos professores José Israel Vargas e Roberto Assis Ferreira, Henrique Cláudio de Lima Vaz (padre Vaz) e Jorge Brovetto Cruz – os dois últimos in memoriam. Leia um breve currículo de cada homenageado.
Também foram homenageada figuras que contribuíram para o trabalho que a Fump desenvolve no campo da assistência estudantil: o professor Edgard Carvalho Silva (in memoriam), Incentivador das políticas de inclusão, ex-conselheiro e ex-padrinho da Fundação; Romeu Cardoso Guimarães, que em 2010 tornou-se o primeiro doador da bolsa apadrinhamento da Fump; professora Maria Carmen Fonseca Serpa Carvalho, aluna assistida nível 1 na década de 1980 e primeira madrinha da Fundação; Roque Almeida, investidor de startups, parceiro e padrinho da Fump; e o Instituto Bancorbrás, que apadrinha estudantes assistidos desde 2010.
Os 90 anos da Fump foram abordados em vídeo da TV UFMG exibido durante a cerimônia:
Homenageado principal
Mas o grande reverenciado da noite foi justamente o personagem que inspirou a homenagem: o jurista e professor Francisco Mendes Pimentel, primeiro reitor da Universidade. Um abrangente apanhado de sua trajetória foi apresentado pelo professor Hermes Vilchez Guerrero, diretor da Faculdade de Direito da UFMG. Segundo ele, Mendes Pimentel foi uma das figuras mais importantes do seu tempo, reconhecido por personalidades como os escritores Pedro Nava e Ciro dos Anjos e pelo poderoso jornalista Assis Chateaubriand. O último, lembrou Guerrero, escreveu certa vez que havia em Minas dois polos de poder: “O do Palácio da Liberdade, transitório, e o da Rua Paraíba [onde morava Mendes Pimentel], vitalício”.
Sandra Goulart: voz à aspiração da liberdade / Foca Lisboa / UFMG
A reitora Sandra Goulart Almeida destacou que Mendes Pimentel foi um defensor da universidade pública e inspirador da política de inclusão e assistência inaugurada pela UFMG muito antes da elaboração de uma política nacional. Na mesma linha, a presidente da Fump, Sandra Maria Gualberto Braga Bianchet, disse que foi o reitor Mendes Pimentel que lançou as bases da assistência estudantil da UFMG, por meio da Associação Universitária Mineira (AUM), criada apenas dois anos depois da fundação da então UMG. “Assim surgiu a assistência estudantil da UFMG há 90 anos, pautada já em seus primórdios em fundamentos de igualdade e de justiça social, de compromisso com a transparência, com respeito à alteridade e à dimensão ética cidadã”, afirmou.
O professor Francisco César de Sá Barreto, que discursou em nome dos homenageados, enalteceu outra faceta de Mendes Pimentel: a de homem comprometido com a democracia. “Coerente com a posição de signatário do Manifesto do Mineiros contra o regime ditatorial de Getúlio Vargas, ele recusou, mais tarde, convite para atuar como interventor em Minas Gerais”, lembrou Sá Barreto, reitor da UFMG de 1998 a 2002.
‘O que é bom nasce feito’
O ethos da UFMG, constituído por características que moldaram a instituição ao longo de seus mais de 90 anos, foi muito destacado durante a cerimônia. Sá Barreto, por exemplo, disse que o princípio da autonomia já era evocado pelo próprio Mendes Pimentel nos primórdios da UFMG. “Verificamos que o código da UFMG, constituído pelos princípios de vida nova, autonomia, democracia e dignidade está presente até hoje. Como já foi dito: ‘O que é bom já nasce feito’”.
Sá Barreto: código presente até os dias de hoje / Foca Lisboa / UFMG
Para a reitora Sandra Goulart, “Mendes Pimentel estaria certamente orgulhoso da Instituição que fundou e ajudou a construir”. Em sua opinião, a Universidade se caracteriza pela “grandeza e dignidade de se reconhecer como parte de um todo, da transcendência de um legado, que envolve milhares de pessoas que contribuíram para a construção do que hoje é a UFMG”. E prosseguiu: “Nesse quase um século de história, a UFMG nunca escolheu ficar do lado fácil ou cômodo. Altivamente, escolheu dar voz à aspiração de liberdade, igualdade e justiça pelas quais anseiam o povo de nosso país.
A própria assistência estudantil, na avaliação da presidente da Fump, Sandra Bianchet, reflete a coesão que caracteriza a cultura da Instituição. Em seu discurso, ela lembrou que o Programa Permanente de Moradia Universitária, instituído em 1997 pelo Conselho Universitário, durante o Reitorado do professor Tomaz Aroldo da Mota Santos, continua em vigor. “Desde então, todos os reitores e vice-reitores, sem exceção, têm investido na concretização desse projeto”, ressaltou ela. “Ou seja: ter moradias universitárias de alto padrão estrutural e especial cuidado com a saúde do estudante morador faz parte de um projeto perene de Universidade, não vinculado exclusivamente a um quadriênio”, acrescentou.
Sandra Bianchet: projeto perene / Foca Lisboa / UFMG
Dirigentes de outras universidades, como o reitor Sandro Amadeu Cerveira, da Universidade Federal de Alfenas (Ufal), e Cláudia Aparecida Marliére de Lima, da Universidade Federal de Ouro Preto, e o vice-prefeito de Belo Horizonte, Paulo Lamac, também prestigiaram a cerimônia. Claudia Marliére conclamou as universidades à resistência. “Somos patrimônio do país e parte de um projeto de nação”, afirmou. Paulo Lamac destacou suas ligações com a UFMG, da qual foi aluno e beneficiário de seus programas de assistência.
No encerramento, a reitora Sandra Goulart defendeu que, em momentos difíceis, como o atual, a Instituição precisa manter-se fiel aos seus princípios fundadores. “Cabe à Universidade persistir na geração conhecimento vivo. Cabe interpretar o mundo, desenvolver o pensamento cada vez mais crítico, formar cidadãos para esse exercício e para vida”. E reforçou que aquela cerimônia era um grito de protesto, um ato de resistência e uma demonstração de força, esperança e coesão. “Vamos juntos! E que venham os 93 anos da UFMG!”.