Para 2020, a proposta é ampliar o projeto, com a participação de 10 bolsistas. Ana Karoline Versiane, 21, é uma das voluntárias que adaptou o material para Carolina. “Foi uma experiência muito boa poder ajudar e conhecer as técnicas de musicografia em braille. Com certeza quero continuar este ano”, afirma. Ela é aluna de piano erudito na Escola de Música de Brasília e utilizou dos seus conhecimentos musicais para transcrever o conteúdo.
O grupo passou por um workshop de braille musical para realizar o trabalho de apoio. A revisora de textos em braille Carolina Pinheiro conta que o processo foi além da mera transcrição. “A partitura foi o começo. Tivemos que utilizar da nossa criatividade para adaptar o conteúdo de uma forma que atenda a necessidade da aluna. A cada transcrição, a gente imprimia e mostrava para a Carolina. Foi um trabalho em conjunto”, expõe.
Cada integrante ficou responsável por uma parte do conteúdo, tornando o processo mais dinâmico. Nas partes ilustrativas, o material contém imagens em alto-relevo para auxiliar a estudante na hora de entender o que está sendo passado na disciplina. Em outros momentos, o trabalho é descritivo, com o máximo de detalhes possíveis. Tudo é feito para melhor atender às necessidades da aluna. Para o projeto, foram utilizados softwares gratuitos desenvolvidos por universidades brasileiras: Braille Fácil, MusiBraille e Monet. A impressão do material é toda feita na instituição.
Carolina relata que faz muita diferença ter o material adaptado. “Consigo ter mais independência, sem precisar de uma outra pessoa para me auxiliar com os estudos”, diz a estudante, que sonha em ser professora de coral. Moradora de São Sebastião, ela se interessou pela música aos quatro anos de idade, quando teve seu primeiro contato com o piano. Aos 11, entrou para a Escola de Música de Brasília, onde iniciou os estudos para a sua formação. Em 2018, ingressou na UnB.
Uma das maiores dificuldades enfrentadas pela estudante foi a falta de acessibilidade. “A estrutura arquitetônica não é muito acessível. Antes, eu vinha com a minha mãe para conseguir me auxiliar na mobilidade. Agora consigo vir sozinha”, conta.
Durante o curso, a falta de visão não foi um empecilho, já que ela tem um bom ouvido musical. Mas os conteúdos teóricos exigiam uma demanda maior e ajuda externa. Agora, ela deseja ir além: quer aprender a partitura em tinta para poder dar aulas não apenas para pessoas com deficiências. “A música representa tudo para mim. É o meu sonho poder trabalhar com o que eu amo.”
Além do projeto Musicografia em Braille, a Universidade de Brasília conta com o Laboratório de Apoio às Pessoas com Deficiência Visual. O departamento, coordenado pela professora Sinara Zardo, atua com três pilares: educação especial (inclusão); curso de formação (para professores) e pesquisa. O trabalho visa atender à demanda de alunos com deficiência, conforme a necessidade de cada um. Entre os materiais produzidos pelo departamento estão o caractere ampliado (para alunos de baixa visão), as apostilas em formato digital acessível e os áudios com sintetizador de voz. Na avaliação de Sinara, a deficiência não pode ser algo que impeça o acesso das pessoas ao conhecimento. “Por isso é importante proporcionar a eles um material que permitam as mesmas oportunidades de acesso” ressalta.