A humanidade enfrenta neste momento, como é sabido, uma grave pandemia que dissemina o coronavírus (Covid-19) com abrangência em todos os continentes. O Brasil, particularmente, enfrenta o desafio de proteger sua população em meio a divergências políticas na esfera federal quanto aos métodos para esse enfrentamento. Em escala mundial, o distanciamento e o isolamento social mostram-se ações efetivas para se combater o avanço da pandemia, que alastra um vírus contra o qual o mundo ainda não dispõe de vacina e tratamento comprovado.
Nesse cenário, há um dilema que confronta medidas de combate à doença e as direcionadas à área econômica. Observa-se que todos os países têm optado por defender, primeiramente, a vida, a proteção social e, ao mesmo tempo, ações de planejamento para salvaguardar as atividades econômicas, os empregos e os salários.
Há um razoável entendimento global de que é preciso enfrentar as duas crises simultaneamente, com prioridade para a saúde.
O enfrentamento da Covid-19 vai depender da capacidade e da competência de cada país para enfrentar as duas crises s i m u l t a n e a m e n t e.
Vale observar que há um componente social na disseminação do vírus no Brasil. A doença chegou ao país por meio do transporte aeroviário, e a contaminação inicial se deu da classe média para cima, na escala social, em situação semelhante à da Itália.
Entretanto, a crise se acentuará se o vírus alcançar as classes populares. O descontrole sobre a pandemia será de difícil reversão. Isto porque o País tem elevada população de baixa renda que reside em comunidades com alto nível de adensamento urbano, e o agravamento do contágio, nesse caso, é tecnicamente e cientificamente comprovado.
Na sequência, tristemente, não haverá confinamento que diminua o ritmo de propagação do vírus, o que seria o caos. Este é um diferencial entre o Brasil, particularmente, e outros países emergentes, quando comparados com a Europa e Estados Unidos.
Aqui, diferentemente dos países ricos, há um grande contingente populacional que vive em espaços restritos, em casas contíguas, e que passam a ser extremamente vulneráveis.
Pessoas com subnutrição e doentes poderão não resistir. Esta reflexão torna-se necessária para o estabelecimento de políticas e ações adequadas à situação brasileira, para que possamos defender a vida, em primeiro lugar, mantendo o isolamento horizontal.
Não pode haver dilema entre a saúde e a economia. Ações pontuais e outras de maior abrangência, gradualmente podem mitigar e afastar definitivamente os efeitos sobre a economia, até que o País e o mundo se livrem do vírus mortal.
A sociedade tem participado ativamente e conscientemente no cumprimento das orientações sanitárias. A comunidade científica e os profissionais de saúde têm se mostrado mobilizados e comprometidos com as soluções, de modo a alcançarmos o caminho mais célere e eficiente para superarmos este difícil momento da nossa história.
REINALDO CENTODUCATTE é professor aposentado e ex-reitor da Ufes.
Fonte: ATRIBUNA VITÓRIA, ES, SEXTA-FEIRA, 17 DE ABRIL DE 2020