UFES – Semana do Conhecimento começa com conferência sobre o poder da ciência

O poder da ciência e o papel da educação superior no contexto social deram o tom da conferência de abertura da Semana do Conhecimento, ministrada pelo presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), ex-ministro da Educação, em 2015, e professor da Universidade de São Paulo (USP), Renato Ribeiro. A conferência aconteceu logo após a abertura oficial do evento realizada pelo reitor da Ufes, Paulo Vargas. Também participou da solenidade o gerente de Ciência, Tecnologia e Inovação da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação, Educação Profissional e Desenvolvimento Econômico (Sectides), Matheus Benincá.

Paulo Vargas deu as boas-vindas aos presentes, destacando a tradição institucional da Semana do Conhecimento que, neste ano, integra a Jornada Capixaba de Ciência e Inovação, organizada pela Secti/ES. Ele destacou a variedade de eventos que vão acontecer até a próxima sexta-feira, 3, como a Mostra de Profissões; a XXXI Jornada de Iniciação Científica, Inovação e Pós-Graduação; a IX Jornada de Extensão e Cultura, com o Painel Ufes de Cultura; e a Mostra de Ciências. A participação é gratuita e a maior parte da programação estará concentrada nos canais do YouTube da Ufes, da Pró-Reitoria de Extensão (Proex) e da TV Ufes.

O reitor afirmou que mesmo num cenário nacional adverso para a ciência, “continuamos resistindo e construindo ações propositivas”. Na sua avaliação, as valiosas contribuições dadas no enfrentamento à pandemia mostram que “as universidades mantêm elevado desempenho com respostas inovadoras e bastante concretas para atender às demandas da sociedade”.

“É esse sentimento de defesa da ciência e da universidade pública que nos impulsiona e nos leva a promover a Semana do Conhecimento na nossa Universidade, mesmo no formato virtual, mas que traz amplo potencial de participação e abrangência. Buscaremos compartilhar com a sociedade toda nossa experiência, além de informar nossa produção nas diversas áreas de conhecimento”, afirmou o reitor.

O gerente de Ciência, Tecnologia e Inovação da Sectides, Matheus Benincá, destacou que o Governo do Estado, por meio da Jornada Capixaba de Ciência e Inovação, quer fortalecer e disseminar a ciência na base capixaba. Segundo Benincá, o Governo objetiva juntar os esforços da academia, do setor empresarial e da sociedade organizada em prol do desenvolvimento do Espírito Santo. Ele defendeu a popularização da ciência para mostrar a sua relevância aos capixabas.

Ciência, vida e economia

O presidente da SBPC, Renato Ribeiro, abriu sua conferência destacando o momento difícil vivido no mundo, e particularmente no Brasil, devido à pandemia da covid-19 e ao ambiente conturbado no país. “O Brasil corre risco de perder 20% das suas exportações porque os compradores, sobretudo União Europeia e América do Norte, não querem adquirir produtos ligados a desmatamento ilegal”, lembrou ele. E acrescentou: “Não temos por parte do governo a percepção da importância da ciência, da educação, da cultura, do meio ambiente, da saúde e da tecnologia”.

“Ao mesmo tempo”, afirma o professor da USP, “essa situação difícil testa o poder da ciência. O que nós temos efetivamente de grande realização neste último ano? A salvação de vidas”, concluiu. Ribeiro lembrou que, apesar do número expressivo de mortos por covid-19 no Brasil – cinco vezes mais do que poderia ter sido, caso o governo federal tivesse adotado as medidas necessárias desde o início da pandemia –, na comparação com epidemias do passado, como a grande peste do século XIV e a gripe espanhola, graças à ciência a tragédia humana não foi maior. “A vacina foi encontrada em doze meses. No Reino Unido, em dezembro do ano passado já tínhamos vacina sendo aplicada”, lembrou o pesquisador.

Outra contribuição da ciência, sob a forma de tecnologia, para enfrentar a pandemia foi a internet. Ele citou a transferência do trabalho tradicional para o formato remoto, assim como do ensino, que passou a ser on-line em grande medida, e outros serviços prestados a distância. “Tudo isso são avanços que devemos à ciência. Imagine se todo trabalho tivesse se conservado presencial, não tivéssemos opção de reuniões, aulas e serviços prestados a distância, o colapso econômico teria sido maior e o número de mortos também teria sido sensivelmente maior. Então teríamos perdido na economia e na vida, o que também mostra que vida e economia não se contrapõem. Saúde e economia não são dois opostos entre os quais você tenha que fazer uma escolha, como vários negacionistas alegaram. Isso não faz parte do universo que a ciência concebe, que o conhecimento rigoroso valoriza”, afirmou.

Importância social

Além do valor da ciência, o professor destacou a importância que a Universidade tem na sociedade. Ele ressaltou, em primeiro lugar, a pós-graduação, que vive um momento delicado no Brasil. “Hoje é o dia em defesa da pós-graduação. Os cortes significativos de verbas prejudicam a pós-graduação no cumprimento do seu papel, que é justamente produzir ciência”, disse.

Sobre a graduação, o professor ressaltou que as cotas propiciaram um maior equilíbrio na educação pública superior, permitindo um acesso mais democrático num contexto de segregação social que vivemos no Brasil.

O professor também defendeu que os cursos de graduação sejam repensados para uma adequação às demandas cada vez mais variadas da sociedade em que o conhecimento é fator decisivo para o desenvolvimento pessoal, social e econômico. Na sua avaliação, a proliferação de cursos, a maioria privados, de Direito, por exemplo, não garante aos estudantes o acesso a uma formação de qualidade. Segundo o professor, o Brasil tem mais cursos de Direito do que todos os existentes em outros países do mundo somados.

Ainda sobre a graduação, o professor defendeu a responsabilidade social na formação dos estudantes, lembrando que não basta fazer dois anos de trabalho social após a formatura, mas levar para a vida a consciência do papel social que cabe a cada um desempenhar no exercício profissional.

A Semana do Conhecimento da Ufes de 2021 acontece de maneira remota e sua programação terá lives, oficinas, minicursos e vídeos de apresentação de projetos. Outras informações estão disponíveis no site scufes.org.