A invenção da USP e os mourões fincados

As universidades emanaram da experiência histórica da Idade Média europeia. Na linha do tempo, elas secularizaram o saber, ampliaram autonomia institucional, introduziram a independência científica e se fizeram modernas. O Brasil distanciou-se até de seus vizinhos na criação de universidades. Era perigosa uma ciência livre. Mas este ano a Universidade de São Paulo completa 80 anos de existência.

A criação da USP marcou o estabelecimento no Brasil da universidade em sua acepção moderna. Outras iniciativas com o intuito de estabelecer uma universidade no Brasil não vingaram ou sofreram interrupções. As visões conservadoras e centralizadoras prevalentes no seio do governo federal olhavam com desconfiança o estabelecimento de universidades cuja natureza demanda autonomia e independência. A Universidade do Distrito Federal foi criada em 1935 pelo município do Rio de Janeiro, que tinha Anísio Teixeira como secretário da Educação, mas foi encerrada quatro anos depois por decreto federal.

A criação da USP foi fato notável porque, com ela, veio o entendimento de que a universidade deveria ir além de simples reunião de escolas voltadas para o ensino de profissões que exigiam nível superior em sua forma tradicional, como era o direito, a medicina e a engenharia. O estado de São Paulo, com seus meios e mais capacidade de resistir a pressões federais, bancou a USP.

Com a criação da USP, estabeleceu-se a ideia de que a universidade deveria ser uma instituição capaz de fazer ciência, isto é, fazer pesquisa e atuar nas fronteiras do conhecimento. Isso não quer dizer que não houvesse pesquisa científica no país antes. A Academia Brasileira de Ciências, criada em 1916 sob a denominação de Sociedade Brasileira de Ciências, refletia a existência de estudiosos que se dedicavam à pesquisa científica. A esses pesquisadores, no entanto, faltava base institucional e ambiente em que a reflexão e os conhecimentos científicos pudessem ser cultivados por meio da pesquisa e do ensino de alto nível.

Nesse contexto, a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras foi passo essencial na criação da USP. A universidade, que congregara as grandes escolas já existentes (direito, politécnica, odontologia, farmácia e Esalq), continuaria dando formação profissional, mas haveria a pesquisa e a educação intelectual de alto nível. São bastante conhecidas as figuras que se tornaram notáveis cientistas e estiveram associadas à USP dos primeiros tempos como César Lattes, Leite Lopes, Crodowaldo Pavan e o italiano Gleb Wataghin. Nas ciências sociais, entre outras, são conhecidas as contribuições da Missão Francesa, em que se destacaram George Dumas, Roger Bastide, Paul Hugon, Fernand Braudel e, naturalmente, Claude Lévy-Strauss.

Ao longo de oito décadas, além de servir de modelo e de inspiração ao estabelecimento de outras universidades no Brasil, foram inúmeras as contribuições da USP ao país e à ciência brasileira. Nesta pequena crônica, gostaríamos de destacar uma delas que bem retrata o espírito pioneiro da instituição. Trata-se da criação, em 1966, do Centro de Estudos Africanos (CEA), fundado pelo sociólogo Fernando Augusto Albuquerque Mourão, ou simplesmente Fernando Mourão, como se tornou conhecido nos dois lados do Atlântico.

O velho Mourão foi homenageado nesses meses por seminário organizado por seus ex-alunos e colegas, vindos da África e de todo o mundo. Deve-se ao CEA, nos tempos de Mourão, a introdução de estudos e pesquisas inéditas acerca de outra África que se desenhava, no xadrez das descolonizações. Mourão trouxe os primeiros intelectuais africanos ao Brasil, como Kabenguele Munanga, que segue na USP, como um dos pioneiros estudos da nova África.

Desejamos, no ano de júbilo, reforçar o exemplo da USP. Avançou a USP, está no mundo, como uma das melhores universidades da América Latina e algum peso global. Infelizmente há contraponto contextual quando comparada com as congêneres brasileiras. Persistem as travas do sistema federal que vem transformando universidades públicas respeitadas, como a UnB, em repartições públicas, obedientes às burocracias centralizadas, engessando cientistas nas aulinhas sem graça, modestas em interesse pela ruptura do conhecimento.

Ressalve-se, claro, o peso dos melhores cursos de pós-graduação. Aí ainda há resistência autonomista e conexão com as redes mundiais da ciência. Ainda há tempo para reinventarmos outras universidades no conceito autônomo e independente da concepção original da USP, a permitir que outros mourões possam ser fincados. Parece tarefa urgente para novo projeto de inserção soberana do Brasil no mundo.

JOSÉ FLÁVIO SOMBRA SARAIVA

PhD pela Universidade de Bimingham, Inglaterra, é professor titular da UnB

EIITI SATO

Doutor pela USP, é diretor do Instituto de Relações Internacionais da UnB

 

Publicação Correio Braziliense 

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