Alunos envolvidos em fraude na Unirio somem

Eles não comparecem para depor em comissão de sindicância, e caberá à PF intimá-los; diretor suspeita de quadrilha

Os cinco estudantes matriculados irregularmente na Escola de Medicina e Cirurgia (EMC) da Unirio não compareceram ontem para prestar esclarecimentos na comissão de sindicância instaurada pela universidade para apurar o que a própria instituição define como fraude. O diretor do Instituto Biomédico da Unirio, Antônio Brisolla Diuna, que preside a comissão, informou que, agora, cabe à Polícia Federal chamá-los para depor. Ele não descarta a hipótese de haver uma quadrilha por trás das irregularidades.

– Estamos apurando como esses alunos ingressaram no campus e a quem da universidade se pode atribuir essa ilicitude. Pode haver uma quadrilha envolvida nisso e nós não sabemos. Os alunos foram convocados duas vezes, mas não apareceram. Se não pudermos ouvi-los normalmente, eles serão ouvidos pela Polícia Federal, que irá correr atrás disso – disse o presidente da comissão.

Na segunda-feira, O GLOBO mostrou que os cinco alunos foram matriculados na faculdade com números de inscrição cancelados em 2011. Ontem, o Ministério Público Federal instaurou um inquérito civil público para apurar os fatos e avaliar quais foram as medidas adotadas pela universidade até o momento. O MPF também quer saber o que a Unirio vai fazer para evitar novas ocorrências e se houve algum ato de improbidade administrativa por parte de servidores públicos. Hoje, o órgão vai enviar ofícios à PF e à Unirio para obter informações.

Desde que a fraude veio à tona, a Unirio não conseguiu contato com os alunos envolvidos. Eles estavam matriculados, apesar de não terem sido aprovados no Exame Nacional do Ensino o Médio (Enem). Suspeita-se de compra de vagas. O reitor Luiz Pedro San Gil Jutuca acha que os dados deixados por eles na matrícula podem ser falsos:

– Não conseguimos contato por telefone. Mandamos telegramas para os endereços que constam do nosso sistema, mas esses endereços, provavelmente, também não são deles. Esses estudantes deveriam estar cientes da irregularidade que estavam cometendo e tiveram essa atitude.

Ontem, o presidente da comissão de sindicância ouviu mais dois servidores, mas não quis revelar em qual setor os funcionários trabalham.

– Seria interessante ouvir esses estudantes e saber como vieram parar aqui. Naturalmente, eles podem apontar algum possível responsável pela presença deles indevida na nossa universidade. Se não comparecerem, vamos tratar disso à revelia – acrescentou Diuna.

Reitor prestigia cerimônia pelos 100 anos da EMC
Hoje, o Ministério da Educação (MEC) espera receber da Unirio um relatório preliminar sobre a fraude. No entanto, Diuna afirmou que caberá ao reitor decidir sobre isso, pois o prazo de conclusão dos trabalhos é de 30 dias. Jutuca viajou a Brasília ontem após participar das cerimônias de comemoração pelo centenário da EMC. Entre os homenageados estavam integrantes da comissão de matrícula da escola.

De acordo com a Unirio, a viagem não tem qualquer relação com a apuração da fraude. Segundo o MEC, não há agenda prevista do reitor com o ministro da Educação, Aloisio Mercadante, nem com algum de seus secretários.

Pais de estudantes que participaram das duas últimas edições do Enem e que estavam na lista de espera para entrar na Unirio procuraram O GLOBO para informar que a universidade já tinha conhecimento sobre o problema com as vagas ociosas, que seriam destinadas à transferência externa e podem ter relação com a fraude.

Segundo as listas públicas de aprovados e reclassificados para Medicina em 2011, quatro vagas não foram preenchidas no segundo semestre. Apesar de O GLOBO ter pedido esses documentos à Unirio há uma semana, a universidade não os disponibilizou, e o jornal só teve acesso às listas com ajuda da mãe de um candidato.

Em email enviado ao reitor em agosto de 2011, Sérgio Sá, pai de um dos candidatos, questionou o destino das vagas ociosas, mas não obteve respostas.

– É justo disponibilizar tais vagas para transferência de alunos egressos de estabelecimentos de ensino privados, uma vez que tais alunos têm rendimento no Enem inferior a muitos dos alunos que ficaram muito próximo à classificação pelo processo seletivo normal? – indagou Sérgio.
Colaborou: Rodrigo Gomes