Aplicação do Enem foi “satisfatória”, afirma ministro

Fernando Haddad diz que houve "poucos incidentes", apesar de gabarito errado, abstenção recorde e queixas sobre logística.

Para ele, o Inep, o órgão responsável, sofreu trauma com o vazamento da prova de outubro, o que afeta o desempenho dos servidores.

O ministro da Educação, Fernando Haddad, considerou "satisfatória" a aplicação do Enem, realizado no fim de semana, apesar da divulgação de gabarito errado, da abstenção recorde e das reclamações sobre a logística -locais de prova distantes e portões fechados antes do horário.

O exame avalia a qualidade de alunos e escolas do ensino médio e, a partir deste ano, serve como seleção de calouros para universidades federais. "Refizemos todos os procedimentos em 50 dias. Às vezes as pessoas se esquecem da dimensão de uma prova para 2,6 milhões de alunos. Tudo funcionou de forma satisfatória, com poucos incidentes", disse Haddad à Folha, lembrando o vazamento do exame há dois meses.

O gabarito errado entrou no site oficial do Enem na noite de domingo. Retirado, voltou ontem à tarde, corrigido. Já a abstenção chegou a quase 40%, a maior nos 11 anos de exame.
Abaixo, a entrevista concedida ontem, dia em que o Ministério Público Federal denunciou cinco pessoas pelo vazamento da prova.
 
FOLHA – Como o sr. avalia o exame?
FERNANDO HADDAD – A logística montada nos últimos 50 dias foi bem-sucedida. Não era só realizar o plano original. A Polícia Federal mapeou todo o processo, para que houvesse mais segurança. Tudo funcionou de forma satisfatória, com pequenos incidentes.

FOLHA – Mas e o gabarito errado, a abstenção recorde, a reclamação na entrada dos alunos…
HADDAD – Sobre a abstenção, me informaram que a média nos exames neste ano tem sido de 33%. Excluindo São Paulo, a média ficaria perto disso. No Estado, após o adiamento da divulgação dos resultados, inviabilizou-se o uso do Enem em universidades importantes, desmotivando alunos. Sobre o gabarito, o embaralhamento de questões para fazer as quatro versões de provas foi feito de forma desordenada.

FOLHA – Professores dizem que o Enem foi "uma bagunça geral".
HADDAD – O Inep [órgão responsável pelo Enem] sofreu um trauma com o furto, que persiste e afeta o desempenho dos servidores.

FOLHA – Haverá mudanças no Inep?
HADDAD – Com todo o cuidado, estamos reestruturando, mudando alguns servidores para que possam render mais.

FOLHA – O MEC errou na fiscalização do consórcio à época do vazamento [o governo diz que um erro de procedimento da Connasel causou o problema]?
HADDAD – O Inep acompanha na medida das suas possibilidades, que são limitadas. O Inep realizou quase que simultaneamente três megacontratos: Prova Brasil [exame de educação básica], Enade [universidades] e Enem. O que vai dizer se houve negligência da parte de algum dirigente ou servidor é a auditoria que foi aberta, que só aguarda o recebimento do inquérito da Polícia Federal.

Fábio Takahashi – Folha de São Paulo, 08/12