As universidades na construção de uma nova agenda para o desenvolvimento

Novas esperanças de recuperação da nossa economia começam a surgir, trazendo a possibilidade de construção de uma agenda positiva que assegure a retomada do crescimento do setor produtivo.
Certamente, é mais do que tempo de promover o engajamento de nossas instituições de educação superior nessa agenda, articulando projetos de desenvolvimento regional com as propostas de desenvolvimento cientifico das universidades.
Inicialmente, é importante mencionar que mais de 95% de nossas empresas estão inseridas na categoria das micro e pequenas empresas, responsáveis por mais de 60% dos postos de trabalho, 42% da massa salarial e 25% da contribuição ao PIB nacional.
Além disso, elas participam fortemente do desenvolvimento regional, de formas diferentes, fruto da grande diversidade verificada em nosso país. Também se apresentam com níveis distintos de maturidade tecnológica, que exigem ações bastante diferentes, no intuito de agregar valor aos seus produtos e processos e de adquirir vantagem competitiva.
De um modo geral, as empresas podem ser agrupadas em quatro níveis distintos de maturidade.
No grupo I encontram-se aquelas carentes de informações técnicas, onde o valor agregado aos produtos depende apenas da disseminação e da difusão de conhecimentos disponíveis.
No II, enquadram-se as empresas que buscam soluções para os problemas de normalização, da avaliação de conformidade de seus produtos e dos benefícios da extensão tecnológica, que permitem utilizar os conhecimentos disponíveis nas universidades e institutos de pesquisa na produção ou na prestação de serviços pelas empresas.
No terceiro grupo (III), encontram-se as que, para agregar valor aos seus produtos, necessitam introduzir as inovações incrementais, conceito estabelecido por Schumpeter, notável economista do século XX. A inovação incremental é aquela em que os produtos ou processos incorporam alguns novos elementos em relação aos anteriores, sem que neles sejam introduzidas modificações básicas. Na maioria das vezes, ela não resulta da pesquisa, mas de melhorias introduzidas por engenheiros ou técnicos.
O último grupo (IV) é o das empresas que, para o incremento da competitividade, exigem inovações radicais. Estas são caracterizadas por uma ruptura completa com os produtos e processos existentes, para satisfação de uma dada necessidade, ou pela criação de uma nova necessidade até então inexistente, por vezes ainda latente. Muitas vezes, elas surgem nos institutos de pesquisa e nas universidades.
A diversidade mencionada acima impõe tratamentos desiguais para cada tipo de empresa. Este é um grande desafio e uma notável oportunidade para o envolvimento de todas as instituições de ensino superior no processo de reconstrução de nossa economia. É sabido que muitas ainda não conseguiram construir políticas de desenvolvimento científico compatíveis com as respectivas dimensões, vocações e peculiaridades.
Também é consenso que não se constroem culturas desse tipo “por decreto”.
É claro que aquelas com elevada produção científica e com um bom quantitativo de artigos publicados em revistas reconhecidas, são as mais indicadas para contribuir com as empresas dos grupos III e IV. Entretanto, poderemos incluir as instituições ainda sem tradição de pesquisa no apoio às empresas dos grupos I, II e III, incrementando a competitividade dessas últimas.
E quanto ao financiamento? Ele virá dos bancos de desenvolvimento, das Fundações de Amparo à Pesquisa e das próprias empresas e das suas federações.
Tudo isto objetivando um programa de articulação de ofertas e demandas de conhecimento, tecnologia e inovação, como parte de um projeto de nação consistente e capaz de incrementar a competitividade do nosso país.

Paulo Alcantara Gomes, ex-reitor da UFRJ e ex-presidente do SEBRAE/RJ

Fonte: O Globo