Avaliando nossas universidades, artigo de Wanderley de Souza

"Não existe processo de avaliação perfeito ou imune a críticas. O tema é complexo, são múltiplos os fatores relacionados com a qualidade de uma instituição e é sempre possível seu aperfeiçoamento"

A vida universitária pressupõe, obrigatoriamente, a convivência permanente com o processo de avaliação. De forma continuada, os alunos estão sempre sendo avaliados. De forma menos freqüente, os professores são também avaliados quanto ao seu desempenho docente.
 
A atividade do docente como pesquisador é avaliada com certa freqüência pelo desempenho dos seus alunos no momento de defender uma tese, pela resposta da revistas especializadas quando submete um artigo para publicação ou pelo sucesso em conseguir recursos financeiros junto às agências de fomento para dar continuidade aos projetos de pesquisa que coordena ou conseguir uma bolsa que complemente seu salário.
 
Os cursos de pós-graduação, cada vez mais importantes na consolidação do conceito nacional e internacional de uma instituição universitária, são avaliados de forma continuada e com exigências crescentes, pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), fundação vinculada ao Ministério da Educação (MEC).
 
É salutar observarmos que vai surgindo no Brasil o processo de avaliação das universidades públicas e privadas. Certamente, avaliar uma instituição mais complexa é mais difícil. Por mais critérios que se utilizem sempre vão surgir críticas, sendo que algumas são procedentes. A análise continuada dos processos de avaliação em curso é necessária para que o sistema possa ser aperfeiçoado. Por outro lado, é também importante levar em consideração alguns parâmetros subjetivos, facilmente compreendidos por especialistas das mais diferentes áreas do conhecimento.
 
O Instituto Nacional de Pesquisas em Educação (Inep), órgão vinculado do MEC, acaba de publicar os resultados de uma avaliação do sistema universitário brasileiro baseado em um indicador, conhecido como Índice Geral de Cursos (IGC), que leva em consideração fatores tais como o desempenho dos alunos universitários em provas que fazem parte do Enade, a qualificação do corpo docente baseado no percentual daqueles com doutorado, a existência de cursos de pós-graduação e seus respectivos conceitos na Capes.
 
Os dados publicados deixam claro alguns pontos. Primeiro, o predomínio absoluto das instituições públicas, com a recorrente exceção da PUC-Rio e PUC-São Paulo, ocupando as primeiras posições. Surpreende que a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro já ocupe a 14ª posição no ranking nacional, sendo a primeira entre as universidades públicas estaduais, superando outras mais antigas e mais tradicionais. Este dado atesta o acerto no seu planejamento quando colocou a atividade de pesquisa como eixo central a partir do qual a atividade de ensino é exercida. Cabe aqui, a ressalva de que a USP e a Unicamp, que certamente estão entre as primeiras, não participaram do processo de avaliação.
 
Segundo, merece destaque um conjunto de instituições isoladas instaladas no estado do Rio de Janeiro, que obtiveram notas cinco e quatro. Entre elas estão: o tradicional Instituto Militar de Engenharia, as Escolas ligadas à Fundação Getúlio Vargas e o Instituto Superior de Tecnologia em Ciências da Computação, jovem instituição que pertence à Fundação de Apoio à Escola Técnica.
 
Como sempre, logo após o anúncio dos resultados obtidos em qualquer processo de avaliação, surgem as críticas e até mesmo os protestos. Neste contexto, faço apenas dois comentários. Primeiro, não existe processo de avaliação perfeito ou imune a críticas. O tema é complexo, são múltiplos os fatores relacionados com a qualidade de uma instituição e é sempre possível seu aperfeiçoamento. Segundo, o importante é analisar os fatores que levaram cada instituição a obter os pontos indicados e definir um planejamento de curto e médio prazos visando superar as deficiências detectadas.

Wanderley de Souza é professor titular da UFRJ e diretor de Programas do Inmetro. Foi secretário executivo do MCT e secretário de Estado de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.
(Monitor Mercantil, 29/9)