Bolsistas de pós ficam sem receber desde janeiro

Atraso atinge alguns bolsistas da Capes, vinculada ao Ministério da Educação

Cientistas se mobilizam pelo pagamento em redes sociais; governo diz que situação será normalizada em breve

DE SÃO PAULO
A principal agência que financia bolsas de pós-graduação no país está atrasando o pagamento de pesquisadores de universidades federais.

A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), vinculada ao Ministério da Educação, não fez os depósitos relativos ao mês de janeiro de alguns estudantes.

O problema está no repasse dos recursos da Capes às universidades federais do programa Reuni (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais).

O órgão admitiu o problema, mas não detalhou quantos foram afetados. Por meio de sua assessoria, informou que o pagamento estava condicionado à publicação de uma portaria conjunta da Capes e da Sesu (Secretaria de Ensino Superior), do MEC.

Embora o documento (Portaria Conjunta Número 23) tenha saído no Diário Oficial do dia 17 de fevereiro, os bolsistas ouvidos pela Folha dizem que ainda não receberam.

Os estudantes, que na maioria das vezes têm dedicação exclusiva à pesquisa, dizem estar sofrendo para pagar as próprias contas.

“Em 2011 tivemos o mesmo problema. Os bolsistas ficaram três meses sem receber os pagamentos. Estamos apreensivos e com medo de que isso se repita”, diz a bióloga Juliana Carlota Kramer Soares, que faz pós-doutorado na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

A mulher de um bolsista também da Unifesp relata que, entre os afetados, ninguém sabe muito o que fazer.

Os atrasos em pagamentos da Capes são assunto recorrente nos corredores acadêmicos há alguns anos.

“Quando meu marido fez doutorado no exterior, a Capes atrasou em três meses o pagamento. Nós só não passamos necessidades porque, já conhecendo os problemas, fomos prevenidos”, disse ela.

Em 2004, a ANPG (Associação Nacional de Pós-Graduandos) já havia publicado uma nota sobre os atrasos. Em 2010, a mesma associação se reuniu com a Capes para discutir formas de evitar os atrasos nos depósitos.

Sem saber o que fazer, os “sem bolsa” têm se mobilizado nas redes sociais, especialmente no Twitter, onde não faltam relatos de problemas.

Hoje, a Capes tem 71.957 bolsistas de pós-graduação e também é responsável pela avaliação dos programas de pós-graduação.

Procurada pela reportagem, a Capes informou que, em atrasos anteriores, a culpa muitas vezes foi dos bolsistas, que não preencheram direito seus dados cadastrais e outras informações.