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A indústria de petróleo brasileira é uma extraordinária história de sucesso. De um início marcado por grandes esperanças e muitas dúvidas a uma posição de vanguarda e liderança tecnológica no mundo.

A conquista pela Petrobras, este ano pela terceira vez, do prêmio da Offshore Technology Conference –o Oscar do setor petróleo– confirma o Brasil como um dos principais polos de desenvolvimento e irradiação de novas tecnologias “offshore”.

À admirável capacitação tecnológica desenvolvida no país nas últimas décadas, soma-se agora o fabuloso potencial exploratório da província do pré-sal.

Pela dimensão do pré-sal –dezenas de bilhões de barris já descobertos e ainda a descobrir– e o desafio de tornar seu desenvolvimento ainda mais econômico e seguro, o Brasil é o país que mais irá demandar, e mais oportunidades tem a oferecer para o surgimento de novas ideias e tecnologias “offshore”.

Escala, horizontes de longo prazo, demandas de alto valor agregado, essa é a combinação ideal para o desenvolvimento de uma indústria local de bens e serviços. Esse é o objetivo estratégico de todo país abençoado pela abundância de recursos naturais, para assim multiplicar a geração de empregos e benefícios para a sociedade.

No entanto, a construção de uma indústria local sólida e sustentável, como o fez a Noruega, não é tarefa trivial. Muitos são os exemplos de fracassos, apesar das melhores intenções e pesados investimentos em subsídios e barreiras de entrada.

A presença de uma diversificada oferta de bens e serviços locais é também o sonho das empresas operadoras de petróleo. Essa é, por exemplo, uma das principais razões do extraordinário desenvolvimento recente do petróleo e gás não convencional nos EUA que revolucionou o mercado de energia global.

A indústria “offshore” brasileira vem se desenvolvendo desde a década de 70, a partir da descoberta da bacia de Campos, e resultados expressivos já foram atingidos.

Destaco as indústrias de equipamentos e serviços submarinos, complexas e de alta tecnologia, que atendem, de forma competitiva, à grande demanda local. Mas é preciso, e possível, avançar, ir além.

Atender a outros mercados a partir da forte plataforma de produção no Brasil, competir internacionalmente e capturar o potencial dos investimentos que aqui estão sendo realizados, tornando-os capazes de enfrentar variações de demanda local, como a que vemos hoje.

Para tanto é preciso um esforço conjunto –governo e indústria– e o aperfeiçoamento contínuo das políticas de conteúdo local, tornando-as melhor capazes de responder aos desafios atuais e futuros.

O IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) tem o conteúdo local no alto de sua agenda prioritária e o benefício da ampla experiência de suas empresas associadas no Brasil e no exterior.
Divulgamos recentemente o trabalho feito pela consultoria Bain & Company com sugestões para o desenvolvimento sustentável da indústria local de bens e serviços para o setor de óleo e gás.

São ideias simples e razoáveis, como focar em segmentos de maior valor socioeconômico e nos quais o Brasil possua vantagens comparativas –afinal, nenhum país é capaz de produzir tudo o que necessita–, a simplificar procedimentos de controle e fomentar por meio de incentivos, em vez de aplicar penalidades que afugentam investimentos.

Nós, da indústria do petróleo, estamos plenamente convencidos de que se daqui a 10, 20, 30 anos, mesmo que tenhamos desenvolvido o pré-sal de forma eficiente, rentável, limpa e segura, se não tivermos aproveitado a excepcional oportunidade que hoje se apresenta para também edificar uma indústria local de bens e serviços forte e competitiva, não teremos cumprido plenamente a nossa missão.

JORGE CAMARGO, 61, é presidente do IBP – Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás e Biocombustíveis
Folha De S. Paulo